O ano de 1977 foi marcante para a atriz Elizabeth Mendes de Oliveira. Nesta época, a santista teve sua profissão de artista regulamentada e pisou pela primeira vez em uma instituição de ensino particular, a PUC-Rio. A faculdade representou a volta de um sonho aprisionado na ditadura: dar continuidade aos estudos acadêmicos. Bete Mendes já havia se formado em artes cênicas, pela USP, e viu-se obrigada a interromper a segunda graduação, em sociologia, ao ser presa em 1970 por lutar contra o regime militar.
Embora se considerasse “velha demais”, a angústia e a inquietação de ter interrompido os estudos devolveram a atriz às salas de aula. Convidada para atuar na Globo, trocou São Paulo pelo Rio e aproveitou a proximidade do trabalho com a universidade para concretizar o antigo sonho. Segundo ela, “mais do que uma lembrança física, os pilotis da PUC trazem um conceito histórico”. Tudo teria acontecido neles. Desde os papos e encontros casuais até os movimentos organizados da sociedade.
O clima juvenil não a afastou da militância política. Considerava-se “a tia de todo mundo”, mas o fato de já ser uma atriz reconhecida não atrapalhou a relação com os “novos companheiros de trabalho”. A vergonha inicial deu lugar à "vivência plena e a troca de experiências".
– Eu entrei meio sem jeito na turma e os meninos me receberam muito bem. Começaram a se aproximar, e aí fui ficando à vontade. A gente construiu uma amizade muito legal, porque me integrei ao ambiente estudantil de novo. Eu me senti uma estudante, não uma atriz fazendo um curso.
Das experiências colhidas na universidade, Bete extraiu parte da bagagem aplicada na rotina da televisão e nas atividades políticas – às quais ela passou a dedicar-se exclusivamente a partir de 1979. Uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores, chegou ao Congresso em 1983, como deputada federal.
– Vivi mesmo a realidade do estudante. Eu me reunia com os amigos para estudar, comia no bandejão, rachávamos lanches – lembra.
Se a rotina universitária ficou para trás, a militância política e o trabalho como atriz continuaram acelerados. Bete Mendes foi secretária estadual de Cultura em São Paulo, de 1987 a 1988, e presidiu a Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro, Funarj, em 1999.
Como integrante da comitiva oficial do então presidente José Sarney ao Uruguai, em agosto de 1985, Bete encontraria com o seu torturador durante a prisão. O então adido militar da embaixada brasileira no país, Carlos Alberto Brilhante Ustra, foi reconhecido pela atriz. O episódio ganhou repercussão no Brasil.
Mesmo com as interrupções forçadas, os holofotes nunca se apagaram para a atriz. Bete conta mais de 30 novelas e é a protagonista do novo filme de Tizuka Yamazaki, Aparecida a força da fé. O ritmo de trabalho intenso não impede que a “tia” retorne à antiga casa. Na última visita à PUC, ela lembrou sua atuação política em palestra sobre o Dia Mundial dos Direitos Humanos.
– [A PUC] É referência sempre presente. Como se fosse tipo: “Vamos à PUC? Vamos.”
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