Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 2 de maio de 2024


País

“Brasília é mais que a Praça dos Três Poderes”

Lucas Soares - Do Portal

30/04/2010

Dividido entre o carimbo político e o orgulho anônimo das ruas, o cinquentenário de Brasília expõe faces historicamente ofuscadas pela genética futurista e por escândalos dos nossos mandatários. O lado humano, dos candangos de ontem e de hoje, foi ressaltado pela jornalista Mara Bergamaschi em palestra na PUC-Rio. No encontro com os estudantes, uma das colaboradoras do livro Brasília aos 50 anos – que cidade é essa?, organizado por Beth Cataldo e Graça Ramos (Tema Editorial, 2010), lembrou as histórias de uma recém-formada na capital, "uma cidade como outra qualquer":

– Salvador e Rio, quando capitais, também foram alvos de denúncias e críticas a quem esteve no poder. As pessoas só lembram-se dos escândalos políticos no poder central e esquecem que Brasília, antes de capital, é uma cidade como outra – observa Mara – Brasília também é um museu a céu aberto. É muito mais do que a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes.

A jornalista chegou a Brasília aos 23 anos. Formada pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, foi trabalhar na sucursal da Folha de S. Paulo. Ela admite que, em princípio, estranhou "a cidade imponente":

– Eu me sentia no meio do nada. A relação espacial em Brasília é muito diferente de Belo Horizonte. Quando deixei o aeroporto num táxi, depois de cruzar toda a Asa Sul, perguntei ao taxista onde começava a cidade. Ele riu.

Ao estranhamento do primeiro contato, somaram-se a insegurança e a empolgação da chegada numa Brasília imersa na redemocratização. Aos jornalistas novatos na capital, desfalcados de fontes, restava "registrar tudo que víamos e ouvíamos, não só nos encontros de governo, mas nos bastidores". A dificuldade inicial seria acompanhada de outro desafio: separar o público e o particular.

 Mauro Pimentel

– Como a cidade é pequena, a gente acaba encontrando um político ou um ministro num parque, num restaurante. A maior dificuldade de um repórter em Brasília é separar a vida pública da vida privada. Tem sempre a questão ética.

Apesar de nunca faltarem pautas – abastecidas pela intensa cobertura política – Mara classifica o jornalista brasiliense como cético. Segundo ela, nem sempre é fácil para os jornalistas mergulhados na cobertura do poder central entenderem anseios do restante do país:

– Devido ao montante de denúncias, às vezes o que se acha pouco importante, na verdade não é. O escândalo do mensalão, que causou uma grande revolta em todo país, não chamou a atenção dos jornalistas de Brasília no início.

Mara disse aos estudantes que o número de oportunidades para o jornalista em Brasília é amplo. Segundo ela, além das sucursais de grandes jornais e revistas, há um vasto número de vagas em assessorias, sobretudo políticas, e em agências. Vagas nos meios de comunicação públicos também são frequentes. 

– É uma experiência única, sobretudo para quem realmente gosta de política – arrematou.