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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cultura

Pré-estreia de filme emociona Silvio Tendler

Luísa Sandes - Do Portal

19/03/2010

Fotos: Camila Monteiro

A utopia de um mundo melhor e as barbáries causadas pelas guerras e ditaduras após a Segunda Guerra Mundial compõem o documentário Utopia e barbárie de Sílvio Tendler, que teve sua pré-estreia ontem (18/03) no Instituto Moreira Salles, na Gávea. Público e diretor se emocionaram com a exibição.

A partir do olhar humanista de Silvio Tendler, o filme analisa as transformações do mundo globalizado e os sonhos de uma geração que lutava por mudanças. A bomba de Hiroshima, o holocausto, a Revolução Chinesa, o socialismo cubano, a independência do Congo, o golpe militar de 1964 no Brasil, o imperialismo americano, a Primavera de Praga, a derrubada de Allende no Chile, a queda do Muro de Berlim e o impeachment de Fernando Collor foram temas abordados pelo diretor.

Depoimentos de jornalistas, cineastas, escritores, filósofos, teatrólogos e militantes políticos enriquecem a narrativa do filme. Entre eles, Eduardo Galeano, Augusto Boal, Ferreira Gullar e Dilma Rousseff. Além de expor o pensamento de desses e outros importantes personagens, o documentário apresenta citações, por exemplo, de Caio Fernando Abreu e Paulo Leminski, que tornam o filme ainda mais poético.

Utopia e barbárie, que estreia nos cinemas dia 23/04, demorou 20 anos para ficar pronto e custou R$ 1 milhão. Cerca de mil horas de material, que inclui cenas históricas, entrevistas e viagens do diretor pelo mundo, tiveram que ser reduzidas a 120 minutos de filme.

 – Fazer o documentário foi uma vida louca, uma convivência "diuturna" com ele. Doía cada fotograma que eu cortava por causa da ditadura do tempo e do dinheiro – contou o diretor. – Ao longo do filme, fui ficando mais velho. No início, tinha o ímpeto de mudar o mundo. Hoje quero entendê-lo.

Segundo Silvio Tendler, os interesses dos jovens mudaram. Enquanto a geração de 1968 tinha a utopia da transformação, hoje a briga é para levar o metrô até a Barra. De acordo com o cineasta, a juventude contemporânea valoriza a individualidade e a tecnologia. O diretor espera que no futuro os jovens lutem por algo melhor e tenham o bom senso de perceber o que há de negativo na realidade atual. A utopia de Silvio Tendler é continuar discutindo o mundo. Para ele, o cinema é uma arma de luta.

A sessão foi realizada por meio de uma parceria do Instituto Moreira Salles com a Abraci (Associação Brasileira de Cineastas), que uma vez por mês promove a pré-estreia de um filme brasileiro. Após a exibição, o diretor e a equipe do filme conversaram com a plateia e contaram como foi a experiência de fazer o documentário.

– Participar desse filme é um privilégio. Utopia e barbárie é uma aula de história narrada pelo Silvio. Quero mostrar para os meus filhos e netos. Afinal, é fundamental que eles saibam sobre a história do mundo, que não pode ser esquecida nem negada – declarou a atriz Letícia Spiller, uma das narradoras do filme. Além dela, o ator Chico Diaz e o diretor de teatro Amir Haddad emprestaram a voz ao longa-metragem.

Antes de fazer o documentário, Silvio Tendler utilizou o mesmo material para montar uma série de seis episódios, cada um com 26 minutos de duração. O programa foi ao ar em agosto de 2009 pela TV Brasil.

– Era para terminar o filme na época do Collor. Depois vieram a queda das torres gêmeas, a eleição do Lula, do Obama, do Evo Morales e a crise econômica mundial. Essa era a hora de dar um ponto final nesse filme. Porém, é uma história que não para, não tem fim – concluiu o diretor.