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Rio de Janeiro, 2 de maio de 2024


Campus

Reitor abre comemorações dos 70 anos da universidade

Yasmim Rosa - Do Portal

10/05/2010

Fotos de Camila Grinsztejn

Em 30 de outubro desse ano, a PUC-Rio completará 70 anos. Para comemorar, a universidade terá um 2010 repleto de celebrações. Com o lema "PUC 70 anos, rumo aos 80", a comunidade acadêmica se une em torno de uma meta: traçar novos caminhos para o futuro e tornar a data um marco na história da instituição.

"Não queremos que a comemoração desse aniversário se limite a celebrações que, embora apropriadas, não podem deixar de ser pontuais e efêmeras. Por tal motivo, temos escolhido como lema para este ano comemorativo 'PUC 70 anos, rumo aos 80', a fim de indicar que desejamos aproveitar esta oportunidade não apenas para comemorar o passado, mas também para pensarmos e programarmos o futuro", afirmou o reitor, padre Jesús Hortal Sánchez, S.J., em carta à universidade publicada na segunda-feira, 10/05, no boletim semanal PUC Urgente.

As comemorações irão até o dia 12 de novembro, em virtude das eleições de outubro. Ao longo do ano serão realizados seminários com o intuito de refletir sobre a situação atual e o futuro da universidade. Além disso, será produzido um livro sobre os 70 anos, e medalhas comemorativas serão entregues a pessoas que contribuíram para o desenvolvimento da PUC-Rio nesse período.

Há 15 anos à frente da universidade, 2010 tem ainda um outro significado para o reitor. Em junho, ele deixará o cargo. Em entrevista ao Portal PUC-Rio Digital, padre Hortal, como é conhecido na comunidade acadêmica, falou sobre conquistas e dificuldades ao longo desses 70 anos.

Portal PUC-Rio Digital: Qual a importância da data para a PUC?

Pe. Jesus Hortal Sánchez, S.J.: Podemos dizer que a PUC é uma universidade histórica. Setenta anos é muito para uma universidade brasileira, mas é pouco quando comparada a universidades europeias, que surgiram no século XII. A PUC se firmou, durante esses 70 anos, como uma universidade de pesquisa. Disso não tenho dúvida nenhuma. Temos mantido isso contra o vento e a maré, às vezes com dificuldades muito sérias, mas com a ideia muito clara de que a PUC é realmente uma universidade de pesquisa que cultiva a excelência. Também está engajada em todas as políticas públicas. Consequentemente é uma universidade que não responde ao interesse particular, mas que realmente caminha com os interesses do país. Isso ficou tão claro para nós ao longo desses 70 anos que agora posso dizer que estamos no rumo certo e vamos continuar. A celebração dos 70 anos da PUC não é um “chegamos”, mas é um “estamos a caminho”.

P: E para o senhor, o que é estar à frente da universidade?

PJHS: Evidentemente é uma satisfação muito grande. Como reitor, eu faço hoje (07/06) 15 anos, dois meses e um dia na administração da PUC. É uma conta bem exata porque já me falta muito pouco. Agora estou na contagem regressiva. No dia 30 de junho, deixarei a reitoria e, consequentemente, já tenho que olhar um pouco para o fim disso e os poucos dias que me restam. Mas para mim é uma satisfação muito grande ter conseguido, ao longo desses 15 anos, manter a PUC dentro do rumo escolhido e sempre empreendendo coisas novas, conseguindo ampliar nosso campo de ação, atingindo, em grande parte, aquilo que nos propusemos.

 P: Quais foram as principais conquistas da universidade ao longo desses 70 anos?

PJHS: A PUC foi pioneira no estabelecimento da pós-graduação no Brasil. Os primeiros mestrados foram implantados em 1962, antes da reforma universitária de 1968. Para mim, é uma satisfação muito grande ter conseguido completar o quadro da pós-graduação. Quando eu comecei, todo o Centro Técnico Científico (CTC) tinha mestrado e doutorado, o Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH) quase todo e o Centro de Ciências Sociais (CCS) quase não tinha pós-graduação. Tinha alguns mestrados, mas não tinha doutorados. Hoje, temos mestrado em todos os departamentos e doutorado em quase todos. Tenho uma perspectiva de que atingiremos toda a universidade. Confirmamos nosso potencial e mostramos que podíamos realizar projetos mesmo com as dificuldades.

P: E quais foram os desafios que a PUC enfrentou?

PJHS: Os altos e baixos são, sobretudo, devido às políticas governamentais, que, às vezes, nos colocaram em situações econômicas muito difíceis. Quando a PUC se lançou por esse caminho da pós-graduação contava com um apoio governamental muito forte. Aproximadamente 60% do nosso orçamento era composto por verbas públicas, mas que foram sendo cortadas gradativamente. Hoje, não temos nenhum apoio direto aos programas. Eles oferecem bolsas de estudo, mas que dão apoio aos estudantes e não à instituição propriamente. Na pós-graduação, essas bolsas de estudo impõem um gasto para a universidade porque a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) ou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) dão para o aluno uma bolsa razoável. Não é algo maravilhoso, mas razoável. Mas para a instituição, que não pode cobrar nada desses alunos bolsistas, dá uma quantia irrisória que nem de longe cobre nossos custos. Esse foi o primeiro desafio, o desafio econômico. Conseguir um equilíbrio mantendo essa qualidade. Claro que seria muito mais fácil para o equilíbrio econômico fazer o que a maioria das instituições privadas fazem. Elas cortam o auxílio à pesquisa e o ensino se financia por si mesmo. Mas nós decidimos ser diferente e manter essa qualidade.

P: Essa situação difícil abalou muito o espírito da universidade?

