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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Cultura

No reino de Ariano Suassuna

Fernanda Ralile - Do Portal

21/01/2008

Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo. *

Convidado

Ariano Suassuna, escritor. Dia 15 de maio de 2007, na PUC-Rio.

 

Melhores momentos

“Eu estou correndo um grave risco de me tornar uma pessoa vaidosa. Logo que cheguei me disseram: ‘Olha, nós preparamos um trono pra você’. Quando eu entrei aqui vejo um cartaz de ‘A pedra do reino’ deste tamanho, depois ganho o DVD ‘O reino de Taperoá’, que, pra quem não sabe, é a minha cidade, o meu município, no sertão da Paraíba. Promovendo Taperoá a reino creio que, provavelmente, o rei sou eu!”

“Uma obra sendo boa, ela não fica ultrapassada. O ‘Dom Quixote’ é contemporâneo de todas as gerações. E quando nós não estivermos mais aqui ele ainda continuará sendo, para os nossos netos. É uma obra de vanguarda ainda hoje, que está viva, suscitando discussões. E daí vem o meu interesse.”

“Outro dia me perguntaram se eu achava que ‘A pedra do reino’ ia fazer tanto sucesso como fez ‘O Auto da Compadecida’. Eu disse: ‘Olha, o sucesso é uma incógnita’. E eu posso, sem nenhuma vaidade vã da minha parte, reconhecer que o ‘Auto’ obteve sucesso. Mas esse sucesso não se deve a mim, não. O poder de comunicação dele se deve às histórias populares, nas quais a peça se baseou. E isto não está muito presente na ‘Pedra do reino’, ela é uma obra mais complexa e talvez não alcance um público tão grande. De uma coisa pode ter certeza: eu faço distinção entre o êxito e o sucesso. O ideal é quando a obra reúne as duas coisas, mas, se tiver que escolher, prefiro o êxito.”

“Eu entendo o Clássico, o Romântico e o Barroco como posições atemporais. Não me interessa o Barroco só na época em que ele predominava, a visão que eu tenho dele não se restringe ao século 18. Eu acho que alguns dos maiores artistas brasileiros contemporâneos nossos são barrocos. Villa-Lobos é um Barroco. Guimarães Rosa também. O que interessa pra mim é o artista.”

“Não há quem me faça aceitar essa cultura pop. Outro dia, para me elogiarem, me chamaram de popstar... pelo amor de Deus! Eu fiquei danado!”

“A alegria do povo brasileiro é uma forma de perdão. Porque o povo brasileiro é injustiçado há cinco séculos e ainda tem a alegria. E ainda nos trata com cordialidade, não é um povo amargo, tinha direito de ser, mas não é. E eu acho que nisso o João Grilo representa bem o povo brasileiro.”

“As pessoas pensam que eu sou contra a televisão. Não sou. Eu sou contra o fato de as pessoas quererem que eu me adapte ao gosto médio da cultura de massa. E, pra isso, ninguém conte comigo.”

“Eu sou muito acusado de ser um sujeito arcaico. Atribuem a mim algumas frases que eu nunca disse, e depois dizem que eu estou errado! Dizem, por exemplo, que eu queria que voltasse a Idade Média no Brasil. Olhe, eu vou dizer uma coisa, eu posso até ser doido, mas burro eu não sou, não! Em primeiro lugar, como é que o Brasil pode voltar à Idade Média, se nunca teve Idade Média?”

“Eu sou um sujeito profundamente emotivo, é uma coisa terrível, uma vergonha! Porque chorar em público, para uma mulher bonita, ela fica até mais bonita. Mas para um sujeito velho, como eu, chorando, é a coisa mais grotesca e triste do mundo.”

 

* Acompanhe a seqüência do seminário “Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo”:


1 – Luís Erlanger.
2 – Luiz Fernando Carvalho.
3 – Luiz Gleiser.
4 – Geraldo Carneiro.
5 – Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira.
6 – Antônio Calmon.
7 – Daniel Filho.
8 – Guel Arraes.
9 – José Lavigne.
10 – Walcyr Carrasco.
11 – Sílvio de Abreu.
12 – Sérgio Marques.
13 – Glória Perez.
14 – Edson Pimentel.
15 – Maristela Veloso e Alexandre Ishikawa.
16 – Eduardo Figueira e Maurício Farias.
17 – José Tadeu e Celso Araújo.
18 – José Cláudio Ferreira e Keller da Veiga.
19 – Ariano Suassuna.
20 – Luiz Fernando Carvalho (e equipe).
21 – Betty Filipecki e Emília Duncan.
22 – Denise Garrido e Vavá Torres.
23 – Cláudio Sampaio e Alexandre Romano.
24 – Edna Palatinik e Cecília Castro.
25 – Roberto Barreira e Marcinho.
26 – Cadu Rodrigues.