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Rio de Janeiro, 23 de abril de 2024


Cultura

Exposição fotográfica ressalta cultura paraense

Camila Grinsztejn - Do Portal

21/05/2010

Kadeh Ferreira

Motivado pela pluralidade cultural e natural que encontrou em uma viagem de férias ao Pará, o jornalista Kadeh Ferreira inaugurou sua quinta mostra fotográfica: Eu vi um Norte – Uma viagem ao Pará, que fica até o dia 27 de maio no Centro de Visitantes do Jardim Botânico. A exposição é composta por 35 fotografias e um documentário, fruto da primeira experiência do fotógrafo com uma câmera de vídeo. 

Kadeh Ferreira contou que sempre viajou muito porque sua mãe morou em vários países. Quando foi ao Japão visitá-la, voltou com fotos que, segundo ele, valiam a pena compartilhar. Montou sua primeira exposição no Solar Grandjean de Montigny, na PUC-Rio, quando ainda cursava jornalismo, em 1996. Outras três viagens posteriores também originaram exposições: África do Sul, Cuba e uma por toda a América Latina. 

Para essa viagem ao Pará, realizada em 2006, o jornalista disse que foi mais bem preparado, com um “olhar diferenciado que não procurava somente fotografias, mas histórias para contar”. O equipamento escolhido foi uma câmera bem simples, uma cyber shot com apenas 4.1 megapixels, além da câmera de vídeo que usou para produzir o documentário.

– Optei pela cyber shot porque era a única que eu tinha no momento. A experiência foi muito positiva porque essas câmeras menores cabem no bolso e são menos impactantes - explicou.

Camila Grinsztejn Sem um roteiro elaborado, Kadeh Ferreira foi ao Pará com o objetivo de conhecer cinco lugares: Belém, Alter do Chão, alguma aldeia indígena, a Serra dos Carajás onde está a maior mina de minério de ferro do mundo e Fordlândia, uma cidade abandonada desde a década de 1930, fruto de um projeto fracassado do empresário Henry Ford. Segundo o jornalista, “as coisas foram acontecendo naturalmente no dia-a-dia da viagem”. Em 40 dias, conseguiu visitar tudo o que queria: “O resultado dessa aventura é a exposição”. 

Quando começou a buscar informações para a montagem da mostra com as fotos da viagem, o fotógrafo conheceu o Estúdio Alfa que lhe apresentou uma máquina capaz de imprimir em qualquer superfície desde que fosse plana. “De pedra até papel, passando por tecido, vidro, acrílico, borracha, ela imprimia em qualquer coisa”. Juntos descobriram um material que dialogava perfeitamente com o conceito da exposição, painéis de compensado chamados OSB e usados para fazer tapumes. O resultado da impressão no OSB, que tem textura de lascas de madeira, mudou o conceito da exposição. Trata-se de um material reciclado que dá um diferencial: “É como se fosse um efeito produzido em um Photoshop natural, que impressionou os visitantes e criou uma relação com o tema, a Amazônia”. 

Camila Grinsztejn Por conta do hábito de dormir em redes, comum no Norte do país, Kadeh utilizou uma delas também para imprimir uma de suas fotos. Outra foi impressa em um conjunto de ladrilhos, lembrando a arquitetura colonial de Belém, e mais uma em solados de Havaianas. Todas estão expostas na mostra Eu vi um Norte. 

– Me espantei com o fato de todos os índios usarem as sandálias de borracha, por isso resolvi testar a impressão nos solados e deu super certo. 

O fotojornalista disse que já tem uma lista com lugares que ainda pretende visitar. A Antártida é um deles, “mas por enquanto está fora do orçamento”. Para ele, viajar significa aprendizado e não algo que se faz somente nas férias. O encontro com outras culturas, novos lugares e um cotidiano diferente são capazes de transformar as pessoas: “O viajar faz parte de uma formação acadêmica e, mais ainda, da formação dos indivíduos”.

Kadeh Ferreira – As minhas viagens procuram experiências de vida. O registro faz parte da minha profissão e do que gosto de fazer, contar histórias. Trago essas experiências e quero compartilhar.

A falta de costume do carioca de freqüentar exposições de artes plásticas e fotografia, segundo Kadeh Ferreira, ocorre porque as obras acabam ficando em galerias fechadas e tornam-se elitizadas pelos preços. Por isso, a proposta do fotodocumentarista é expor seu trabalho em locais onde já exista um fluxo natural de pessoas, sempre com entrada franca. Dessa forma, pessoas interessadas e até desavisadas podem apreciar as fotos.

Depois do Centro de Visitantes do Jardim Botânico, a exposição segue para a estação Carioca, no metrô, que tem fluxo mensal de 200 mil pessoas.

– Escolhi o Jardim Botânico porque é um lugar lindo e tem tudo a ver com o clima da exposição. Além disso, a entrada é gratuita no centro de visitantes. Na Carioca, há pessoas que passam por lá todos os dias. Um dia elas veem uma foto, em outro dia reparam em mais alguma e assim começamos um trabalho a longo prazo de formação de plateia.

Camila Grinsztejn Os pontos altos da mostra foram as impressões em diferentes materiais. A foto de uma senhora deitada numa rede, impressa numa própria rede, dá uma textura interessante à fotografia. A iluminação foi bem planejada para o local da exposição porque ressalta o efeito do compensado. Algumas fotografias poderiam ter sido expostas em tamanhos maiores, mas foi opção do fotógrafo utilizar uma câmera simples de baixa resolução, que não permite grandes ampliações.

A exposição fica até o dia 27 de maio no Centro de Visitantes do Jardim Botânico, na rua Jardim Botânico, 1008. O centro funciona diariamente de 8h às 17h.