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Rio de Janeiro, 2 de maio de 2024


Campus

Cleonice emociona em "concerto literário"

Lucas Soares - Do Portal

11/05/2010

 Mauro Pimentel Aplaudida de pé por quase um minuto pela platéia de alunos, ex-alunos e colegas (muitos deles ex-alunos também), Cleonice Berardinelli faz jus à homenagem. Aos 93 anos, a professora emérita da PUC-Rio, integrante da Academia Brasileira de Letras, encanta pela generosidade com que distribui o conhecimento acumulado em sete décadas de vida acadêmica. Na Aula Inaugural do Departamento de Letras, quinta-feira passada, Dona Cléo, como é carinhosamente chamada, destrinchou Os Fantasmas de Fernando Pessoa. Especialista no assunto e autora da tese Poesia e Poética de Fernando Pessoa, escrita há mais de meio século, a professora explicou a “febre de Além”, cerne da poesia pessoana.

Antes do início da aula, ela "tranqüilizou" o reitor, padre Jesús Hortal, S.J, lembrando que os fantasmas de Pessoa são apenas uma “encenação do poeta”:

– Obrigado, padre. Não será necessário o uso da água-benta – brincou Cleonice, referindo-se ao pronunciamento inicial do reitor, no qual destacou que "se fosse preciso poderia trazer o líquido para uma bênção".

 Mauro Pimentel Padre Hortal sintetizou a emoção ao se ouvir Cleonice declamar os poemas:

– A voz de Dona Cléo é um concerto de canto literário. Dela não se fala, apenas se escuta – elogiou o reitor.

Na partitura, poemas como “Isto”, "Gládio” e “Autopsicografia” ilustraram a explanação da professora. Cleonice lembrou o dilema do escritor português. Segundo ela, o autor era “atormentado pelo vício do pensar”, e por isso “não conseguia ter fé”:

– A angústia metafísica é parte da febre de Além de Pessoa. “Estou preso ao meu pensamento, como o vento preso ao ar”, dizia o poeta. Era uma inquietação para ele o ato de pensar, era como uma febre.

Cleonice recordou também os “vários eus de Pessoa”, representado pelos  famosos heterônimos, como Álvaro de Campos e Alberto Caieiro. A professora fez alusão a uma famosa frase do autor para explicar conflitos internos dele: “Eu de ter tantas almas, nem minha alma chego a ter”.

O professor Júlio Diniz, diretor do Departamento de Letras da PUC e ex-aluno de Cleonice, ressaltou a importância do encontro:

– Foi maravilhoso. Para aqueles que nunca assistiram a uma aula de Dona Cleonice, certamente esta foi inesquecível.