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Rio de Janeiro, 2 de maio de 2024


País

Na Copa das figurinhas, o Brasil põe a mão na taça

Bruno Alfano - Do Portal

29/04/2010

Mauro Pimentel

A anfitriã África do Sul abrirá a Copa só no dia 11 de junho, mas a maior competição do futebol mundial já movimenta corações, mentes e negócios. Lançado no dia 11 de abril, o álbum da Copa 2010 virou febre entre crianças e adultos. Os marmanjos correspondem a 34% dos consumidores, como indicam os pilotis tomado por figurinhas. Rodas de troca e até disputas de bafo-bafo viraram rotina. (Bafo é aquela brincadeira de bater com a palma da mão nas figurinhas para tentar virá-las e assim conquistá-las.) 

A procura é seis vezes superior à registrada na edição passada, referente à Copa 2006. O Brasil ficou em segundo lugar no ranking de consumo, atrás só da anfitriã Alemanha. Neste ano, os brasileiros caminham para o título. A Panini, fabricante do álbum, distribuiu cerca de 3,5 milhões de exemplares no país. 

O volume de vendas corresponde ao peso do futebol na terra dos pentacampeões. Para Sônia Travassos, professora de antropologia cultural da PUC-Rio, a mobilização em torno das figurinhas antecipa a entrada do brasileiro – "que respira futebol" - no Mundial. Ela não se surpreende com o sucesso comercial:

– O futebol não é igual a um brinco que vira moda. Essa mobilização toda é verdadeira e muito natural por causa da paixão que o brasileiro tem pelo esporte.

Ainda de acordo com a professora, outra razão para a recente mania nacional remete à tradicional busca pelo convívio social:

– Ninguém coleciona figurinha sozinho, em casa – argumenta – A prática promove a interação entre as pessoas.

 Mauro Pimentel Fazer trocas é mesmo fundamental para quem quer completar logo o álbum. Como já fez o estudante de Jornalismo Pablo Carrilho. Aos 22 anos, chega ao seu quinto álbum completo de Copas do Mundo. "O negócio é trocar muito, em vez de comprar muito", orienta o craque das figurinhas. Ele ensina outra tática: comprar em bancas variadas para, segundo o especialista, reduzir a chance de figuras repetidas. 

Pablo começou a colecionar em 1994, aos 6 anos, no álbum recebido do pai. Deu sorte: naquela Copa, disputada nos Estados Unidos, o Brasil conquistaria o quarto título mundial. A "experiência de tantos álbuns fez diferença para gastar pouco nesse ano":

– Dessa vez só sobraram 30 figurinhas. Quanto menos sobrar, mais barato fica o álbum.

No campo das figurinhas, prevalece a ofensividade. Pablo conta que já arrancou até um shopping em Botafogo só para trocar. A ousadia foi premiada:

– Lá se troca com criança, adolescente, velho. Na PUC eu também troquei muito. Mas não podemos esquecer que colecionar é uma diversão – lembra.

Diversão significa "investimento". O estudante de Direito Rafael Martins, de 26 anos,  gastou, em duas semanas de álbum, R$ 56. Nada de retranca. Para chegar às 100 figurinhas pendentes, terá de driblar restrições orçamentárias. O esforço é premiado com alguns troféus, como o escudo brilhante da Argentina:

– Foi a minha figurinha mais difícil – vibra – Tive a sorte de consegui-la repetida. Mas não troco com ninguém, para os meus amigos não completarem – argumenta, como se disputasse a própria final da Copa.

 Mauro Pimentel Em boa parte dos casos, a mania assume contornos próximos aos da disputa mundial. A brincadeira vira negócio. No mercado das trocas, a figurinha mais rara vale muitas outras, mais comuns. Pouco importa a biografia ou o prestígio do jogador ali estampado.

O inglês David Beckham, por exemplo, nem participará da Copa, por causa de uma lesão. Mas segue batendo um bolão entre os colecionadores. O estudante de Comunicação Diogo Ramalho (foto) empenhou dez figurinhas para ter Beckham no seu álbum, completado em (!!) uma semana. O quarto da carreira de colecionador.

– Eu dei dez figurinhas para o cara não colar o Beckham no álbum dele e sim no meu – conta, com orgulho – Trocar figurinha aqui nos pilotis é muito fácil: basta abrir o álbum em qualquer banco que aparece gente.

Além dos pilotis e dos shoppings, a internet é uma aliada para quem procura completar o álbum. Sites de relacionamento como Orkut e Twitter servem de balcão de negócios. Em leilões virtuais, pode-se comprar todas as figurinhas de uma vez por cerca de R$ 150.

Embora os brasileiros sejam craques também na Copa das figurinhas, o fenômeno tem dimensão mundial. Reproduz-se em 110 países, até nos que nem jogarão o Mundial, como Bolívia e Colômbia. No Brasil, o álbum custa R$ 3,90 e cada pacote com cinco figurinhas, R$ 0,75.