Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 6 de maio de 2024


Campus

"A vida não basta para os homens"

Bianca Baptista - Do Portal

25/03/2010

Camila Monteiro

O poeta Ferreira Gullar filosofou sobre a vida e o homem ao falar de suas experiências em palestra, ontem (24/03), às 14h30, no auditório do RDC. Com o tema "Desconstruir para construir", o escritor maranhense conversou com uma platéia de cerca de 80 pessoas sobre o papel fundamental do conhecimento na vida humana. O encontro foi parte do ciclo Jornada Educação século XXI.

– É impensável ver que a cidade é simplesmente acréscimo de conhecimento, mas comprovei isso no dia que meu carro parou, abri o capô e fiquei olhando o motor. Tudo aquilo é invenção humana, conhecimento acumulado que adquirimos - argumentou. 

Outros pontos apresentados pelo poeta, que também é jornalista, foram a imperfeição do ser humano e a busca incessante deste por respostas. Por isso, a necessidade do homem de inventar extensões do corpo, de criar artifícios para sobreviver.

– Se formos observar o homem lá no Paleolítico, ele era fisicamente mais fraco que um bisão. Por isso criamos a lança, o arco e flecha. Para podermos comer esse inimigo mais forte. Assim como hoje existe o boneco do oponente e alfinetes – brincou.

Foi também a partir dessas criações humanas como forma de dar sentido a vida que, de acordo com Gullar, o homem criou a arte.

– A arte existe porque a vida não basta. A realidade não basta. As noites estreladas são lindas, mas não há nenhuma como a noite estrelada de Van Gogh. A arte acrescenta a vida, o homem sempre busca mais beleza e emoção, por isso ela existe. Não é por menos que todo cientista termina uma pesquisa com uma frase de um poeta.

O autor também revelou um pouco da sua intimidade ao levar sua tese sobre as pessoas nascerem destinadas a uma prática. Citou Pelé, o jogador Canhoteiro, amigo de infância do escritor, e ainda sua arrumadeira, a Maria.

– Essas pessoas nascem para fazer isso. O Pelé, o canhoteiro [maranhense que foi jogador do São Paulo na década de 1950], e a Maria. Ela, por exemplo, não sabia cozinhar, mas eu precisava que ela cozinhasse para mim. Então, ensinei ela a preparar arroz-de-cuxá, torta de camarão e, ela, que nem maranhense é faz muito melhor que eu. Essa é uma das razões que me fazem acreditar que nasci poeta. Não planejo nada e sai – argumentou.

A questão do dom ainda lembrou ao autor de um episódio na sua aula de redação, quando redigiu um texto irônico sobre como ninguém trabalha no feriado do dia do trabalho. Tirou nota 9,5 pela originalidade, porém não tirou a nota máxima devido aos erros gramaticais.

– Acho que por perceber que escrever era a única coisa que eu era bom, e que talvez tivesse nascido para isso, passei dois anos lendo livros de grámatica da língua portuguesa, mas não deu muito certo não – contou rindo.

Três anos depois, a redação da época de escola inspirou seu primeiro poema, O trabalho, publicado em 1948 pelo jornal O Combate de São Luís, no Maranhão.

Ao terminar a palestra no auditório do RDC sobre o modo de criar poemas. O autor de O Formigueiro, entre outros poemas, ressaltou que, quando escreve, o faz sem planejar.

– Eu espero me surpreender. Muitas vezes posso ser apanhado com o mais simples possível, como uma flor de jasmim que me ataca com seu cheiro. Isso me inspira – revelou.