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Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


Cultura

Moacyr Scliar, na PUC-Rio: judaísmo é literatura

Luísa Sandes - Do Portal

25/03/2010

 Fotos: Camila Monteiro

“Judaísmo é literatura”, disse Moacyr Scliar em palestra ontem (24/03), um dia depois do seu aniversário de 73 anos, na aula inaugural do Curso de Especialização em Estudos Judaicos da PUC-Rio. Para o escritor, a identidade da literatura judaica resulta da situação peculiar desse povo muitas vezes expulso e estrangeiro. Portanto, mais do que de um passado histórico, a literatura nasce da tentativa de entender essa cultura. Descobrir seu judaísmo e buscar a resposta no vazio da existência é o que o impulsiona os judeus a escrever.

Durante a palestra, intutulada Judaísmo e Literatura, Moacyr Scliar declarou que a paixão pela palavra, os clássicos personagens literários, como a mãe judia e o psicanalista, e o humor amargo, melancólico e triste são fortes características das narrativas dessa cultura. As histórias contam sobre lutas repletas de sofrimento.

Em suas obras, Moacyr Scliar, um dos principais escritores da literatura brasileira contemporânea, trata de temas como a vida da classe média brasileira e o judaísmo. Filho de imigrantes russos, Scliar cresceu em Porto Alegre. Durante a infância, os pais se reuniam e conversavam com frequência, e isso o impulsionou a escrever.

– As histórias que meu pai contava são a matéria-prima da minha literatura. Ele encantava com as palavras – contou o escritor.

A Bíblia foi um dos primeiros livros que Scliar teve contato. Quando começou a ler a obra, enxergava apenas o aspecto religioso. Com o tempo, passou a vê-la pelo ponto de vista literário, segundo ele, um dos mais originais do mundo. “Um componente misterioso” e um “impulso interior” fizeram com que o escritor, que tem o nome em homenagem à obra Iracema, de José de Alencar, se aproximasse da literatura.

– No início, escrevia histórias infantis. Aos poucos descobri livros judaicos como os de Isaac Babel, um dos autores que mais me emocionaram na vida – relembrou.

De acordo com Moacyr Scliar, a essência judaica de buscar constantemente entender as coisas pode ser percebida nas entrelinhas das obras do escritor tcheco Franz Kafka. Scliar também declarou que, apesar da brasileira Clarice Lispector ser muito mais judia do que ele, a autora nunca escreveu sobre a temática judaica.

A primeira turma do Curso de Especialização em Estudos Judaicos começou a ter aulas dia 8 desse mês. Ao abrir a aula inaugural, a coordenadora e professora do Departamento de Educação da universidade, Sonia Kramer, disse estar emocionada e agradeceu aos alunos, em sua maioria também professores.

– Mais do que gostar de ensinar, devemos gostar de aprender. Para mim, o espírito desse curso é de liberdade – disse a professora.

A palestra também contou com a presença do reitor da PUC-Rio, Padre Jesús Hortal SJ. O reitor ressaltou que há muito desejava um curso de estudos judaicos na universidade. 

– Temos que ver os judeus como produtores de cultura no Brasil e não apenas a partir da história deles. É uma satisfação muito grande ter aqui o Moacyr para falar dessa cultura imortal, afinal ele é um imortal – afirmou o reitor.

Moacyr Scliar é membro da Academia Brasileira de Letras. Teve obras traduzidas para doze idiomas, formou-se em medicina e cursou pós-graduação na área em Israel. Hoje é professor universitário de medicina. Entre suas obras mais importantes estão A história de um médico em formação (1962), A guerra do bom fim (1972), O exército de um homem só (1973), Mês de cães danados (1977), O centauro no jardim (1980), A orelha de Van Gogh (1988), Olho enigmático (1988) e A mulher que escreveu a Bíblia (1999).