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Rio de Janeiro, 6 de maio de 2024


País

A rotina de publicar celebridade como notícia

Cora Ayres - Da sala de aula

22/07/2010

Mauro Pimentel

Jornalismo de celebridades e colunas de fofoca sempre lembram notícias de futilidades e assuntos irrelevantes, principalmente quando se trata de um jornal popular. Mas não é isso o que defendem três colunistas de diferentes tablóides do Rio de Janeiro. Eles arqumentam que, se é de interesse do público, deve ser publicado. Apenas uma colunista entrevistada nesta reportagem monstrou opinião divergente. Em comum, todos afirmam que, "para quem vê de fora", parece uma profissão fácil, mas lidar com famosos pode dar muito trabalho.


Entre os critérios de escolha do que é ou não notícia, o personagem é o principal ponto de partida para a decisão. Leonardo Dias, mais conhecido como Leo Dias, editor da coluna “Retratos da Vida” do jornal Extra, costuma dizer que a primeira pergunta a ser feita é: "de quem estamos falando?". Por ser um jornal popular, a notoriedade do personagem é imoortante, explica Leo. “O artista tem de ser reconhecido por todos quando passa pela Central do Brasil. Se é reconhecido na (Avenida) Vieira Souto não me importa”, comparou.

Em segundo lugar, o ineditismo, assim como em qualquer ramo do jornalismo, é
o que dita se uma notícia deve ser publicada ou não. O jornalista tem o dever de apresentar
uma novidade ao seu leitor. Valéria Souza, responsável pela coluna “Babado” do jornal Meia-
Hora
, destaca que o mais importante é ter uma “revelação bombástica”.


A maioria do público desta editoria pertence às classes B,C, D e E, e, segundo Valéria,
eles gosta de saber sobre a vida pessoal dos artistas. Neste caso, o fator “quem está namorando
quem” é o que mais interessa. Para ela, o que vende é o que deve ser publicado e, por isso,
mulheres bonitas como ex-BBBs e as “mulheres frutas” têm grande destaque em sua coluna.

Já Silvia Rodas, colunista do “Povo Antenado”, do jornal Povo do Rio, apresenta uma
opinião divergente dos colegas. “O interesse do público em ficar atento sobre a vida
pessoal de celebridades é algo que cresce assustadoramente. Por isso, a vendagem de jornais
e revistas desse gênero aumentou muito, o que acaba também movimentando capital e
gerando emprego. Meu foco maior é falar da vida pessoal dos artistas. Não considero isso
notícia, porém, tenho que escrever o que o leitor quer ler”, afirmou Silvia.

Um jornalista de colunas de fofoca tem de ser muito cuidadoso com o que escreve e com o
modo como escreve. Vadho Junyor, titular da coluna “Conta Tudo” do jornal Expresso, lembra
que o público não se importa se a notícia está exaltando demais ou até humilhando o artista,
pois o que importa é o fato. Mas, para ele, como jornalista, o cuidado com as palavras usadas
é muito importante. O colunista já teve problemas com artistas por conta do que publicou.
“Suzana Vieira estava na praia e um paparazzi do meu jornal estava lá. Ela viu que ele
estava fotografando e ficou fazendo careta para a câmera. Eu fui lá e publiquei relatando
exatamente o que estava na foto: ‘Suzana Vieira faz careta para paparazzi na praia’. Ela não
gostou e me ligou ameaçando que iria me processar a próxima vez que isto acontecesse” –
contou Vadho.

Ele afirma que não gosta de falar mal dos artistas, seu intuito não é esse, e sim
informar o seu leitor. Mas, se algum famoso o provocar, “não deixa barato, não”. “Todo vez
que algum paparazzi fotografava o Marcelo Serrado, ele mostrava o dedo do meio. Um dia,
publiquei a foto e ‘esculachei’ ele. Em seguida, proibi todos os fotógrafos do jornal que eu
trabalho de tirarem foto dele”.

Outro fator que interfere no  "jornalismo de celebridades" é a grande quantidade de pessoas querendo aparecer. Vadho conta que, além de assessores de imprensa, há casos em que os próprios artistas ligam para os colunistas para contar algo a respeito deles. “Uns artistas ligam ou mandam alguém ligar para dizer que vão estar em alguma praia ou alguma festa. Aí você já sente que ele está é querendo aparecer. Claro que a minha coluna não deixa de ser um meio deles se divulgarem, mas eu também não posso deixar eles controlarem o que eu publico”, afirmou o editor.

A linha editorial de um jornal dita o estilo do texto. Nos jornais populares, os jornalistas devem se preocupar em ter um texto mais descontraído e leve. A apuração é feita não somente por meio de contato com assessores de imprensa, mas , também com o próprio artista. É sempre bom ter uma “agenda quente”, mais atualizada, para que o colunista consiga falar com a fonte que precisar. Fotos de paparazzi normalmente influenciam uma notícia e podem levar o colunista a conseguir o “furo” jornalístico.