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Rio de Janeiro, 2 de maio de 2024


Campus

"É necessária a revisão dos mapas de risco do Rio"

Clarissa Pains - Do Portal

06/05/2010

 Camila Grinsztejn

Lotado, com mais de 200 pessoas, o Auditório do RDC da PUC-Rio recebeu ontem (05/05) a segunda mesa redonda do seminário Rio em risco: O papel do meio físico no planejamento e gestão das cidades. O encontro tratou do “diagnóstico” dos acidentes causados pelas chuvas de abril. A série de mesas redondas vai até sexta-feira, 07/05.

Na ocasião, o professor Adalberto da Silva, do Instituto de Geociências da UFF (Universidade Federal Fluminense), afirmou que várias encostas de Niterói teriam caído mesmo se não houvesse pessoas morando nelas. O fato de a cidade ter muitas áreas verdes razoavelmente preservadas não significa que o solo está protegido contra deslizamentos. Segundo ele, algumas medidas devem ser tomadas para lidar com problemas desse tipo.

– É preciso que os mapas de risco sejam utilizados e revisados periodicamente. A linguagem do mapa deve ser palatável, menos técnica, para que a administração urbana, a Prefeitura, os usuário possam compreender. A universidade e as associações profissionais também têm que se aproximar da comunidade, pois é ela que ajuda a cobrar as melhorias.

Já para o especialista em Geotecnia da PUC-Rio e do Instituto de Geologia da UFRJ Eurípedes Vargas, é necessário entender os mecanismos e os tipos de movimento de terra para que seja possível fazer previsões e análises de risco. Embora os deslizamentos sejam geralmente relacionados à incidência de fortes chuvas, ele afirmou que nem sempre é assim.

– Em junho do ano passado, houve um deslizamento em Vila Isabel mesmo sem ter chovido nada nos dias que o antecederam – exemplificou – Por isso, não podemos considerar essa como a única causa.

Sobre o mapeamento dos deslizamentos na região de São Gonçalo, a professora da UERJ Ana Valéria contou que, até 2004, não havia nenhum estudo no município, que tem cerca de 250 km2 de extensão e 900 mil habitantes. A pesquisa realizada pela professora, com o apoio de órgãos como a Defesa Civil de São Gonçalo e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), tem o objetivo de descobrir onde os movimentos de terra acontecem. Apenas desse modo é possível emitir o alerta para acidentes e, assim, evitar catástrofes.

– Foi muito importante ter descoberto que 80% dos movimentos de terra são deslizamentos de encostas, e 17% são deslocamentos de blocos. A partir daí, os esforços passam a ter um foco – disse – O fundamental é que existam áreas experimentais e que essa pesquisa seja permanente.

Segundo Nelson Meirim, da Fundação Geo Rio, o acúmulo do volume de chuvas durante a semana do temporal foi 360mm, 400% a mais do que costuma chover em todo o mês de abril. O pico aconteceu em dois momentos: no dia 6, às 17h, e às 2h do dia seguinte. A estação pluviométrica onde houve mais intensidade de chuvas foi a de Madureira, com 57mm por hora.

– O pico da semana aconteceu no dia 6, mas, na verdade, teve início na tarde do dia 4, quando a maior parte das estações pluviométricas registrou índice de chuva muito alto. Esse estado anormal durou até o dia 10, isto é, cerca de 120 horas no total – afirmou.

A maior parte das tragédias na cidade aconteceu na madrugada do dia 5 para o dia 6. A Geo Rio coleta dados desde 1997, e, para Meirim, ainda há muito a ser feito quanto à prevenção desse tipo de desastre.

– Terminamos 2009 com 11 mortes, no último dia do ano, devido a acidentes em decorrência de chuvas. Em 2010, são 68 mortes até agora, e estamos apenas no mês de maio. Temos que parar para pensar se queremos ainda viver situações como essa.

O seminário Rio em risco: O papel do meio físico no planejamento e gestão das cidades é organizado pelo Departamento de Geografia da PUC-Rio, com o apoio do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (Nima) e do Departamento de Engenharia Civil. A programação completa pode ser vista aqui.