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Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2024


País

"Serra precisa construir uma imagem mais simpática"

Clarissa Pains - Do Portal

13/04/2010

Coordenador de graduação do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio, o cientista político Ricardo Ismael afirmou que o lançamento da pré-candidatura de José Serra (PSDB), no último sábado (10/04), “superou suas expectativas”. O professor observou que o pré-candidato – todos os pretendentes atuais à Presidência só serão oficialmente candidatos após as convenções dos partidos – permaneceu “submerso” principalmente na primeira quinzena de março, o que trouxe certos problemas com os aliados porque levantou incerteza quanto a sua indicação.

– Agora, a postura de Serra é diferente. Tanto ele quanto Dilma Rousseff precisam construir uma imagem mais simpática, mais agradável. Grande parte das pessoas avalia se o candidato é alguém que chamariam para tomar um café, por exemplo. Os dois estão se esforçando para se encaixar nesse perfil.

Para Ismael, o tucano tem vantagens em relação à candidata do PT, pois concilia a carreira política com a administrativa, enquanto Dilma tem experiência apenas na última. Ainda é incerto se Lula conseguirá transferir um número razoável de votos para sua candidata. Pesquisas recentes apontam que cerca de 30% dos “lulistas” pretendem votar no candidato da oposição.

A estratégia inicial de Serra é incentivar o eleitor a olhar para o futuro e analisar quem será mais capaz de torná-lo melhor. No caso da petista, a estratégia é estimular a comparação entre o governo de Fernando Henrique Cardoso e o de Lula. De acordo com Ismael, o tucano não deve realizar ataques diretos a Lula, por conta de sua grande popularidade.

– Em 1989, todos atacavam o então presidente, José Sarney, porque ele era muito impopular. Nas eleições de 2010, o presidente será poupado, já que não é uma posição confortável para Serra ser encarado como anti-Lula – comenta – Entretanto, há ainda a possibilidade de ele criticar áreas em que o governo Lula é mais frágil, como a saúde, e aspectos conflituosos, como a aproximação do Brasil com o Irã de Ahmadinejad.

Ismael acredita, no entanto, que a pressão midiática sobre os pré-candidatos ainda está leve e os indicadores de popularidade por enquanto não dizem muito. O momento em que eles terão de convencer cerca de 132 milhões de eleitores ainda não chegou.

– O debate sobre as eleições só vai entrar na vida das pessoas, nas conversas em família, nas discussões cotidianas, depois da Copa do Mundo. Até lá, nada está decidido.

A grande expectativa dos próximos dias, segundo o professor, é a definição de Ciro Gomes (PSB).

– Se ele quiser ter alguma chance, tem que mostrar logo que está no jogo. Mas não acredito que ele será candidato, porque o partido não está unido em torno de sua candidatura. Duvido que os caciques do PSB queiram se opor a Lula – dispara Ismael.

Ele ressalta que o período de início de abril até junho, mês das convenções partidárias, será difícil, uma vez que os candidatos já estão montando a campanha, mas não têm espaço na tevê. Esse é o momento, segundo Ismael, de “escalar o time que vai a campo”, montar os palanques estaduais, definir a logística da campanha e produzir eventos que mobilizem. Assim, os pré-candidatos começam a “falar ao eleitor”.

– Marina Silva, por exemplo, se encontrou com o diretor de Avatar, James Cameron. Isso lhe conferiu algum espaço na mídia.

O encontro da pré-candidata do PV com o cineasta no último domingo (11/04) foi divulgado por ela em seu Twitter. Segundo Ismael, o microblog é importante para mobilizar o eleitorado mais jovem que tem acesso à banda larga, mas, embora acredite numa maior participação das redes sociais, o professor afirma que não será em proporção comparável à da eleição Barack Obama, nos Estados Unidos.

– A relação via internet entre candidatos e eleitores vai, no entanto, avançar muito nas próximas eleições – acredita.

Nas 24 horas seguintes ao lançamento de sua pré-candidatura, Serra conseguiu arrebanhar mais 2689 seguidores, segundo dados do Twitter Counter, site que contabiliza números do microblog. Seu perfil, com cerca de um ano de existência, já conta com quase 200 mil seguidores e está entre os mil mais populares do mundo. Dos pré-candidatos à Presidência, o tucano é o twitteiro mais antigo.

Para Ismael, os candidatos deverão dedicar tempo para interagir com o público via Twitter, já que isso é necessário para conseguir mais seguidores. Entretanto, a mídia alternativa não vai se sobrepor ao rádio e à tevê, principalmente.

– Quem está mesmo acompanhando os sinais que os candidatos emitem via Twitter são os analistas e jornalistas, então qualquer coisa que colocarem no microblog pode ter bastante repercussão na mídia formal – comenta.