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Rio de Janeiro, 27 de abril de 2024


Mundo

Colômbia chega dividida ao primeiro turno das presidenciais

Bianca Baptista - Do Portal

26/05/2010

Divulgação/Partido Verde

No domingo, 30 de maio, os colombianos foram às urnas para o primeiro turno das eleições presidenciais no país. Seis candidatos disputam o posto, mas os favoritos são Juan Manuel Santos, do Partido da União Nacional (Partido da U), e Antanas Mockus, do Partido Verde.

Santos é ex-ministro da Defesa do atual presidente Álvaro Uribe, que conta com 70% de popularidade depois de dois mandatos centrados na questão da segurança interna. Mockus ficou internacionalmente conhecido como prefeito de Bogotá e surpreendeu a todos com uma campanha heterodoxa, amplo uso da internet e um crescimento de quase 20% nas opções de voto entre março e abril desse ano.

Na última pesquisa antes do término oficial da campanha, apresentada pelo instituto Ipsos Napoleon Franco, em 22 de maio, Mockus, que também foi reitor da Universidade de Bogotá e é PhD em matemática, está dois pontos percentuais à frente de Santos, candidato do governo Uribe, o que é considerado empate técnico.

Caso nenhum dos políticos atinja mais de 50% dos votos, as eleições se estenderão a um segundo turno que será realizado em 20 de junho. Segundo as pesquisas, a disputa direta também tende a ser apertada, com 45% das intenções para o candidato do Partido Verde, de centro-direita, e 44% ou 43% para o representante governista.

De acordo com o cientista político Luiz Antônio Gusmão, especialista em América Latina, essa “guinada” nas eleições em favor de Mockus pode ser vista como uma "transformação qualitativa" do eleitorado colombiano. No entanto, segundo ele, as mudanças propostas por Antanas Mockus serão de difícil implementação.

– Caso ganhe, ele deverá enfrentar problemas em montar uma coalizão de governo, pois seu partido conseguiu poucas cadeiras nas últimas eleições legislativas. Foram somente 5 de 102, no Senado, e 4 de 166, na Câmara – alertou Gusmão.

Tatiana de Oliveira, especialista do Observatório Político Sul Americano (OPSA), concorda. Para ela, Antanas Mockus, se eleito, terá de fazer alianças com os partidos maiores.

Getty Images – Se ele continuar com a mesma política independente de quando foi prefeito de Bogotá, não conseguirá aprovar nada. Vai ter que compor os ministérios com membros de outros partidos – ressaltou.

Para Gusmão, apesar do crescimento de Mockus, Juan Manuel Santos, posicionado mais à direita do espectro político colombiano, ainda tem chance de vencer no segundo turno.

– Manuel Santos dispõe de uma máquina de campanha. Ele já relançou sua candidatura contratando um marqueteiro famoso por fazer campanhas difamatórias, mudando de slogans e aumentando sua inserção no meio virtual – acrescentou.

Para Adam Isacson, especialista em América Latina do CIP (sigla em inglês para Centro de Políticas Internacionais), situado em Washington, nos Estados Unidos, o candidato do Partido Verde deve procurar, no segundo turno, alianças com o Partido Conservador, de Noemi Sanin, e com os partidos de centro-esquerda.

– Acredito que tanto Rafael Pardo [do Partido Liberal, de centro-esquerda], quanto Gustavo Petro [do Pólo Democrático Alternativo, de esquerda], mesmo que oposionistas, devem apoiar e inclusive participar de um possível governo de centro-direita. Até porque Mockus é muito flexível, e isso contribui para que dê certo fazer alianças com pessoas de opiniões tão diferentes – analisou.

No entanto, o grande carro-chefe da campanha do Partido Verde é trabalhar naquilo que o governo de Uribe não foi bem, mas sem criticar as decisões tomadas pelo atual presidente. Segundo o analista norte-americano, o ex-prefeito de Bogotá busca frisar uma posição contra a corrupção e em defesa dos direitos constitucionais.

Divulgação/Partido Verde – Ele [o candidato Antanas Mockus] tem um modo único de lidar com a política, um modo muito carismático, que seduz o eleitor. Ele não faz parte de nenhum esquema partidário, e isso o ajuda muito – afirmou Isacson.

Porém, para o analista, a possibilidade de fraude com compra de votos pode beneficiar a eleição de Juan Manuel Santos, já que ele possui mais fundos de campanha que o opositor, além de “ligações” com muitos políticos locais.

– Acredito que em um segundo turno, a compra de votos pode fazer toda a diferença – alertou.

Além da disputa de comícios ocorrida em 23 de maio entre o Partido Verde, em Bogotá, e Partido da U, em Cartagena, que marcou o encerramento das campanhas, ainda há a briga por eleitores via internet. O novo meio de propulsão política ganhou visibilidade durante a eleição presidencial norte-americana, em 2008, com o estímulo de participação dos jovens que ajudaram a eleger o então candidato Barack Obama, com 52% dos votos populares e 365 no colégio eleitoral. Segundo Adam Isacson, a propaganda política na internet na Colômbia é pioneira e não há como prever o resultado disso.

– O uso da rede na Colômbia mudou muito, agora cerca de 30% da população colombiana possui uma página no Facebook, o que é impressionante. Se a utilização da internet aumentou assim, há esperanças para o Partido Verde crescer. Nós chegamos a um ponto em que vamos descobrir se a campanha política na internet faz a diferença – terminou Isacson.

Segundo a professora do Departamento de Comunicação Social Adriana Braga, a internet e as redes de relacionamento como o Twitter e o Facebook são utilizadas pelos candidatos como uma estratégia de marketing específica para os jovens.

– A posição dos candidatos já demonstra esse panorama. Juan Manuel Santos optou por uma postura tradicionalista, e por isso tem um grande eleitorado rural. Mockus, em uma posição menos conservadora, optou pela utilização da internet – explicou a professora.

Para Adriana, o panorama brasileiro na utilização da rede como marketing político dependerá da estratégia de cada candidato.

– Acredito que se a estratégia for procurar uma aproximação com o jovem ou uma população de classe média e alta, as redes sociais serão uma excelente escolha para contato e persuasão – opinou.