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Rio de Janeiro, 6 de maio de 2024


País

Jovens pobres no centro do flagelo da violência urbana

Mayara Feijó - Da sala de aula

31/08/2010

Douglas Shineidr/Flickr

Preconceito, discriminação e invisibilidade social. A juventude pobre que reside nas favelas sofre com o estigma de “criminosa”. Classes sociais estruturadas e inseridas no mercado formal são preconceituosas ao rotularem estes jovens. A pobreza não é explicação para a violência urbana. Pelo contrário: os pobres são as maiores vítimas.

Em grande parte dos casos, a entrada na criminalidade é motivada pela revolta dos jovens menos favorecidos. Os fatores citados – preconceito, discriminação e invisibilidade – reforçam a rebeldia. O crime dá poder de voz a quem até então era “invisível”. Há uma nova agência de socialização que adota os adolescentes: o tráfico de drogas ilícitas. Processos ritualísticos, como os batismos de fogo, a emoção e o risco caracterizam a função que essa juventude passa a ter na sociedade: inverter normas e ignorar leis. Nesse momento, a população, antes indiferente, passa a ter aversão a essas pessoas que desestruturam a segurança. O destino dos jovens pobres, que até então não interessava à sociedade, passa a ser, na mente dos outros grupos sociais, só um: as prisões.

Em A máquina e a revolta – livro publicado em 1999 – a antropóloga Alba Zaluar discorre sobre a hiper-masculinidade. A agressividade característica dos jovens rebeldes torna-se destrutiva quando há disponibilidade de armas de fogo. O “sujeito” só é considerado homem se tiver disposição para matar e cometer crimes. Agir dessa forma confere status, poder, e afirma a identidade masculina baseada na lógica belicista. A autora revela possíveis causas que evidenciam o papel de vítima que os pobres desempenham, e critica, principalmente, a associação da classe social menos favorecida à rotulagem de “bandido”.

A falência de instituições como família e escola agrava o problema. Estas deveriam agir no momento em que o jovem está formando sua identidade social. A instituição criminosa ocupa o lugar da estrutura familiar brasileira, que se encontra cada vez mais desestruturada.

A localidade em que o jovem mora significa um obstáculo na oportunidade de emprego. Sendo discriminado, quase sempre ele perde a vaga. O grande número de trabalhadores presentes nas comunidades é esquecido, em função da quantidade de vítimas do tráfico.

Diante das dificuldades e estigmas relacionados ao local de residência, os jovens das favelas são as maiores vítimas da violência: desamparados pela família, ignorados pelo governo, e - quando não “invisíveis” - vistos com olhos preconceituosos. Mesmo assim, lutam para serem tratados com dignidade.

Ser pobre não significa ser bandido. Vincular pobreza a criminalidade é desconhecer e estigmatizar as principais vítimas.  

 Artigo feito para a disciplina Técnica de Comunicação I, lecionada pela professora Cláudia Versiani