Projeto Comunicar
PUC-Rio

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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Cultura

Figurino, um elemento de comunicação visual

Fernanda Ralile - Do Portal

30/01/2008

Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo *

Quem veio?

Emília Duncan e Betty Filipecki, figurinistas.

Onde e quando?

Na PUC-Rio, dia 29 de maio de 2007.

Melhores momentos

(E) “Eu acho que as pessoas têm uma dificuldade de entender o que é figurino, e a seriedade do nosso trabalho. Tem gente que chega pra mim e fala: ‘Ah, minha prima leva um jeito pra isso, não tem como você botar ela pra estagiar com você?’”

(E) “Figurino não é roupa, é muito mais que isso, é um clima. Quando um grande amigo meu me disse isso pela primeira vez, eu, uma pessoa de moda, tomei um susto! Eu me senti pessoalmente agredida! Isso foi uma coisa que levei anos pra entender.”

(B) “Figurino é parte integrante do personagem, ele tem que atender a intenção do texto e da direção.”

(E) “Se vocês querem ser diretores um dia, eu acho que faz parte do trabalho entender o conjunto da obra e a comunicação que o figurino tem nela. Se a gente pudesse ensinar isso a vocês e formar diretores mais capacitados, seria maravilhoso!”

(B) “Em novela de época, a roupa é o suporte fundamental para ajudar o ator no deslocamento no tempo. O desafio começa na pesquisa de materiais, na história e vai ao entendimento do significado simbólico da roupa para aquela sociedade. Claro que a gente não é obrigada a usar materiais da época, né? Mas é preciso conhecer e buscar adaptações que funcionem.”

(E) “Quando eu não conheço o ator, eu peço pra conversar antes. Para já perceber o corpo. Isso que a Beth fez com o Francisco Cuoco em ‘Cobras e lagartos’ foi um milagre, né? Ela inclusive mudou a postura dele! É uma engenharia que a gente faz no próprio corpo deles. É enchimento, silicone, cinta, quer dizer, a gente precisa ter o contato com o ator pra decidir como encaminhar isso.”

(E) “Na moda, a roupa se resolve na coleção, que vai parar ou na passarela ou na arara. A nossa se resolve vestida, encarnada.”

(E) “Eu acho que na televisão há uma quantidade excessiva de troca de roupa, sem necessidade. Mas o público de hoje tem o vício de querer a troca, olha como é complicado! Eu ainda não consegui resolver esse problema.”

 

Uma palavrinha a mais

- Você costuma levar idéias de figurinos que produziu para o seu guarda-roupa?

(B) - Não, muito pouco. Acho que não porque eu sou básica e confortável, bem neutra. Você fica tão cheia de ver tanta coisa que você se cansa e acaba limpando o seu guarda-roupa.

- Em qual estilo de novela você gosta mais de trabalhar?

(B) - De época. Eu acho que dá pra você aprofundar e passar uma idéia com mais substância e menos interferência.

- Para os leigos, como vocês definiriam rapidamente a diferença básica entre figurino e vestimenta?

(B) - Figurino é para ficção, para dramaturgia. E a roupa é o que você escolhe pra estar dentro do seu grupo, do seu contexto, para chegar aonde você quer, estar bem aonde você vai naquele determinado momento.

(E) - Quando eu falei na palestra que figurino não é roupa é porque eu considero figurino uma narrativa visual, um elemento de comunicação. Quer dizer, qualquer coisa que comunique, que faça essa segunda pele do ator, passa a ser figurino.

- Na palestra você disse que um mesmo figurino muda de ator para ator. Como é isso?

(E) - É o seguinte: o figurino é uma soma de elementos narrativos que vão atuar sobre o ator. O que eu chamo de elementos narrativos? A cor é uma narração, a textura é uma narração, a vestibilidade, isto é, a maneira como a roupa veste. Todos esses elementos somados criam um impacto visual, que vai atuar conjuntamente com o ator. Quando você concebe um figurino, na medida em que você tem um ator, você faz a soma, se o ator tem um tipo de rosto, aquele figurino vai causar um determinado impacto. Se você muda o ator, aquele mesmo figurino que serviria hipoteticamente para um personagem cafajeste, somado num ator que tem uma cara de bonzinho... aí você vai precisar dar outros elementos pra poder chegar àquele resultado que você quer comunicar. Cada ator é um caso específico. Porque o figurino atua em relação ao ator.

 

* Acompanhe a seqüência do seminário “Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo”:


1 – Luís Erlanger.
2 – Luiz Fernando Carvalho.
3 – Luiz Gleiser.
4 – Geraldo Carneiro.
5 – Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira.
6 – Antônio Calmon.
7 – Daniel Filho.
8 – Guel Arraes.
9 – José Lavigne.
10 – Walcyr Carrasco.
11 – Sílvio de Abreu.
12 – Sérgio Marques.
13 – Glória Perez.
14 – Edson Pimentel.
15 – Maristela Veloso e Alexandre Ishikawa.
16 – Eduardo Figueira e Maurício Farias.
17 – José Tadeu e Celso Araújo.
18 – José Cláudio Ferreira e Keller da Veiga.
19 – Ariano Suassuna.
20 – Luiz Fernando Carvalho (e equipe).
21 – Betty Filipecki e Emília Duncan.
22 – Denise Garrido e Vavá Torres.
23 – Cláudio Sampaio e Alexandre Romano.
24 – Edna Palatinik e Cecília Castro.
25 – Roberto Barreira e Marcinho.
26 – Cadu Rodrigues.