Chegou ao fim a disputa eleitoral britânica mais imprevisível dos últimos anos. O resultado da eleição parlamentar foi divulgado no início da tarde de hoje (07/05). O Partido Conservador, de David Cameron, conquistou 306 assentos no Parlamento, mas, com 36.1% dos votos, o partido não conseguiu os 326 assentos necessários para governar sozinho. O impasse não acontecia na política britânica desde 1974.
Com o resultado, os conservadores são obrigados a formar uma aliança com um de seus concorrentes para tentar assumir o poder, o que abre espaço para o chamado Hung Parliament, que não acontecia há 36 anos. Na ocasião, a falta de um acordo obrigou a convocação de outro pleito no mesmo ano.
O Reino Unido é uma monarquia parlamentarista e seu poder político se divide entre a Câmara dos Lordes, onde as cadeiras são ocupadas por direito hereditário ou indicação da rainha, e a Câmara dos Comuns, que tem maior atuação legislativa. Cada membro do Parlamento é eleito por uma região e o partido que conseguir a maioria da casa tem o direito de escolher o primeiro-ministro e assumir o controle do Poder Executivo.
Em entrevista ao Portal PUC-Rio Digital, David Hayes, editor-assistente do site britânico openDemocracy, disse que pode levar algum tempo até que se chegue a um acordo de coalizão. Para ele, seria necessário que as partes superassem muitos problemas para uma solução eficaz.
– A Grã-Bretanha tem a experiência recente da política de coalizão no País de Gales e na Escócia, mas não
O futuro do Parlamento gira em torno de três possíveis opções. Na primeira delas, o Partido Conservador busca o apoio dos liberais-democratas que, liderados por Nick Clegg, ficaram em terceiro lugar na eleição, com 57 assentos. Clegg já declarou que está aberto a negociações.
A segunda opção – a mais provável antes da declaração de Clegg – seria a união dos dois partidos de centro-esquerda, o Liberal Democrata e o Trabalhista, do atual primeiro-ministro Gordon Brown. O problema é que os assentos conquistados pelos dois partidos somariam 315, o que não seria suficiente para garantir o controle do governo. Além disso, Clegg não se relaciona bem com o premiê e se recusa a fechar uma aliança caso Brown continue no poder.
Em último caso, não haveria nenhum tipo de acordo entre os partidos e, como em 1974, haveria uma nova eleição. De acordo com Hayes, “os Conservadores poderiam tentar governar sozinhos e desafiar os outros partidos a questionar no Parlamento sua liderança, o que obrigaria o partido a convocar um novo pleito”.
Durante a campanha, que durou um mês, a recuperação econômica do Reino Unido, após a pior recessão dos últimos 65 anos, foi tema central. A ausência de uma definição eleitoral causa preocupação nos mercados financeiros. Os agentes econômicos pedem um candidato com mandato estável que possa combater o déficit público britânico, que já chega a quase 12% do PIB.
O líder conservador David Cameron, segundo especialistas, conseguiu mudar a imagem do seu partido, tradicionalmente ligado à figura de Margaret Thatcher. A "dama de ferro", como ficou conhecida, foi primeira-ministra de 1979 a 1990 e se destacou pelas campanhas contra o Estado de bem-estar social que o Reino Unido vivia na época.
Com a sua tentativa de acordo com os liberais, Cameron estaria se comprometendo a fazer uma reforma eleitoral que enfraqueceria o bipartidarismo na Grã-Bretanha. Independentemente da decisão final, a eleição encerrou a seqüência de governos do Partido Trabalhista, que se estendia desde 1997.
– Foi uma eleição fascinante, mas a emoção e as tensões da campanha podem dar lugar a um período mais morno, quando o novo governo estiver formado. Isso até pode levar algum tempo, mas é provável que as pessoas olhem para trás e pensem "Esperávamos muitas mudanças, mas nem tudo mudou" – concluiu David Hayes.
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