Lucas Soares - Do Portal
20/04/2010“Ele era um homem visionário, moderno, ousado.” Autor da maior biografia já feita sobre Juscelino Kubitscheck, o jornalista Cláudio Bojunga, professor da PUC-Rio, assim descreve o pai da capital agora cinquentona. Em comemoração aos 50 anos de Brasília, o livro JK: o artista do impossível ganha versão de bolso (Editora Objetiva, R$ 29,90). Nove anos depois da primeira edição, Bojunga avalia o legado do presidente dos “cinquenta anos em cinco
– As pessoas às vezes não entendem a proposta de Juscelino. O que ele propôs, e conseguiu, foi integrar o nosso país. A Amazônia, o Sudeste e o Nordeste: tudo foi unificado por Brasília. Juscelino resgatou o sentimento de nação – observa Bojunga.
Na opinião do jornalista, a mudança do Rio para a capital erguida no Planalto Central, há meio século, revela-se acertada. Posições contrárias podem representar uma avaliação precipitada, pondera Bojunga, pois Brasília "ainda é muito nova":
– É cedo para fazer comparações entre o Rio e Brasília. O Rio tem mais de quatro séculos de vida, enquanto a nova capital está fazendo 50 anos ainda. Muita gente critica a nova capital, mas esquece que Brasília não estragou o país, pelo contrário: foi o Brasil que estragou Brasília. A maioria dos políticos que lá trabalham não são de lá – lembra.
Maior biógrafo da vida de Juscelino, o professor observa que o grande desafio do presidente foi a conjugação entre democracia, desenvolvimento e cultura. Segundo ele, o fato de Juscelino ter conseguido manter a democracia até o fim de seu governo transformou-se em enorme orgulho:
– Ele mesmo disse isso em entrevista: “A glória do meu governo foi manter o regime democrático apesar de tudo, apesar de todas as tentativas, todos os esforços para derrubá-lo. Em 40 anos de vida republicana eu fui o único governo civil que começou e terminou no dia marcado pela Constituição.”
As tentativas de derrubar o governo não foram poucas. De um lado, a esquerda queria “fazer a revolução”. Do outro, a direita rondava o golpe militar. Bojunga ressalta que, apesar das dificuldades, o desenvolvimento da economia, marcado pelo Plano de Metas, mudou o Brasil de patamar:
– Foi a partir de Juscelino que o Brasil se industrializou. Antes, o Brasil era o país do café.
Bonjunga destaca também "a terceira e mais singular face do governo JK": a valorização da cultura, "que nunca mais se repetiu em outro governo". A "idade de ouro" da cultura brasileira sustentou-se numa explosão de criatividade nas artes plásticas, na poesia, na música popular, na arquitetura.
– Oscar Niemayer, Lucio Costa, Tom Jobim: todos acreditaram
Bojunga tenta, com seu livro, dissipar os fantasmas que assombram a memória de JK. Derruba acusações de inflação, corrupção e entreguismo. Para o autor, dizer que a inflação do governo JK se perpetuou até o governo Sarney "é uma grande falácia".
– A inflação de 30% ao ano de Juscelino, no auge da construção de Brasília, em nada tem a ver com os 25% ao mês de Sarney. Além disso, não houve nenhum ato de corrupção provado no governo dele. Os militares investigaram, tentaram de todas as maneiras achar uma prova contundente, mas não havia – argumenta Bojunga.
O jornalista afasta também a acusação de que Juscelino teria sido entreguista ao deixar que multinacionais, sobretudo automobilísticas, se instalassem no país:
– Dizer que ele era entreguista é uma estupidez monumental. Se não fosse Juscelino, o Lula estaria em Caruaru até hoje. Ele é produto sindical de uma economia moderna fundada por Juscelino.
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