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Rio de Janeiro, 1 de maio de 2024


Cultura

A série B do carnaval carioca

Bruno Alfano - Do Portal

11/02/2010

 Mauro Pimentel

Longe dos holofotes do desfile principal, o Grupo de Acesso – que conta com agremiações importantes como Império Serrano, São Clemente, Estácio de Sá e Caprichosos de Pilares – entra na Sapucaí no sábado de carnaval. O público, geralmente atraído por ingressos que custam em média R$20,00, acompanha todas as escolas na mesma noite, numa festa com quase 12 horas de duração.

O grupo gera dinâmica à disputa do carnaval. O primeiro colocado vai disputar a liga principal e o último do Grupo Especial é rebaixado. Além disso, os dois últimos do Grupo de Acesso A vão para o Grupo de Acesso B e os dois primeiros deste sobem. O movimento garante a competitividade do carnaval.

Para o carnavalesco Haroldo Costa, a importância do Grupo de Acesso para o carnaval carioca é a mesma do vestibular para a vida profissional. Segundo ele, mesmo com as dificuldades que esse grupo enfrenta, as escolas conseguem apresentar um carnaval de bom nível.

– As escolas do Grupo de Acesso atualmente apresentam desfiles de grande qualidade. A diferença é o orçamento disponível. É claro que as escolas do Grupo Especial, pela sua visibilidade, conseguem mais mídia e patrocínios substanciais, alem dos direitos de arena e do disco com os sambas-enredo. As escolas do Grupo de Acesso lutam com a falta desses recursos e tem que imaginar outras soluções – justifica Haroldo.

Para 2010, o especialista em carnaval faz suas apostas:

– Creio eu que podemos apontar como favoritos no Grupo de Acesso a Império Serrano, a Estácio de Sá, a Acadêmicos da Rocinha e a Renascer de Jacarepaguá. Geralmente as escolas que vão para o Grupo Especial tem voltado, mas este ano pode ser diferente. Quem sabe a União da Ilha [vencedora do Grupo de Acesso em 2009] fica?

Com o último lugar no carnaval do Grupo Especial de 2009, a Império Serrano se reorganizou e entra na briga para voltar à elite dos desfiles. De acordo com o carnavalesco da escola, Mauro Leite, as escolas precisam se adequar de acordo com o grupo em que elas competem no ano.

 Diego Mendes/Divulgação  – O planejamento muda completamente quando se está no Grupo de Acesso. O nível do desfile é parecido com o Grupo Especial, mas a nossa verba é apenas um décimo de uma escola do outro grupo. Precisamos usar mais a criatividade. E depois é muito difícil se manter no Grupo Especial. O tempo ajuda a montar uma estrutura que dá suporte à escola a permanecer no desfile principal – analisa Mauro.

O carnavalesco também ressaltou que é a favor de apenas uma escola chegar ao Grupo Especial, pois quando uma escola vai para o Grupo de Acesso tem que sair da Cidade do Samba. “Acho que é certo subir apenas uma escola do Grupo de Acesso. É uma situação muito cruel ter que voltar para o barracão”.

Com apenas um ano como carnavalesco – e outros 20 como assistente – Mauro Leite destaca a relação que a Império Serrano mantém com a sua comunidade. “É uma relação muito forte. A Império Serrano é uma escola tradicional que foi criada pelos moradores de Madureira. A comunidade ainda tem total participação na escola”.

Concorrendo com a Império Serrano por uma vaga no Grupo Especial, a São Clemente é a representante mais tradicional da Zona Sul. A escola de Botafogo oscila entre os dois grupos durante os anos e busca se firmar como uma das grandes da cidade.

Gilda Amorim acompanha a agremiação há muito tempo nas festas no barracão da escola, mas só desfilou três vezes pela São Clemente.

– Eu já participei em outras escolas, mas eu gosto é da São Clemente - conta Gilda.

A pensionista de 65 anos acredita que a diferença de um desfile do Acesso para o Especial é apenas o público, porque a seriedade é a mesma.

– As pessoas acham que o Grupo Especial é muito sério e que o Grupo de Acesso é para se divertir e não é assim. A gente se diverte sim, mas é sério. O carinho com a escola é o mesmo. Para o folião é a mesma coisa. Você desfila porque ama a escola e quer o melhor para ela - afirma.