Carina Bacelar e Lucas Soares - Do Portal
14/07/2010“A tecnologia não pode funcionar apenas como uma bengala”, alerta a professora da PUC-Rio Cynthia Paes, doutora
Na visão da especialista, a tendência, defendida pela secretária estadual, de usar plataformas digitais para o auxílio no processo educacional só é válida se acompanhada de profissionais capacitados para uma utilização adequada desses materiais:
– Métodos ativos quase sempre têm melhor efeito no processo de aprendizagem. A tecnologia deve ser vista como aliada, mas não pode ser ministrada por qualquer profissional. Por isso, é importante cuidar da qualificação desses profissionais.
A professora reconhece que o sistema de aprovação automática pode ter contribuído para o péssimo desempenho dos estudantes do quinto ao nono ano (o Rio ficou em 15º). Segundo ela, a combinação deste modelo com a suposta falta de formação específica prejudica o rendimento escolar, especialmente nas séries finais:
– Muitas vezes a escola é obrigada a diminuir a carga horária ou então remanejar profissionais de áreas afins para substituir. Nesse sentido, o aluno que passou de série duas ou três vezes sem critérios rigorosos, e chega a essa etapa final, acaba não rendendo o que deveria. Nada acontece isoladamente – pondera.
Para Alicia Bonamino, professora da PUC-Rio especialista em políticas educacionais, o déficit de profissionais da educação explica, em parte, o baixo desempenho dos alunos, principalmente no segundo segmento do ensino fundamental. Ela também alerta que os níveis de reprovação são altos nesta etapa, o que provoca uma "defasagem idade-série", fator de risco adicional para o fracasso escolar. Alicia diz que a “chave” para melhorar o rendimento dos alunos está em um conjunto de fatores:
– Formação de professores que dominem os conteúdos e as habilidades que precisam ensinar aos alunos, currículos claros e bem delimitados, tempo de aula maior. Todos estes aperfeiçoamentos são importantes – sugere.
Já o péssimo desempenho do ensino médio registrado no Rio de Janeiro – 26º no Ideb, à frente apenas do Piauí – pode decorrer também de um "problema de identidade histórica", não só no estado, mas de todo país. Cynthia explica que, quando criado, o ensino secundário tinha como função preparar as elites que buscavam um lugar na faculdade. Hoje, com a democratização do acesso, o antigo segundo grau deixou de ter apenas este objetivo.
Ora destinado à preparação para o nível superior, ora entendido como um aprofundamento do ensino fundamental, o ensino médio funciona também como uma preparação para a inserção imediata no mercado de trabalho. Funções complementares e ao mesmo tempo tão distintas indicam, de acordo com Cynthia, indefinição quanto à proposta pedagógica. Ela sugere "um projeto de nação" para o ensino médio, como se observa no ensino fundamental.
Divergências políticas no caminho do ensino médio
Para a professora Silvia Cristina Silva, diretora do Colégio Estadual Professor Antônio Maria Teixeira Filho, no Leblon, a vice-lanterna do Rio no ranking do Ideb está relacionada a divergências políticas que prejudicam a “continuidade de bons projetos”. Ela cobra mais investimentos no setor, especialmente em remuneração e infraestrutura.
– A remuneração baixa leva professores a assumirem jornadas duplas e até triplas, para aumentar os ganhos no fim do mês. Não somos um estado que se mobiliza pela educação. Por isso, nosso ensino médio está à frente apenas do Piauí – argumenta.
Professora de História e Filosofia do mesmo colégio, Maria das Graças Nogueira concorda com Cynthia Paes. Ela ressalta que a má qualidade do ensino decorre, entre outros fatores, da “falta de investimento em qualificação profissional”. Segundo ela, os salários baixos dificultam a especialização. Este cenário, avalia a professora, contribui para afastar os jovens do magistério, e assim agravar o déficit de professores no ensino público e até no particular.
Embora boa parte dos alunos ainda desconheça o resultado no Ideb e suas implicações, os estudantes preocupam-se com o impacto das deficiências educacionais nas perspectivas para o mercado de trabalho. Aluna do primeiro ano do ensino médio, Vanessa ficou aflita ao saber que estuda no segundo pior sistema de ensino médio do Brasil:
– Isso vai atrapalhar meu futuro profissional – aflige-se.
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