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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cultura

Blocos invadem as ruas do Rio no fim de semana

Bruno Alfano, Lais Botelho, Lucas Soares e Mauro Pimentel - Do Portal

05/02/2010

 Mauro Pimentel

Irreverência e tradição são ingredientes do carnaval de rua carioca. Às vésperas da grande festa, os protagonistas da folia já começam a animar a cidade: os blocos carnavalescos cumprem o importante papel de democratizar a festa mais popular da cultura brasileira e são valorizados por isso. A partir desse final de semana, alguns dos mais importantes já vão para rua: o Cordão da Bola Preta na sexta, o Simpatia é Quase Amor no sábado e o Suvaco do Cristo no domingo. Também no domingo, retomando a tradição de décadas, a Banda de Ipanema organiza o banho de mar à fantasia.

Cordão da Bola Preta - Noventa anos com corpinho de 20

Em 1918, era um pequeno bloco de apenas 18 pessoas. Com o passar dos anos, transformou-se em uma tradição do carnaval carioca. Com muitos altos e baixos, nos 91 anos de história, o Cordão da Bola Preta nunca deixou de desfilar. Mesmo em 2008, quando perdeu a sede uma semana antes do carnaval, o bloco foi para rua e levou aproximadamente um milhão de pessoas com ele. Com a sede já recuperada, na rua 13 de Maio, os "bolapretensenses" – como são chamados os integrantes do cordão – conseguiram ainda dois imóveis e fizeram o Centro Cultural Cordão da Bola Preta. Considerado por muitos como "o que sobrou do carnaval carioca tradicional", o Bola emplacou na década de 30 seu hino que acompanha desde então sua história: o “Quem não chora não mama”, composto por Vicente Paiva e Nelson Barbosa, é o ponto alto da banda do bloco, conhecida como "sinfonia do carnaval" e que só executa os cancioneiros carnavalescos.

 Divulgação Kveirinha, primeiro Xerife do Bola, correspondente ao presidente do bloco, ganhou o titulo por enfrentar a polícia que proibia a criação de novos cordões e criou o Só se Bebe Água, em 1917. No ano seguinte, aconteceria a história que rebatizou o cordão: durante confraternização no Bar Nacional, uma linda mulher passou pela frente do bar com um belo vestido colante branco com bolas pretas. No meio da festa alguém gritou que o nome do bloco estava decidido “Cordão da Bola Preta”. No princípio foram apenas 100 foliões. Ao longo dos anos o bloco foi crescendo e ganhando madrinhas: a eterna é Elizete Cardoso, e atualmente o posto é ocupado por Maria Rita. Pixinguinha, Emilinha Borba, Jamelão, Dalva de Oliveira (recentemente apresentada por uma minissérie de TV) foram outros grandes nomes da música que seguiam o cordão. Até o presidente Getúlio Vargas saiu do tradicional baile do Theatro Municipal e foi participar do cordão na sede.

Esse ano o bloco vai seguir a risca seu calendário de anos e sai no sábado de carnaval, às 9 da manhã, pelas ruas do centro do Rio de Janeiro com sua madrinha, sua porta bandeira e suas rainhas. Entretanto, o carnaval já começa para o Bola hoje. Na praça Mauá, às 18h, o cordão realiza o desfile Grito de Alerta. Com início na Praça Mauá, o bloco passa pela Av. Rio Branco e tem a Cinelândia como destino. Para o desfile de hoje, o presidente do cordão, Pedro Ernesto, acredita que comparecerá algo em torno de 50 mil pessoas e 2 milhões para o desfile de sábado de carnaval. “O carnaval de rua vai crescendo de ano para ano e o Bola Preta exerce um fascínio nas pessoas. Nesse ano, o tempo está bom, tudo está depondo a favor”.

Simpatia É quase Amor

 Vergilius/AgGingafotos “Alô burguesia de Ipanema, olha o SIMPATIA aí, gente!”. Esse é o grito de guerra que pode ser ouvido desde 1985 ecoando pelas ruas do bairro de Ipanema. Com concentração na praça General Osório, passando pela rua Teixeira de Mello, Avenida Vieira Souto e encerrando no posto 10, o bloco terá seu primeiro desfile do ano neste sábado (6) a partir das 16h com a presença dos padrinhos Dona Zica da Mangueira e Albino Pinheiro, fundador e comandante da Banda de Ipanema.

Mestre Penha, comandante da bateria, completa nesse carnaval 25 anos de carreira, fato que só foi alcançado pelo mestre Louro da bateria do Salgueiro.

- A expectativa é a maior possível. Esperamos receber mais de cinquenta mil pessoas e agitar a galera nesse 26º ano de carnaval do bloco - afirma Mestre Penha.

