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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


País

"A era das mega hidrelétricas já passou"

Lais Botelho - Do Portal

03/02/2010

Especialistas entrevistados pelo Portal PUC-Rio Digital condenaram o projeto da usina de Belo Monte, cuja licitação foi aprovada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) na última segunda-feira (1/02). Localizada no rio Xingu, na região de Altamira, no Pará, a obra só será autorizada com o cumprimento de 40 exigências socioambientais, como ações na área de saneamento, habitação e segurança. Essas condicionantes custarão, pelo menos, R$1,5 bilhão ao consórcio vencedor.

Com um investimento de R$30 bilhões, o projeto vai alagar uma área de 516Km² e a previsão é de que a usina ofereça novos 11.233 megawatts (MW) ao país, tornando-se assim a terceira maior do mundo na capacidade de geração de energia.

Apesar das estimativas, há opiniões que divergem quanto à capacidade média de geração de energia da usina e os seus benefícios sociais, econômicos e energéticos. O cientista político e especialista em meio ambiente, Sérgio Abranches, por exemplo, acredita que essa será a energia mais cara que o Brasil vai produzir.

Segundo Abranches, a usina só irá gerar 11.233MW no período de cheia dos rios. Sua capacidade normal será entre 3.000MW e 4.000MW, o que torna a produção de energia muito baixa para seu custo. Além disso, a usina ficará a 5 mil km do local do consumo, o que significa um desperdício grande na transmissão.

O professor de ecologia do Departamento de Geografia da PUC-Rio, Achilles Chirol, ressalta os impactos ambientais que serão causados com a instalação da usina. Entre eles a perda da fauna e da flora, a inundação de áreas extensas de produção de alimentos e florestas e a liberação de gases estufa para atmosfera, que ocorre com a decomposição orgânica no reservatório. Para ele, seria melhor que o governo procurasse reformar as hidrelétricas existentes do que partir para novos projetos desse tipo.

Considerando que as obras da usina pertencem ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Sérgio Abranches associa o empreendimento ao período eleitoral.

– Isso é uma mistura clara de interesses políticos e econômicos. O Brasil não tem uma política ambiental nem energética, tem uma política de obras. O que interessa é gerar empregos imediatos pra mostrar resultados.

De acordo com o cientista político, as alternativas sustentáveis são mais seguras e tão eficientes quanto às usinas hidrelétricas. Ele ressalta que até a China, uma das grandes vilãs do setor ambiental, realiza investimentos nessa área.

– A era das mega hidrelétricas já passou. Enquanto os outros países querem ser líderes no investimento em energias alternativas, o Brasil quer ser o líder das barragens, que é uma tecnologia do século XVIII.