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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Campus

Um circo erguido sem descanso por "artistas" anônimos

Evandro Lima Rodrigues - Do Portal

17/08/2010

Mauro Pimentel

“A satisfação maior é quando o circo está montado”. Se a XIV Mostra PUC fosse um espetáculo circense, eles provavelmente teriam funções diversas. Desde levantadores de peso, armadores de lonas, equilibristas, “domadores” e até palhaços. Restritos aos bastidores, esses “artistas” anônimos formam a trupe dos montadores, arquitetos, faxineiros, seguranças, fiscais que movimentaram os pilotis para, como disse o montador Alexandre Alves, erguer o circo que reunirá 65 expositores e 100 mil visitantes, de amanhã à próxima sexta-feira. 

O Portal PUC-Rio Digital acompanhou os quatro dias desta montagem. Desde a quinta-feira passada, quando iniciou-se a conversão de ferro, plástico, madeira e acrílico em espaços de exposição e negócios; até a conclusão dos estandes, na segunda-feira. Nem a chuva do fim de semana nem a necessidade de realocação de montadores paulistas em hotéis cariocas prejudicaram o ritmo acelerado nor plantões noturnos.

 Mauro Pimentel Experiente em eventos desse porte, Odir Souza (foto), de 39 anos, trabalha há 10 como montador. Só na Mostra PUC, este é o seu quinto ano. Odir reforça o número de 850 empregos diretos que a feira movimenta na fase inicial. Ele dividiu com nove companheiros a montagem de sete estandes, para empresas diversas.

Entre um aperto de parafuso e uma arrumação de carpete, Odir cuidava para a movimentação de pedestres não atrapalhar o trabalho, e vice-versa. Segundo ele, uma das habilidades mais importantes do ofício remete à segurança, para evitar acidentes tanto na hora da montagem quanto no vaivém ao longo da mostra. O controle de qualidade passa também pelos três filhos:

 – Quando levo fotos dos estandes para casa e as crianças acham o máximo o meu trabalho, fico muito orgulhoso – conta.

Sem filhos, é para a mãe que Cleide da Hora (foto), 35 anos, montadora e copeira nas horas vagas, mostra o produto final do seu trabalho. Joselita da Hora ainda não se acostumou com o ofício  “para homem” da filha. Diferentemente dos 1.117 m² da Mostra PUC, nos pilotis das Alas Kennedy e Frings, onde homens e mulheres equilibram-se em várias funções, Cleide é exceção no batente predominantemente masculino.

– Já estou acostumada – diz ela.

 Mauro Pimentel

Sob a possibilidade frequente de virar a noite para cumprir o prazo, Cleide tira até R$ 250 por semana. Orgulha-se da estabillidade financeira e das duas casas construídas – uma para ela, outra para a mãe – com o dinheiro de montadora, reforçado do expediente de microempresária. Ela contrata diaristas para organizar o estande após montado. Esse novo ofício, Cleide aprendeu com uma antiga chefe, hoje sua sogra.

No horário do almoço, Cleide e muitos de seus colegas aproveitam para confraternizar. Wagner Alves faz parte do grupo que joga cartas nos raros minutos de descanso. Improvisada em cima de contêineres, a partida logo atrai gente de outros estandes. O momento de descontração revela-se importante para retomar a maratona:

 Mauro Pimentel

– Sempre esticamos um pouco a hora de almoço. Assim renovamos as energias para continuar a jornada e acabá-la no prazo. Só não põe na foto a hora em que ela foi tirada – brincou Wagner, com o fotógrafo do Portal.

A descontração às vezes dá lugar a momentos tensos. Como no suposto atraso da liberação dos pilotis para o início das montagens dos estandes, prevista para a manhã de quinta-feira, mas só consumida à tarde. Daniel Gonçalves, que veio de São Paulo com um grupo de nove trabalhadores, alterou o cronograma:

– Tivemos de trabalhar mais um dia, das 7h às 17h.

 Mauro Pimentel

Com o dia extra, a equipe teve de encontrar um hotel para pernoitar. Acostumado a imprevistos, o grupo paulista encarou o impasse com tranquilidade e conseguiu cumprir o novo cronograma.

Contratempos também atravessaram o caminho do pessoal da limpeza, que teve de amenizar os efeitos dos fortes ventos e da chuva, na madrugada de sábado. Eram 7 h quando Braz Ribeiro iniciou a remoção do tapete verde que cobriu o chão na entrada principal da universidade. A chuva que ainda persistia dificultava o trabalho solitário do funcionário, que integra o grupo de 55 profissionais para manter a limpeza durante a Mostra.

 Mauro Pimentel Tão concorridas quanto os brindes nos estandes, os espaços para automóveis representam trabalho duro também para a turma que organiza o vaivém no estacionamento. Está prevista a circulação de 3 mil veículos naquele período. Como o número de vagas é limitado, Josuy Barbosa lembra a orientação para visitantes e estudantes deixarem o carro em casa.

O coordenador executivo da Mostra, Luiz César Tardin, observa que o êxito da feira depende da mão-de-obra das 25 empresas que trabalham na montagem dos estandes. Segundo ele, as atividades exigem "mãos hábeis":

– São eles que constroem fisicamente o evento.

Nessa metamorfose espacial, os “artistas anônimos” encontram uma gratificação extra:

– Vê todo esse circo sair do papel por nossas mãos já vale como uma parte do nosso pagamento – alegra-se Alexandre Alves.