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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Mundo

Especialista prevê mais terremotos em curto prazo

Evandro Lima Rodrigues - Do Portal

09/03/2010

 Ximena Valenzuela

Terremotos como os que assolaram, em dois meses, Haiti, Chile e Turquia são cíclicos, guardam pouca ou nenhuma relação com deslizes ambientais cometidos pelo homem. Também nada têm a ver com o aquecimento global constatado por pesquisadores. Embora as consequências trágicas (mais de 200 mil mortes, só no Haiti) sugiram teorias apocalípticas, especialistas asseguram: os terremotos mantêm a frequência e a austeridade constatadas ao longo dos séculos. De acordo com o Centro de Informação de Terremotos USGS, nos Estados Unidos, o planeta registra média anual de 17 tremores de grande proporção (acima de 7 graus na Escala Richter).

O professor de ecologia Achilles Chirol, do Departamento de Geografia da PUC-Rio, lembra que algumas regiões do mundo – como Chile, Tóquio, Haiti, Los Angeles (EUA) – reúnem condições geológicas favoráveis à incidência regular de grandes tremores. Segundo ele, o Brasil está livre deste tipo de problema. Incidem no país tremores de menor intensidade, sem consequências graves, como o de 2,4 pontos observado há duas semanas em Pernambuco e São Paulo. 

– O Brasil fica numa área muito estável do ponto de vista das placas tectônicas. Está longe das áreas de maior atividade sísmica. O país tem problemas ambientais mais sérios e urgentes, como as chuvas intensas que deram origem aos deslizamentos em Angra – alerta Chirol.

Ele explica que há "uma tendência natural à ação de terremotos" em diversas áreas do planeta sob "influência tectônica":

– Mais acontecimentos como esse [do Chile] podem ocorrer em intervalos relativamente curtos. O tsunami de 2004, no Sudeste Asiático, ocasionado por um terremoto, e o caso recente do Haiti comprovam isso. 

O jornalista André Trigueiro, professor de Comunicação e Meio Ambiente da PUC, não descarta a interferência humana no meio ambiente como causa indireta dos tremores:

– Alguns sismólogos afirmam que, dependendo da região e da configuração do solo, a retirada de águas subterrâneas e principalmente de petróleo e gás poderiam, eventualmente, deixar certas áreas mais vulneráveis a tremores. Mas trata-se de um posicionamento não consensual, pois divide opiniões de especialistas – ressalva Trigueiro.

 Luis Iturra

Para Chirol, a origem dos terremotos independe da interferência humana. Já a gravidade dos impactos desses  desastres naturais está diretamente relacionada a aspectos como a ocupação populacional (inadequada).

– Um grande exemplo recente foi o Haiti, onde houve mais de 200 mil mortos, agravando os efeitos do abalo sísmico. O país não estava preparado para o terremoto – observa o professor.

Outros países, como o Japão e o próprio Chile, adotam medidas para amenizar os impactos desses fenômenos frequentes. Recorrem a sistemas avançados de detecção, alerta e remoção. Por exemplo: ao identificar ondas gigantes registradas no Chile há duas semanas, o Japão ativou todos os alertas e ordenou a retirada dos habitantes nas regiões litorâneas. As ondas perderam força e não alcançaram a costa japonesa.

– Mesmo com um alarme falso sobre o tsunami, o Japão permanece com um trabalho de simulações periódicos e planos de ações em caso de desastres – destaca Chirol. Ele ressalta que medidas como treinamento específico e implantação de serviços públicos emergenciais diminuem os impactos dos terremotos sobre a população. 

As consequências devastadoras do recente terromoto chileno teriam sido muito piores se o país não tivesse, a exemplo do Japão, uma política sistemática de detecção e alerta. Ainda assim, foram registrados 795 mortes, 19 desaparecimentos e dois milhões de "afetados", segundo o governo chileno. Foi o sexto terremoto mais violento da história. O primeiro – conhecido como Grande Sismo – atingiu 9,5 pontos na Escala de Magnitude de Momento (MMS),  que quantifica a energia liberada, também aconteceu no Chile, em 1960.

Situado numa região onde grandes placas tectônicas – Placa Nazca e a Sulamericana – se encontram, o Chile está constantemente sujeito a terremotos. A pressão do choque destas placas, decorrente do constante movimento da Terra, gera um acúmulo de energia. Ao atingir um ponto crítico, a energia acumulada é liberada na forma de ondas sísmicas, que se propagam através da Terra.