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Rio de Janeiro, 2 de maio de 2024


Campus

Mário Neto revive o negro no futebol brasileiro

Clarissa Pains - Do Portal

11/06/2010

Camila Grinsztejn

Em palestra na PUC, o jornalista Mário Neto reviveu o pioneirismo de seu avô, o também jornalista Mário filho, ao abordar o tema do negro no futebol brasileiro. O encontro, o último do ciclo Concentração: pensar a bola antes que ela role, foi marcado por histórias sobre o homem que dá nome ao estádio do Maracanã e criou a expressão "Fla-Flu". O debate foi promovido pela Cátedra Unesco de Leitura da PUC-Rio, na quinta-feira (10/06).

Segundo Mário Neto, a publicação de O negro no futebol brasileiro, livro lançado por Mário Filho em 1947, “envolveu e uniu toda a família”. Seu avô, que morreu em 1966, foi o responsável por dar identidade às páginas de esporte dos jornais e também é lembrado pela defesa da presença dos jogadores negros no esporte. Ele contou que, segundo seu avô, “sem a força do negro, o Brasil não chegaria a lugar algum”.

– Em 1920, quem falava de futebol era considerado malandro, marginal. Jornalista era jornalista e jogador era jogador. Havia um muro entre eles. Quando meu avô colocou o futebol na primeira página do jornal, foi muito criticado, mas, a partir daí, todos os jornais passaram a fazer o mesmo porque assim conseguiam vender mais – afirmou Mário Neto – Antes, os jornais em geral tratavam apenas de golfe, tênis, waterpolo. Vender isso no Brasil não podia dar certo.

Há, até hoje, grande controvérsia sobre o time pelo qual Mário Filho torcia. Ele convivia com flamenguistas e tricolores, na família e entre amigos, e por isso não admitia sua escolha. No entanto, para seu neto, não há dúvidas: Mário Filho era flamenguista. Mário Neto disse, inclusive, que “na história do Flamengo, ninguém escreveu mais que ele sobre o clube”.

– Uma vez, fui com meu avô ao estádio assistir a um jogo entre Flamengo e Botafogo, e, quando o primeiro fez um gol, meu avô começou a pular. Mas, em seguida, disse: “Não pense que estou comemorando o gol. É que amanhã vamos vender mais jornais” – contou.

Segundo Mário Neto, a popularidade do Flamengo tem uma origem curiosa. O clube se formou a partir de uma briga interna do Fluminense, e os jogadores que abandonaram o tricolor passaram a ter que jogar em campos públicos, mais perto das pessoas que não podiam entrar nos estádios.

O palestrante contou que, para seu avô, todos deveriam torcer por um time: “Ele sempre dizia que é mais fácil trocar de mulher que de time”.

Segundo Ricardo Oiticica, professor da PUC-Rio que conduziu a conversa na Cátedra, a trajetória de Mário Filho coincide com a popularização do esporte na cultura brasileira. Para ele, não há um exemplo tão forte de “antropofagia” quanto o do negro no futebol.

– O contato com diferentes culturas, tornou o negro capaz de absorver uma manifestação estrangeira como o futebol e devolvê-la numa forma diferente, mais rica – afirmou Oiticica.

Em setembro deste ano, será lançado o filme Mário Filho e a multidão, junto com uma exposição de alguns de seus livros: Histórias do Flamengo, O rosto, Viagem em torno de Pelé e Copa de 1962. Prova da sua paixão é que, de todas as suas publicações, apenas duas não tratam de futebol.