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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Cultura

Cátedra promove debate sobre Juan Carlos Onetti

Fernanda Miranda - Do Portal

10/08/2010

O professor argentino Maximiliano Liñares ministrou a palestra "Variações rioplatenses na narrativa latinoamericana: Reformulações do realismo em Juan Carlos Onetti" na última quinta-feira (05/08), na Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio. O encontro sobre o escritor uruguaio, autor de A vida breve e O poço, entre outras obras, contou também com a presença do professor Marcos Alexandre Motta, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Motta cumpriu a função de entrevistador do professor Liñares na ocasião.

Segundo o conferencista, Juan Carlos Onetti representa um dos escritores mais originais e importantes da língua espanhola. Liñares explicou que o escritor uruguaio se destacou desde o início dos anos 1930 por uma concepção de narrativa que se aproximou das técnicas estilísticas do modernismo europeu e dos contadores de histórias norteamericanos da época. Foi relevante, entre outras razões, por implementar a visão de mundo dos personagens da cidade na literatura uruguaia, mais tarde conhecida como literatura rioplatense. 

Onetti também ficou marcado pelo romance A vida breve (1950), pioneiro na construção de cidades fictícias, como a "Macondo" de Gabriel Garcia Marquez, no romande clássico Cem anos de solidão. Para esclarecer aos presentes no encontro promovido pela Cátedra, o professor argentino explicou que o modernismo latino-americano corresponde cronologicamente ao simbolismo brasileiro.

Professor de Letras, doutor em Ciências Humanas e Artes da Literatura, professor assistente de Literatura Latino-Americana II na Faculdade de Ciências Humanas e Artes da Universidad Nacional de Rosário, na Argentina, e membro do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) nesse país, Liñares escolheu falar de Onetti, entre outros motivos, pelo seu forte papel de mudança na característica da literatura uruguaia e por ter servido de referência para outros grandes escritores.

Camila Grinsztejn ─ Escolhi o tema "Reformulações do realismo em Juan Carlos Onetti" porque representa o nó central da minha pesquisa de doutorado, ainda em andamento, onde tentamos também dar conta do realismo onettiano como uma das variáveis da literatura rioplatense que configure uma das respostas fundamentais para a estagnação do romance regionalista e rural ─ explicou o professor.  

Foi entregue na palestra um folheto com um pequeno resumo do percurso da narrativa latino-americana, assim como do início da carreira de Onetti e suas primeiras obras. Segundo o professor, desde os primeiros anos de sua carreira, Juan Carlos Onetti começa a desenvolver uma escrita na qual se destaca um movimento duplo: em torno de temas urbanos e com a presença dos sonhos de seus personagens.

A introdução do urbano marca os seus primeiros contos, como  “Avenida de Mayo-Diagonal – Avenida deMayo”, de 1933, “El obstáculo”, de 1935, e “El posible Baldi”, de 1936, publicados em jornais de Buenos Aires e posteriormente reunidos no livro 47 Contos de Juan Carlos Onetti. O elemento onírico se torna recorrente a partir de 1939 com a publicação de O poço e mais tarde A vida breve, em 1950.

Para ele, dessa maneira fica configurado o início de uma das respostas mais originais na literatura rioplatense e, consequentemente, na latino-americana, chamado de realismo onettiano. Muito conhecido pela sua cidade ficcional, "Santa Maria", onde se passam muitas de suas obras, o escritor uruguaio também exerceu papel de editor do jornal Marcha. Onetti recebeu o Prêmio Nacional de Literatura do Uruguai em 1962 e o prêmio Miguel de Cervantes de literatura, em 1980.