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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cultura

Adeus ao homem que deu tons verde-amarelos à pop art

Thiago Carva - Do Portal

28/01/2008

O Brasil perdeu um dos maiores ícones das artes plásticas. Morreu às 6h da manhã de terça-feira, 29, Rubens Gerchman, em decorrência de um tipo raro de câncer. O pintor, desenhista, gravador e escultor, de 66 anos, foi um quatro grandes nomes da chamada nova figuração – ao lado de Antonio Dias, Carlos Vergara e Roberto Magalhães – e, nas décadas de 60 e 70, traduziu as cores e traços da pop art à realidade nacional.
Gerchman nasceu no dia 10 de janeiro de 1942. Aos 15 anos, começou os estudos artísticos no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, sua cidade natal. Representava uma geração que utilizava cores fortes e materiais industriais para fazer uma arte vigorosa e agressiva, de temática urbana, que incorporava ícones populares. Em suas obras, Gerchman representou cenas do cotidiano, anônimos, crimes, jogadores de futebol, amantes, desempregados e outros personagens característicos da época. Muitas vezes com tintas políticas, como na mostra Opinião, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio, onde – em pleno regime militar – expôs os quadros "Ditadura das coisas" e "Os desaparecidos".
O caráter vanguardista de sua obra antecipou o tropicalismo e influenciou-o, a tal ponto que Caetano Veloso e Gilberto Gil compuseram uma música baseada em uma obra do artista, chamada “A Bela Lindonéia”. A canção, batizada de “Lindonéia”, era um bolero cantado por Nara Leão no antológico disco Tropicália ou Panis et Circensis – cuja capa, não creditada, é de Gerchman.
Para o crítico Gilberto de Abreu, autor do blog supergiba (www.supergiba.blogspot.com), dedicado às artes plásticas, as bases estéticas que aproximavam Gerchman do Tropicalismo eram “uma certa profusão de cores, uma sensualidade latente, uma vontade louca de assumir – e festejar – as diferenças”. E acrescenta: “Gerchman era quase uma explosão de liberdade. E o Tropicalismo, o que era, se não isso também?”
Gerchman foi também um dos primeiros artistas brasileiros a realizar happenings, nos quais as artes visuais englobavam características das artes cênicas e permitiam a participação do espectador. Foi co-fundador e diretor da revista Malas Artes e, entre 1975 e 1979, dirigiu a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Sempre ativo no mundo artístico, participou de diversas mostras coletivas de artistas de vanguarda. Suas obras estão expostas em museus de todo o mundo.
O artista possuía também uma certa fixação pelo tema “beijo”. Uma de suas pinturas, recolhida da série “beijos”, foi estampada na camisa do bloco Simpatia É Quase Amor, que desfilou por Ipanema no último sábado antes do carnaval.
Ainda segundo Gilberto de Abreu, é cedo para avaliar a ausência de Gerchman para as artes plásticas do Brasil. “Mas é inegável o que ele nos deixa: um excelente exemplo de como seguir acreditando no desenvolvimento de uma poética particular. Ainda que em constante diálogo com seus pares, no Brasil e no Mundo, Gerchman soube deixar sua marca em pinturas, esculturas, gravuras, objetos. Ele inspirava arte, e deve ter morrido assim, expirando cores”, completa.
Rubens Gerchman estava morando em São Paulo desde 2003. Tinha um filho e três filhas.