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Rio de Janeiro, 6 de maio de 2024


País

Jornalismo deve zelar pela transparência nas eleições

Victor Costa - Da sala de aula

13/07/2010

 Getty Images

“O jornalismo garante a transparência no processo eleitoral”, afirma Chico Otávio, jornalista e professor da PUC-Rio. Para ele, a atuação desses profissionais é fundamental para os eleitores escolherem os seus candidatos. Com 50 anos de jornalismo, Pedro do Coutto concorda com Otávio: “Sem o jornalismo para prestar este serviço à comunidade, até o resultado final estaria sob suspeita”, completa. No entanto, renova-se o debate sobre até que ponto o jornal está oferecendo um serviço aos eleitores ou acaba favorecendo determinado candidato ou partido. “Os veículos de comunicação têm o poder de influenciar a opinião pública. Assim, o resultado de uma eleição fica vulnerável a esta força”, analisa Coutto. As eleições de 1989 para a Presidência da República e o caso da empresa Proconsult, em 1982, são exemplos marcantes de como a imprensa pode interferir numa disputa.

Coutto entrou para o jornalismo em 1954 e passou pelas redações dos principais veículos. Durante este período, trabalhou em diversas eleições. Foi desde repórter até analista político. Em 1982, estava na redação da Rádio Jornal do Brasil quando estourou o caso Proconsult. Eram as primeiras eleições diretas para governador após regime militar. “Este caso é emblemático porque mostra a importância do jornalismo para o país. Uma fraude deste tamanho não poderia acontecer logo após a conquista das eleições diretas”, diz.

Já em 1989, o (mau) jornalismo foi considerado, para muitos, o vilão do eleitorado brasileiro. A edição no Jornal Nacional do debate entre os candidatos Lula e Fernando Collor beneficiou este, que acabou vitorioso nas urnas. Fernando Collor sofreu impeachment após dois anos de mandato. Apesar deste caso, Otávio acredita que, atualmente, é praticamente impossível esta interferência direta por parte de um veículo. Segundo ele, a mídia brasileira está submetida a um forte controle social. A justiça eleitoral também é rigorosa em relação ao espaço dos candidatos. “O candidato tem direito de resposta para qualquer matéria sobre sua campanha publicada nos jornais. Muitas vezes, o prazo de defesa é de 48 horas. Então, tudo acontece muito rápido”, analisa.

Ricardo Villa Verde atualmente trabalha como repórter político do jornal O Dia. Durante sua vida profissional, já foi assessor de imprensa e chefe de sucursal em Volta Redonda, município do Rio de Janeiro. Para ele, os grandes veículos não agem parcialmente em favor de um candidato. O problema está nas cidades pequenas: “No interior do país que o processo eleitoral é escandaloso. A maioria dos veículos de comunicação nesses lugares pertence aos seus respectivos prefeitos ou aliados político”.

Os jornais têm preferências por candidatos

Há opiniões contrárias à de Villa Verde, sobre a imparcialidade da imprensa nos grandes centros.Assessor de imprensa da Eletrobras Furnas, Wilson França conhece bem os dois lados da moeda. Militante político durante os tempos de estudante, ele já trabalhou tanto como setorista, responsável pela cobertura jornalística de um candidato, quanto assessor de campanhas políticas. Em 1989, participou da campanha do então candidato Luis Inácio Lula da Silva. Para França, os grandes veículos sempre têm preferência por determinado candidatos. “Apesar de os jornais não assumirem posições, não é difícil perceber quem eles estão apoiando. Basta o leitor prestar atenção em como o veículo explora o acontecimento e quais fatos são valorizados”, afirma.

A foto do candidato também pode indicar a posição do jornal. França destaca a importância das expressões faciais dos candidatos nas fotos publicadas. Dificilmente o critério é o mesmo. Alguns candidatos estão sempre bem enquanto outros são prejudicados. “Para exemplificar isto, basta ver as fotos da Dilma Rousseff publicada no Globo, neste ano eleitoral. Desde que lançou a candidatura, ainda não saiu uma foto dela sorrindo”, destaca França.

Em relação às eleições de 1989, França lembra a dificuldade de assessorar a campanha de um candidato prejudicado pelos jornais. “O Lula falava uma coisa e nos jornais era publicada outra. Hoje em dia, isto não é tão alarmante quanto antes. Apesar de diariamente serem publicada matérias tendenciosas”, analisa.

No dia seguinte à edição do debate entre Lula e Collor, no Jornal Nacional, a manchete de O Estado de São Paulo era o candidato do PT chamando os nordestinos de sub-raça. Na verdade, Lula dissera que a fome e a pobreza nesta região estavam criando uma sub-raça. Segundo França, essa interpretação foi errada e tendenciosa. “São Paulo é um lugar que tem mais nordestino do que no próprio Nordeste. Um jornal publicar isto, às vésperas de uma eleição, é covardia contra o candidato”, opina.

Caso Proconsult 

Foi uma tentativa de fraude nas eleições de 1982 para o governo do Rio de Janeiro. A empresa Proconsult foi contratada para apurar os votos do estado. Pretendia-se impedir a vitória do candidato do Partido Democrático Trabalhista (PDT), Leonel Brizola. A estratégia era computar os votos nulos e em branco para o candidato do Partido Democrático Social (PDS), Moreira Franco. A Rádio JB montou um esquema de apuração somente para o governo, esquecendo os outros cargos que estavam em disputa. A apuração dos votos era lenta e a Rádio JB descobriu a fraude através da discrepância entre as parciais que anunciava e os constantes boletins do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Eleições 89

Às vésperas da votação, a Rede Globo promoveu um debate entre os principais candidatos, Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT), e Fernando Collor, do Partido da Reconstrução Nacional (PRN). No dia seguinte, uma edição do debate foi ao ar no Jornal Nacional. Esta versão era favorável ao Collor e acabou se tornando, segundo a avaliação de especialistas, fundamental para a escolha do novo presidente da República.