PJHS: Tive que enfrentar uma espécie de desânimo, de descrença no futuro da instituição. O fato das verbas oficiais terem sido retiradas deixou muita gente descrente, e acharam que a PUC era inviável. Eu disse: “Não. A PUC tem capacidade para seguir em frente com os seus recursos e com todo mundo trabalhando”. Isso também me deu muita satisfação porque todos se lançaram solidariamente a trabalhar. Todo mundo está engajado, todo mundo está empenhado em ajudar a instituição. Sentimo-nos como uma verdadeira comunidade universitária em que todos são amigos, não há facções de uns contra os outros. Houve um tempo em que isso acontecia. Quando começou a pesquisa em pós-graduação, as verbas oficiais iam exclusivamente para a área tecnológica, o CTC, e para o Departamento de Economia. Eles ganhavam mais que os outros professores. E é claro que isso gerava uma divisão. Hoje não. Todos percebem que são iguais, são tratados igualmente e estão no mesmo barco remando em uma mesma direção.

P: O que as pesquisas representam para a universidade?

 PJHS: Hoje, o volume de recursos que giram em torno da pesquisa na universidade é superior ao total das anuidades arrecadas dos alunos, o que indica que temos um volume muito grande de pesquisa em relação ao tamanho da instituição. Por outro lado, apesar de ter essa característica forte nessa área, temos sido obrigados, pelas dificuldades, a manter um quadro bastante enxuto. Se compararmos, em número de professores e pesquisadores, os nossos departamentos com os departamentos correspondentes das universidades federais, estamos muito atrás. Mas em resultados não, o que indica uma eficiência, uma produtividade muito alta dos nossos professores.

P: E a relação mais prática da universidade com a sociedade?

PJHS: Atualmente, estamos muito engajados em ações voltadas para a responsabilidade social e ambiental. A PUC percebeu que não vive só para si. Está inserida dentro de uma sociedade e tem uma responsabilidade com essa sociedade. Hoje, estamos presentes em várias comunidades carentes, em muitos lugares. Talvez um exemplo emblemático seja a ação no projeto Rio Digital do estado do Rio de Janeiro. Esse é um projeto de inclusão de populações carentes através da internet, com acesso wireless gratuito para essas populações. Temos nos empenhado muito nisso e somos responsáveis pelos projetos que já foram implantados no morro Santa Marta, na Cidade de Deus, no Pavão Pavãozinho, na Rocinha, em Manguinhos. E também somos os responsáveis pelo Portal Digital do estado para essas comunidades. É um portal que, sobretudo, favorece o acesso aos serviços públicos, o que é muito importante. É claro que isso é só um exemplo, nossa ação social vai muito além disso. Temos também o programa de bolsas que não se limita ao que o governo nos manda fazer, como o Prouni. Temos o Fesp, o Fundo Especial de Solidariedade PUC, que contempla alunos carentes. Temos quase 500 alunos que moram na Baixada Fluminense e recebem ajuda para o transporte e para a alimentação, porque vão passar o dia todo aqui. Só a bolsa de estudo não basta. São tantas coisas que poderíamos dizer. O tema responsabilidade ambiental também está em voga. Agora estamos empenhados na Agenda Ambiental, que é realmente muito importante.

P: E a relação da universidade com o mercado?

PJHS: A PUC teve que assimilar uma mentalidade de mudança contínua. Isso se exemplifica mais com a questão do empreendedorismo e das incubadoras. Quando eu comecei como vice-reitor acadêmico, em 1992, onde fiquei por três anos antes de ser reitor, estavam apresentando os primeiros projetos de incubadora. Não era o Instituto Gênesis de hoje, era o Projeto Gênesis. E esse Projeto Gênesis despertava muito ceticismo. Lembro do vice-reitor administrativo daquele tempo que me dizia: “Isso não vai para frente”. Mas eu disse: “Isso tem que ir para frente”. Entusiasmou-me ver a ideia. Ninguém falava em incubadora de empresas no Brasil. Fomos os primeiros. Isso foi ampliando e hoje é uma realidade. Quantos alunos, hoje, estão envolvidos na incubação de empresas, na Empresa Júnior, nos programas de inovação. Recebemos vários prêmios devido a isso, como o prêmio Santander de Inovação e o Desafio Sebrae.

P: O lema é “PUC 70, rumo aos 80”. Quais os projetos para o futuro?

PJHS: Evidentemente, isso é um assunto para o novo reitor, mas creio que a universidade vai continuar nessa mesma dinâmica e cada vez mais envolvida na elaboração de políticas públicas. Uma coisa que estamos sempre querendo é aprofundar essa ação de inovação com o parque tecnológico. Em parte, podemos dizer que já temos um parque tecnológico difuso. Não está concentrado em um lugar, está em diversos lugares. Temos parcerias com várias empresas. Temos o CTDUT, o Centro de Tecnologia de Dutos; o CAD, Centro de Avaliação Destrutiva, e agora estamos implantando um Centro de Engenharia Veicular. Ou seja, a universidade está entrando cada vez mais como parceira das empresas. O edifício da Petrobrás, que está sendo construído aqui no campus, é um exemplo disso. Somos parceiros das empresas para aportar o conhecimento, a inovação, e não para simplesmente adiantar a ciência, mas para impulsionar o desenvolvimento e a inovação.

P: Quais foram as lições que a PUC aprendeu e que está colocando em prática? O que ainda precisa melhorar?

PJHS: É fato que temos um rumo muito claro. Temos sido coerentes e a grande lição me parece que é essa: a perseverança, apesar das dificuldades. Saber que, com a colaboração de todos, com a ajuda de Deus, com a determinação clara daquilo que queremos, temos que continuar progredindo. E esse viés das políticas públicas, da interação com a sociedade, é cada vez mais urgente e cada vez mais necessário.