Simpatia é Quase Amor ou para os mais íntimos “Simpa”, teve seu nome em homenagem a um personagem do livro Rua dos Artistas e Arredores, de Aldir Blanc , o Esmeraldo Simpatia é Quase Amor. Um conquistador boêmio que esbanjava simpatia por onde passava.

O bloco tem como cores principais o amarelo e lilás e há divergências quanto à justificativa da escolha. Alguns acreditam que elas sejam relacionadas ao antiácido Engov e outros nas cores do biquíni de uma estonteante garota de Ipanema que passava no momento da decisão.

Todo ano ensaios são organizados por foliões, em quadras particulares, para escolher o samba que será cantado na avenida. Nesse carnaval, os ensaios foram realizados no bar Parada da Lapa nos dias 15 e 22 de janeiro. As blusas também variam a cada ano. O bloco convida um nome expressivo das artes plásticas, do desenho ou do design, para confeccionar a camiseta. O desenho do ano passado foi feito pelo cartunista Ziraldo e o desse ano pelo artista plástico Vick Muniz.

Suvaco do Cristo

Há 25 anos nascia o bloco carnavalesco mais tradicional do Jardim Botânico, o “Suvaco do Cristo”. A história começou no Posto 9, na praia de Ipanema. Era domingo, 17 de novembro de 1985. Estavam Jards Macalé, Xico Chaves e Luis Lavinho, cantores e compositores, curtindo o dia de sol. Depois de uma briga hilária do Macalé com um cara na praia, os amigos bebiam e riam da situação. Estavam pensando num nome para um bloco que a princípio seria alguma coisa com “tamanduá”, e depois virou “olha o tamanho do A”. Mas foi depois de uma entrevista de Tom Jobim se queixando do mofo dos armários de sua casa que surgiu o nome do bloco. O compositor reclamava que havia muita umidade na casa dele devido à localização na Rua Lopes Quintas, embaixo do “suvaco do Cristo”. Nome ideal para um bloco cujo quartel general localizava-se na Rua Maria Angélica, logo abaixo do braço direito do Cristo Redentor.

 Vergilius/AgGingafotos O bloco foi formado inicialmente por foliões que não eram chegados ao samba. A turma preferia rock, mas mesmo assim ousaram criar um bloco para desfilar pelas ruas do Rio. Os ensaios ocorriam numa quadra comunitária no Horto, perto do Clube dos Macacos. Com o crescimento, tiveram que se mudar para o Clube Condomínio, no Horto. O local de concentração também foi mudando ao longo dos anos. Os primeiros desfiles partiram do endereço na Maria Angélica. Mais tarde, a concentração passou a ser no mesmo local de ensaios, o Clube Condomínio.

Nos últimos anos, a folia tem começado em frente ao Bar Jóia, esquina das ruas Jardim Botânico com Faro, e embala os festeiros até a Praça Santos Dumont, no Baixo Gávea. A organização evita anunciar a hora do desfile, devido ao grande número de pessoas que participam a cada ano. Estima-se que cerca de 50 mil pessoas desfilam pela rua Jardim Botânico. A informação é a de que o bloco se concentra a partir das 8h, próximo ao Bar Jóia. Mas surpresas podem acontecer. Para evitar a superlotação, o bloco pode sair mais cedo. A expectativa é que a festa termine por volta das 13h.

Segundo João Carlos Avelleira, presidente do bloco, o mais importante não é a quantidade, mas a qualidade do folião.

- A gente espera um domingo de muito divertimento, com as pessoas que queiram realmente brincar o carnaval. Esse ano vamos desfilar e comemorar nossos 25 anos.

Banda de Ipanema

O que era apenas um bloco carnavalesco, após 46 anos desfilando, tornou-se patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro.

A Banda de Ipanema, formada em 1965 por ilustres e anônimos, fará nesse sábado (5) a segunda das suas três apresentações de carnaval. Este ano, uma antiga tradição será resgatada: o banho de mar à fantasia. A organização prometeu distribuir cerca de 300 fantasias de crepon aos desavisados.

O desfile de 2010 homenageia brasileiros ilustres como Noel Rosa, Vadico, Adoniran Barbosa e Oscar Niemeyer. Outro que será lembrado é Albino Pinheiro, fundador do bloco, falecido em 1999. Niemeyer que completou 102 anos de idade, contribuiu com o desenho que estampa as camisas do bloco e ainda escreveu em parceria com um enfermeiro, durante sua última internação, uma marchinha que será adicionada ao repertório do bloco.

Mesmo com declarações como a do cartunista Jaguar, que junto de Ziraldo e da equipe do jornal O Pasquim, participou da criação do bloco, de que a Banda de Ipanema  "foi desvirtuada, virou banda gay e de patrocínios", a agremiação continua recebendo cada vez mais foliões. Para o desfile deste sábado estima-se mais de 50 mil pessoas.