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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cultura

Jornais gratuitos conquistam mercado

Olivia Haiad - Da sala de aula

27/07/2010

Quem sai de manhã para o trabalho, ou simplesmente se desloca pelas ruas movimentadas da cidade, pode receber em mãos um jornal pequeno, em formato de tablóide, cheio de cores e com matérias bem curtas. E isso sem precisar desembolsar um centavo. É o fenômeno dos jornais gratuitos, que são sucesso no mundo e, agora, crescem no Brasil.

No entanto, precebe-se uma diferença de mercado para esse tipo de veículo entre as capitais brasileiras São Paulo e Rio de Janeiro. No dia-a-dia dos paulistas, os jornais Metro e Destak disputam quase todos os sinais de trânsito. Mas, para os cariocas, ambos são distribuídos em menor tiragem, e o primeiro circula apenas às sextas-feiras.

A primeira edição do Metro circulou em Estocolmo, na Suécia, em 1995. Em menos de dois anos se expandiu pela Europa, e hoje tem edições em mais de 100 cidades, em 19 países. Em São Paulo, o jornal é um sucesso, mas no Rio não obteve o mesmo êxito. No início do projeto, eram 70 mil exemplares diários. Agora, só é possível encontrar o Metro às sextas-feiras.

“Vimos que precisávamos recuar e repensar nossa estratégia de marketing, porque os anunciantes não estavam atendendo às nossas expectativas”, explica a editora-chefe do Metro no Rio, Monique Arruda.

A jornalista considera que houve um erro na estratégia de implementação do jornal, mas enxerga mudanças em breve.

“Nosso plano é voltar a circular diariamente ainda este ano”, afirma Monique.

Já o Destak tem uma história mais bem-sucedida no Rio. Título do grupo português Cofina Media, o jornal chegou a São Paulo em 2006 e tem tiragem diária de 150 mil exemplares. No Rio, veio um ano mais tarde, com 80 mil exemplares diários. A redação carioca é praticamente uma sucursal – produz a editoria Cidade e algumas matérias locais de esporte e cultura, e tem um quadro de funcionários cerca de três vezes menor que o de São Paulo.

Pode-se pensar que essa diferença é fruto somente de um mercado paulista com mais capital e, consequentemente, mais investimentos. Porém, para o diretor editorial do Destak, Fábio Santos, o motivo não é só esse. Ele lembra que São Paulo tem muito mais habitantes do que o Rio.

“O jornal possui tiragem maior em São Paulo porque a população paulistana é superior à carioca, mas foi lançado para os paulistas primeiro porque o mercado publicitário da cidade é muito maior do que o do Rio de Janeiro”, afirma.

Segundo santos, o público-alvo do Destak é o mesmo em São Paulo e no Rio: “Segundo o Ibope, em São Paulo, os leitores são 65% de classe AB e 34% de classe C. Não temos dados fechados sobre o mercado do Rio, mas acreditamos que o panorama seja bastante semelhante.”

Por ter um formato enxuto, com matérias curtas e nenhum espaço para editoriais e artigos, o jornal gratuito é visto muitas vezes como superficial. Mas, para o editor de Cidade do Destak Rio, Kayo Iglesias, esse tipo de publicação é muito válido e já conquistou seu espaço no mercado.

“As pessoas estão muito sem tempo e, no trajeto casa-trabalho, em um metrô cheio, podem aproveitar o pouco tempo livre que têm para se informar. E também acabam se distraindo e se divertindo, claro”, defende Iglesias.

Pelo menos um público cativo os jornais gratuitos já conquistaram no Rio. Os taxistas cariocas costumam ter sempre um exemplar do Destak ou do Metro no banco de trás do carro. Pegam de manhã nos sinais, lêem, e depois deixam ali para um passageiro que queira se distrair ao longo da viagem. Seu Adilson Lima, taxista há 26 anos, conta que fica sabendo das notícias todo dia pelo rádio, mas pelo jornal gratuito também.

“Quando tem muita esmola, o santo desconfia. Mas com esses jornaizinhos não tenho do que reclamar: são bons e de graça”, afirma Lima.

O “boom” dos jornais gratuitos no Brasil também contribuiu para o aumento na quantidade de veículos de mídia impressa em circulação nos últimos anos. Segundo dados divulgados pela Associação Nacional dos Jornais, em 2001, havia 1980 jornais em circulação em todo o país. Porém, com a chegada dos jornais gratuitos e tablóides populares – um outro fenômeno recente no Brasil – esse número subiu para 4103 em 2008.