Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 5 de maio de 2024


País

Redes sociais influenciam o trabalho de jornalistas

Isabela Rezende - Da sala de aula

10/08/2010

Encontrar personagens, fontes, furos de reportagem, notícias, informações de trânsito, opiniões e até mesmo casos engraçados. Por esses e outros motivos, cresce o número de jornalistas conectados às redes sociais. Twitter, Facebook, Orkut, Unik, Sonica - não importa qual, mas sim as idéias e discussões compartilhadas.

Até pouco tempo era inviável pensar que existiriam redes sociais e como elas funcionariam. Hoje, no entanto, grande parte da população mundial com acesso à internet, participa de ao menos uma destas ferramentas, segundo o site Google Ad Planner.

Com tal popularidade, diversos jornalistas também passaram a se conectar às grandes redes sociais. Thamine Leta, jornalista do portal de notícias G1, revela estar sempre ligada a informações sobre o Rio, já que trabalha na editoria cidade. Ela conta que muitas vezes descobre que falta de luz em algum bairro ou se há um vazamento na rua por meio de denúncias em post.Thamine afirma ainda, que em relação a trânsito, determinados fatos, como acidentes, sempre chegam antes pelas redes.

É claro que todas as informações devem e são averiguadas antes de se tornar notícia. Contudo, alguns posts viram notícias por si só. Um exemplo foi a recente briga entre o apresentador Luciano Huck, que possui milhares de seguidores no twitter, e Homero Salles, diretor do Programa do Gugu. A acusação de que este programa estaria plagiando quadros do Caldeirão repercutiu fortemente na imprensa brasileira.

Gustavo Marques, jornalista esportivo, opina sobre o uso da ferramenta:

Creio que as redes sociais, como Facebook, Orkut e, mais recentemente, o Twitter, ajudam os jornalistas de diversas formas. Quase diariamente busco pautas nesses sites. É uma ferramenta que ajuda os jornalistas não só a buscarem a pauta, mas também a pensarem, já que vê e participa da troca de informações com outros jornalistas e com o público em geral.

Marques relata ainda um caso curioso sobre a cobertura do clube Sport:

– Eu estava cobrindo o Sport e, como é um clube do Recife, a cobertura fica precária por ser feita daqui do Rio. Então, eu entrei na comunidade oficial da torcida do Sport e vi uns boatos sobre a contratação de três novos reforços. No site oficial do clube não tinha nada, nem nos jornais locais. Resolvi então, ligar para o diretor de futebol, que me confirmou que os jogadores assinariam no dia seguinte. Ou seja, furei até os coleguinhas pernambucanos.

Em relação a esporte, vale a pena comentar que o atual técnico da seleção, Mano Menezes, é uma das personalidades brasileiras com mais seguidores no twitter. Também o jogador Belletti, hoje no Fluminense, é uma das pessoas que mais tem posts no twitter.

Mas para João Fernando, do jornal O Dia, nem tudo é tão fácil quanto parece. Durante a cobertura do programa Big Brother Brasil, da TV Globo, ele precisava buscar amigos e parentes dos participantes. Depois de encontrar os usuários, ele entrava em contato, mas raramente era correspondido. Fernando ressalta que, ao menos, fotos dos participantes, ele conseguia copiar dos sites.

João Fernando conta, todavia, que algumas matérias ficaram mais interessantes porque aconteceram através de uma interação virtual. É o caso de uma matéria sobre o programa O Aprendiz Universitário, da tevê Record:

– Precisava de informações sobre um participante, mas a Record não liberava nenhum contato. Então, fui procurar os amigos pelo Orkut e deu muito certo. Primeiro troquei mensagens com alguns e conversei pelo telefone. A partir disso, marquei a foto e fui até a universidade da participante. Com esses poucos amigos que contatei, consegui falar com professores e até tirei uma foto de turma. Essa matéria ficou muito legal.

Além disso, ele afirma que costuma usar o Twitter e o Facebook quando precisa de personagens ou ajuda em alguma matéria:

– Eu posto o que preciso e, se ninguém sabe a resposta ou conhece alguém, às vezes, me responde para ver se alguém pode me ajudar. O bom te de ter amigos com muito seguidores é que fica mais fácil achar alguém. Já cheguei a ligar e pedir para algumas pessoas escreverem em suas páginas que um amigo precisa de um personagem de tal jeito.

Mesmo diante de experiências positivas, vale ressaltar o experimento feito com jornalistas franceses sobre a eficácia do Twitter e do Facebook. Durante cinco dias, cinco jornalistas de língua francesa, quatro homens e uma mulher, ficaram enclausurados em uma fazenda, a fim de testar a eficácia de redes sociais virtuais para se informar sobre o que acontece no mundo. Como conclusão o artigo da Deutshe World, revista alemã que trata de assuntos de internet e tecnologia, afirma que redes sociais e microblogs apresentam pontos positivos e negativos para o jornalismo. Ao mesmo tempo em que facilitam o trabalho dos jornalistas, no contato com fontes e informação em primeira mão, por exemplo, tornam o ofício mais trabalhoso.

O jornalista que retira informações ou participa dessas redes sociais precisa, portanto, ter um senso de apuração muito bom para não propagar falsas informações ou cair, por exemplo, em pegadinha de perfil “falso” no Twitter e, no fim das contas, acabar entrevistando uma fonte falsa.

Por outro lado, esses dados da revista alemã mostram um dilema com qual a mídia, jornais, tevês e blogs profissionais têm que lidar hoje em dia: manter os seus critérios de apuração e publicação e, ao mesmo tempo, competir com o ciclo de velocidade com que as informações são publicadas no Twitter e no Facebook. Com isso, surge o dilema do jornalismo contemporâneo: informações rápidas ou bem apuradas?

Texto produzido para a disciplina Projeto Experimental em Jornalismo, lecionada pelo professor Leonel Aguiar.