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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Saúde

Famílias reproduzem luta contra desnutrição infantil

Evandro Lima Rodrigues - Do Portal

19/01/2010

Raphael Medeiros

Na manhã de quinta-feira, 14 de janeiro, 12 famílias refugiavam-se à sombra das amendoeiras enquanto recebiam atentamente orientações sobre amamentação. Com os filhos no colo, pais e mães cumpriam a rotina semanal no Posto de Saúde Píndaro de Carvalho Rodrigues, na Gávea. Mais visível por causa da falha no ar-condicionado do auditório onde habitualmente se reúnem, a iniciativa daqueles anônimos reproduzia, ao pé das amendoeiras, o esforço da médica Zilda Arns, morta dias antes no terremoto do Haiti, em reduzir a destrunição e a mortalidade infantis.

Na reunião semanal, parte de um programa do Ministério da Saúde, os bebês são medidos e pesados; as famílias são orientadas sobre alimentação infantil; os pais trocam experiências. Como no traballho multiplicado pela Pastoral da Criança de Zilda Arns, prevalece a simplicidade.

Choros, manhas, dúvidas. Nesta atmosfera simples, solidária, a enfermeira Rosália Campbell comanda o encontro. Coordena o intercâmbio de informações e os procedimentos médicos. Faz isso há dois anos, como uma "oportunidade de auxiliar pais que vivem a difícil experiência do primeiro filho":

– Muitos pais, quando observam uma pequena alteração no comportamento do recém-nascido, ficam alarmados. É preciso compreender que ele passou nove meses dentro de uma bolsa e agora começa um processo de adaptação em que tudo é novo – observa.

Com o auxílio de um boneco e de simuladores de partes do corpo humano, Rosália explica, por exemplo, as mudanças pelas quais passa o bebê, da gestação ao parto. De perguntas específicas resultam respostas abrangentes, capazes de esclerecer a dúvida de muitos. Como a de Maria Eunice, mãe de primeira viagem. Ela acredita não ter um "leite forte" para amamentar José. Ou a de Isabela Ramalho, outra jovem mãe, em busca do motivo pelo qual Ana Clara, de um mês, "se espreguiça muito".

– Não há alimento melhor para seu filho do que o leite materno. Ele contém todos os nutrientes para que a criança cresça saudável e inteligente. Definitivamente, leite materno fraco não existe – afirma Rosália – Quanto a espreguiçar-se muito, isto é algo completamente natural, faz parte do processo de conhecimento de uma nova realidade. A criança passa nove meses dentro do útero, que limita seus movimentos, e, quando sai, começa a experimentar novas possibilidades.

Segundo a médica Teresa Filpi, que coordena o programa desde que foi lançado no posto, há quatro anos, as ações esclarecem as precauções e os cuidados com recém-nascidos. Orientam cuidados para evitar equívocos relacionados, principalmente, à amamentação.

 Raphael Medeiros

O Ministério da Saúde estima que cerca de 97% das crianças brasileiras mamem no peito logo nas primeiras horas de vida, mas poucas continuam até o sexto mês, o "mínimo ideal". Teresa ressalta a necessidade de atendimentos como o do posto na Gávea, que reforçam a valorização do leite materno e o combate à desnutrição infantil. Para ela, a formação de grupos, com a troca de experiências, é essencial ao êxito da proposta.

Rita de Cássia Santos, mãe recente pela terceira vez, concorda que o acompanhamento em grupo ajuda a obtenção de informações para melhorar o desenvolvimento da criança. "Não sabia, por exemplo, que um recém-nascido pode tomar banho de sol após as 17h."

De acordo com Teresa, quanto melhor orientados estiverem os pais, uma vida mais saudável terá o filho. É nisso que acreditam João Ribeiro e Maria Elane, pais pela primeira vez. João busca "aprender o necessário" para cuidar de Isabelli, de um mês. Ele reforça os números que apontam a maior participação paterna nos encontros. “O homem não é só o genitor. Ele precisa ver sua importância no cuidado com o bebê”, observa a médica.

Já Maria Ramalho reforça outra participação constante nos encontros: a avó. Maria acompanha a filha e a neta Ana Clara, de um mês, pois considera essencial o apoio da família nos primeiros meses de vida. Assim repassa as lições acumuladas. Teresa destaca a importância do papel multiplicador das famílias participantes dos encontros:

– Muitas mães não são orientadas sobre os procedimentos básicos para garantir uma condição de vida mais saudável a seus filhos. São as famílias que participam do programa que repassam o que aprendem.

Segundo Rosália, o programa atende mensalmente, no posto da Gávea, uma média de 70 famílias carentes, de diversos bairros. Guardadas as proporções, a experiência carrega a semente disseminada pela Pastoral da Criança há três décadas. Só em Santa Catarina, por exemplo, a entidade atende aproximadamente 50 mil famílias.

A Pastoral coordena ações como o acompanhamento nutricional das crianças e gestantes, a pesagem infantil e e orientação às famílias sobre aleitamento materno, desnutrição, peso, vacinação, direitos humanos. Morta no dia 12 de janeiro no terremoto no Haiti, Zilda Arns impulsionou a busca por uma melhor qualidade de vida para as crianças. O modelo é adotado em mais de 20 países.

Dúvidas dos pais respondidas pela enfermeira Rosália Campbell

- Minha filha acorda várias vezes à noite. Por quê?

– Provavelmente, não está sendo alimentada corretamente. No ato de amamentar, muitas vezes a mãe para assim que a criança dorme, quando deveria estimular o filho a continuar mamando.

- O cocô do meu filho é verde. Ele está com algum problema?

– Não necessariamente. O estômago de um recém-nascido varia mais que as fases da lua. É preciso entender que o bebê está passando por um processo de adaptação.

- Sinto que a barriga do meu filho está dura e há vários dias ele não suja a fralda. Estou preocupada.

– É relativamente normal a demora em fazer cocô nesse período de adaptação. Uma massagem na barriga pode ajudar no processo. A massagem é feita apertando levemente a barriga da criança, sempre no mesmo sentido. Uma dica: observar o sentido do ponteiro do relógio e fazer o mesmo.

- Como saber o tipo de roupa mais indicado ao bebê?

– Neste período de forte calor, quanto menos roupa, melhor. Criança com muita roupa, sua mais do que o normal, e suor representa perda de peso. Nessa fase, ela precisa ganhar peso.