Evandro Lima Rodrigues - Do Portal
17/09/2010Ao comentar aspectos da arte de representar, o diretor de teatro Amir Haddad cunhou: “ator sem papel, teatro sem arquitetura, dramaturgia sem literatura”. Se ao comentário, tomado por negações, pudesse ser acrescido mais um aspecto, a jornalista e fotógrafa Cláudia Versiani, professora de comunicação da PUC-Rio, parafrasearia: “fotografia sem técnica”. Partindo desse propósisto de despreocupação com formas padronizadas, nasceu o garimpo do universo ficcional de Haddad. Por cinco meses, as lentes de Cláudia registraram a montagem de Bodas de sangue, desde a preparação do elenco até a encenação. O resultado desdobrou-se nas 24 fotos selecionadas para o livro "Bodas de Sangue: a construção e o espetáculo de Amir Haddad" (Booklink, R$ 50), que será lançado neste sábado, 18 de setembro, às 18h30, no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico.
O clique informal que acompanhou a produção tinha um alvo: “registrar a dança, as cores a beleza e o movimento do trabalho original de Haddad”. Segundo Cláudia, a missão foi facilitada pela maneira "nada convencional" com que o diretor trabalha. Desde intensos exercícios corporais até a liberdade de movimentação em cena, Haddad consegue fazer com que o ator “alargue seus horizontes e vença seus limites”.
– Acho espantoso como uma atriz consegue chorar e se transmutar num personagem todos os dias – observa a jornalista.
Essa sensibilidade diária agora se eterniza pela captação não menos sensível de Cláudia – como se vê na foto das atrizes Catarina Abdalla e Letícia Spiller, acompanhada de um pensamento de Haddad: "moralismo leva a tragédia". A cada imagem do álbum transformado
– Fiquei encantado – comenta.
Baseada no original do dramaturgo espanhol Frederico Garcia Lorca, Bodas de sangue conta a história de um triângulo amoroso num ambiente rural. A possibilidade do irreal é explorada quando a lua e a morte ganham vida e participam da trama. Na visão de Haddad, este universo ficcional trazido para o teatro explora cores e movimentos.
Sem compromisso formal com a nitidez, as imagens retratam o ambiente livre característico do espetáculo. Mais do que isso, a concepção de Cláudia “eternizou o movimento sem imobilizá-lo”, sintetiza o diretor.
No lançamento do livro, Amir Haddad e o elenco vão apresentar músicas e danças do espetáculo, com a participação do público. Quem comprar o livro receberá dois ingressos para assistir, em seguida, à nova montagem do diretor, em cartaz no local: Escola de Molières, coletânea de cenas de peças de um dos maiores ícones do teatro ocidental, Molière.
Nascida em Belo Horizonte, Cláudia Versiani mudou-se para o Rio de Janeiro em 1970. Cursou ciências sociais e chegou a trabalhar na profissão, mas "queria mesmo ser cantora e compositora". Fez shows e gravou três discos. Sua versão da música O velho arvoredo, de Paulinho Pinheiro e Hélio Delmiro, foi trilha da novela Anjo Mau, da TV Globo, em 1976. Participou de três peças, dois filmes e duas fotonovelas.
A carreira de jornalista iniciou-se na coluna Dicas, do extinto jornal Pasquim. Cláudia tornou-se fotógrafa por acaso: como freelancer, viajou pelo mundo durante 15 anos para escrever reportagens e tirar fotografias. Foi também editora de turismo de jornais do Rio e de Brasília. A Maison de France apresentou uma exposição individual das imagens que compuseram o diário da viagem que Cláudia fez a Paris. A paixão pela fotografia e pelo jornalismo, divide espaço com a rotina de professora do Departamento de Comunicação da PUC-Rio.