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Rio de Janeiro, 27 de setembro de 2024


Campus

Escola Médica promove palestras para o jovem

Evandro Lima Rodrigues - Do Portal

19/08/2010

O tempo não é principal termômetro do sono, não é sinônimo de qualidade. Para garanti-la, é preciso tomar cuidados que compõem a "higiene do sono" - como manter o ambiente confortável, silencioso, escuro. Com este esclarecimento, o professor de psiquiatria da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio Eduardo Costa Barros abriu a série de palestras em homenagem ao Dia Internacional da Juventude, quinta-feira passada, na universidade. Promovida pelo Centro de Ciências Biológicas e de Medicina, como parte do Programa de Promoção da Saúde, a  mesa redonda discutiu também outros temas importantes para a sociedade e, em especial, para os jovens.

O professor Mauro Pena, também da Escola Médica, abordou o crescimento do número de portadores de necessidades especiais e propôs ações para preveni-los e amenizar seus efeitos, em busca da inclusão social. A professora de Direito Constitucional Telma Lage alertou para um problema crônico do país: a grande quantidade de acidentes, que atingem, principalmente, os jovens. E a professora de psicologia Daniela Romão explicou os riscos e as possibilidade positivas da vida digital.

As abordagens convergem para um conceito ampliado de saúde, com uma "visão integrada no sentido da promoção de uma vida saudável", esclareceu o mediador Jorge Biolchini, professor titular da área de homeopatia da Escola Média de Pós-Graduação da PUC-Rio. Para alguns, no caminho da vida saudável há o sono ruim, Os motivos são diversos, de disfunções do próprio sono a alterações de humor, esclareceu Eduardo Barros.

O professor explicou que o sono está dividido em duas fases: REM(Rapid Eye Movement, em inglês) e não-Rem. A fase REM abriga os sonhos mais vívidos, pois a atividade cerebral é similar àquela que se passa nas horas em que se está acordado. Representa de 20% a 25% do tempo total de sono.

A faae não-REM corresponde a 75% do tempo de sono e divide-se em quatro estágios distintos, da sonolência ao sono profundo. "Em palestras, às vezes a gente observa este primeiro estágio, e até o segundo", brincou o professor, cuja didática eficaz desafia até os mais sonolentos.

Alterações podem ocorrer nas duas fases, e são diagnosticadas com a ajuda de exames específicos. Uma das mais singulares é o transtorno paradoxal do sono REM. Caracterizado por sonambulismo, o distúrbio pode levar o paciente a ações extremas (crimes, inclusive), dos quais não se lembra quando acorda. Barros lembrou o caso raro de um americano que matara a mulher enquando ele dormia e foi absolvido com base no diagnóstico que confirmou o transtorno.

Para os que não sofrem de distúrbios graves mas buscam uma melhor qualidade de sono, o especialista esclareceu: tempo não é sinônimo de qualidade. Ele desconstruiu o condicionamento do "sono perfeito" às oito horas protocolares:

– Existe não uma ideia de cronologia, mas de fases. Alguns podem dormir bem e ficar bem dispostos com cinco horas de sono, por exemplo. A qualidade do sono está menos relacionada à duração total do que ao comportamento durante as horas dormidas.

Para se ter uma boite noite de sono, como diz o clichê, convém cuidar da higiene. Da higiene do sono. Simplificadamente, significa preparar o terreno para relaxar – o que envolve desde cuidados com o ambiente, como evitar luzes e barulhos e manter a temperatura confortável, até o exílio de pensamentos que possam gerar ansiedade e outros estados que possam prejudicar a respiração. 

– Ver um filme de ação antes de dormir, por exemplo, pode dificultar o sono – ilustrou o professor.

Tão ou mais incômodas quanto os distúrbios do sono, as estatísticas do trânsito brasileiro conservam uma preocupação crônica: o alto índice de colisões. Dados apresentados pela professora Telma Lage, referentes a levantamento de 2007, apontam que a maior parte dos acidentes atinge pessoas entre  20 e 39 anos. A principal causa deles ainda remete, segundo ela, à imprudência. Boa parte dos motoristas leva para o volante comportamentos "explosivos". 

Os acidentes de trânsito, emendou o professor Mauro Pena, estão entre as causas mais frequentes dos casos de paraplegia e tetraplegia – cujo volume nos país é "expressivo". Segundo Pena, em 2000 o Brasil contava quase 25 milhões de portadores de necessidades especiais, dos quais aproxidamente 8 milhões correspondem a jovens entre 15 e 19 anos. Na avaliação dele, a grande quantidade de casos deve-se, substancialmente, à "falta de políticas públicas específicas:

– Precisamos de políticas voltadas à prevenção, à reabilitação e à inclusão social. Precisamos também de mais sensibilidade para lidar com os portadores de necessidades especiais.

Outra preocupação substantiva, embora mais recente, refere-se aos riscos do mundo digital, nos quais o jovem mergulha não raramente desde criança. Para a professora Daniela Romão, pesquisadora do Núcleo de Estudo em Tecnologia e Subjetividade da PUC-Rio, é necessário distinguir o hábito de usar a internet de uma dependência patológica: 

– Os jovens vivem no excesso. Eles não estão se isolando do mundo. Apesar do afastamento natural da família nessa fase, eles estão vivendo – ponderou.

Embora reconheça as ameaças decorrentes do uso abusivo da internet e dos videogames, Daniela ressaltou que a web revela-se um instrumento de aproximação entre os jovens. Segundo ela, o e-mail e as redes sociais contribuem para a criação de laços.

A professora acrescentou, no entanto, que se deve acender o alerta caso a internet converta-se em alterações no comportamento do jovem:

– Quando for observada uma modificação na rotina e nos horários, é preciso ficar mais atento.