Evandro Lima Rodrigues e Laís Botelho - Do Portal
05/01/2011O iníicio de ano cinzento força o carioca a trocar a sunga pelo guarda-chuva. Embora seja improvável a repetição do aguaceiro de abril do ano passado – equivalente a 300 mil piscinas olímpicas, segundo cálculo do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) –, os meteorologistas preveem um verão abafado e chuvoso. A companhia frequente do guarda-chuva assume aspectos além do funcional. O milenar artefato tornou-se objeto de desejo entre designers e uma engrenagem da indústria da moda.
Com incontáveis cores, estampas, tamanhos, o guarda-chuva incorpora também inovações tecnológicas. Alguns modelos avisam quando vai chover. Um receptor de rádio embutido no cabo capta informações meteorológicas disponíveis na internet e indica, por meio de um sinal luminoso, a possibilidade de chuva. Outros diminuem de tamanho, para se ajustarem a diferentes circunstâncias. Ao puxar uma corda, a abertura do guarda-chuva é diminuída.
Julia Morganti, aluna do sexto período de jornalismo, é apaixonada pelo objeto. Já soma dez unidades em sua coleção. Ela afirma que guarda-chuva não é só proteção. É estilo. A estudante comemora o acesso mais fácil a modelos de grife, reconhecidos internacionalmente.
– Tenho um espaço reservado no meu closet só para eles. Escolho o modelo de acordo com o meu humor. Alguns foram comprados no exterior, como o da Áustria. Achei que seria o diferencial quando chegasse no Rio mas descobri uma versão à venda no comércio popular da Saara, no padrão “made in China”.
Isabella Xavier (foto), do quarto período de design em moda, inovou a maneira de usar o acessório. A lona que veste a armação migrou para o corpo. Isabella reutilizou o componente do guarda-chuva para criar um espartilho. Num projeto da disciplina Modelagem I.
– Eu me inspirei na mãe de uma amiga que faz bolsas com a lona que reveste a peça e na designer italiana Cecilia Felli, que cria saias. É uma maneira de reaproveitarmos esse tecido impermeável, resistente e que geralmente jogamos no lixo quando a armação quebra – observa.
Além dos que colecionam e reaproveitam, há os que conferem ao guarda-chuva um sentido simbólico. Desse grupo faz parte o diretor de arte da agência Wellcomm
– O blog leva esse nome pois a simbologia do guarda-chuva é algo interessante para carregar na vida. Ele protege, previne, além de ser uma analogia com um escudo moderno e urbano que pode ser levado a qualquer lugar – justifica – Chove todo dia para todo mundo, no sentido literal ou no sentido metafórico. Carregar um guarda-chuva é uma "ideia" de que estou preparado para essas chuvas, e que eu posso estar preparado para ajudar quem precisar.
Já o vendedor Paulo César vê nas gotas uma forma de ganhar dinheiro. Há cinco anos Paulo vende o objeto em frente à portaria da PUC-Rio. Fatura mil reais por semana, “quando o tempo está brabo”. Segundo ele, a rapidez com que os vendedores chegam às ruas vem de consultas diárias à previsão do tempo:
– Olho sempre na internet, na televisão, às vezes até ligo para o instituto de meteorologia. As pessoas ajudam bastante também. Como sabem que eu vendo, me dão um toque – conta.
Paulo afirma que as mulheres respondem pela maioria das vendas. Assim, ele "investe" na variedade de estampas. A estampa de arco-íris é a mais pedida, por ser “estilosa e diferente, saindo da tradição do quadriculado e do pretinho básico”.
No início, proteção era contra o sol
As versões ancentrais foram criadas na Mesopotâmia, há 3.400 anos. Nessa época, a região do atual Iraque já continha artefatos destinados a proteger a cabeça dos reis – contra o sol, não contra a chuva, uma raridade naquele lugar. Assim como os abanos, eram feitos de folhas de palmeiras, plumas e papiro.
No Egito, adquiriram significado religioso. Na Grécia e Roma, eram considerados artigos exclusivamente femininos. Só no século XVIII a obstinação do comerciante inglês Jonas Hanway, um apaixonado por guarda-chuvas, conseguiria torná-los "dignos" também de cavalheiros. Embora tivesse sido ridicularizado, o esforço de Hanway acabou recompensado. Depois de sua morte, em 1786, os ingleses aceitaram sair à rua munidos do acessório nos frequentes dias de chuvas do país.
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