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Rio de Janeiro, 27 de abril de 2024


Mundo

Cineastas celebram libertação do iraniano Jafar Panahi

Mauro Pimentel - Do Portal

26/05/2010

Divulgação

Cineastas brasileiros reforçaram o coro de artistas estrangeiros que comemoraram a libertação do iraniano Jafar Panahi, preso desde março sob a supeita de preparar um flime de teor oposicionista ao governo do Irã. Panahi estava em greve de fome havia dez dias. Para deixar prisão Evin, destino dos presos políticos naquele país, pagou fiança equivalente a R$ 366 mil. Na opinião do cineasta Sílvio Tendler, professor da PUC-Rio e um dos artífices da adesão brasileira ao apelo mundial contra o cárcere, a  pressão internacional amplificada no Festival de Cannes foi essencial para a libertação: “A atriz Juliette Binoche foi indispensável”.

Eleita a melhor atriz do festival, a francesa fez da premiação um ato político. Levantou um cartaz pedindo a libertação do cineasta iraniano, impedido de compor o júri para o qual havia sido convidado. O apelo no maior festival de cinema do planeta talvez tenha sido a peça que faltava para o governo iraniano render-se à indignação global.

 ILNA No Facebook, maior rede social da internet, os grupos de apoio somam mais de 15 mil usuários. O maior de todos, com mais de 10 mil adeptos, é administrado por Alireza Khatam, cineasta iraniano e amigo da família de Panahi. Por  e-mail, Khatam informou: “Eu acabei de falar com o filho de Jafar. Ele está indo ver um médico para fazer um check-up, e depois segue para sua casa”.

Na avaliação de Khatam, o alto valor da fiança é uma maneira de assustar os ativistas. "Para que você garanta o pagamento da quantia, caso não possua a quantia, o governo exige documentos de propriedades que atinjam o valor da fiança", acrescenta. O iraniano, que vive na Malásia, denuncia:  atos como a prisão de Panahi passam por cima da Constituição. "O governo utiliza a repressão como forma de mostrar poder e manter seus oposicionistas com medo".

Para Silvio Tendler, a libertação de Panahi representa uma vitória da mobilização internacional. 

Com o apoio de Cacá Diegues, Tendler organizou na PUC-Rio, em 18 de abril, um desagravo político. Cineastas como Pedro Camargo e o chileno Jorge Duran, além do próprio Cacá, discutiram a repressão à liberdade de expressão no Irã e oficializaram o repúdio ao cárcere de Jafar Panahi.

 - Sinto-me orgulhoso de ter feito parte da pressão internacional que a comunidade cinematográfica fez pela libertação de Panahi - comemorou Tendler.

O cineasta José Mariani, professor da PUC-Rio, lembra que “o Combate ao totalitarismo deve ser constante”. Ele ressalva, no entanto, que não se pode confundir o atual regime, comandado pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, com a nação iraniana. “Não se deve demonizar o Irã. Nós brasileiros já vivemos esta realidade totalitária”.

Reconhecido pela crítica social com que tece seus longas, Jafar Panahi é simpatizante ao movimento oposicionista. Havia sido preso há quase três meses, quando recebia amigos em sua casa, em Teerã. É acusado de fazer filme "subversivo", no qual abordaria a controversa eleição do ano passado, que manteve Ahmadinejad no poder.  "Não cometi nenhum filme contra o governo iraniano", afirmou, em carta.

Transformado em ícone recente dos esforços pela liberdade de expressão, o diretor de 49 anos acumula prestígio e prêmios internacionais. Em 2000, O círculo rendeu-lhe Leão de Ouro em Veneza. Em 2006, levou o Urso de Prata no Festival de Berlim, com Fora do jogo.