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Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


Campus

PUC-Rio homenageia ex-alunos que fizeram história

Luísa Sandes e Yasmim Rosa - Do Portal

17/12/2009

 Margarida de Souza Neves

Em meio às salas, laboratórios e departamentos da PUC-Rio, projetos inovadores e ações sociais surgem do trabalho de inúmeros professores da universidade. Ciente da capacidade de transformação destas atuações, a reitoria homenageou, hoje, às 15h, sete ex-alunos que se destacam por seus trabalhos em prol da sociedade brasileira. Receberam a Medalha Dom Helder Câmara das mãos do reitor, Padre Jesus Hortal, S.J., os professores Luiza Helena Nunes Hermel, do Departamento de Serviço Social; Margarida de Souza Neves, do Departamento de História; Luiz Fernando Soares, do Departamento de Informática; José Carmelo Braz de Carvalho, do Departamento de Educação; e Augusto Sampaio, do Departamento de Comunicação. Também foram agraciados o deputado estadual Alessandro Molon (PT-RJ) e o professor Carlos Brandão, da Unicamp.

Ainda no evento, foi apresentado o relatório das atividades universitárias realizadas ao longo de 2009. Foram convidados para a apresentação, no auditório do RDC, o corpo docente e membros do Conselho de Desenvolvimento da Universidade.

Augusto Sampaio

Solidariedade. Esta é a palavra com a qual o vice-reitor comunitário da PUC-Rio, Augusto Sampaio, se define. O perfil de querer ajudar o outro foi o que fez dele um dos profissionais mais importantes da universidade. Mais do que a instância acadêmica, o professor de Jornalismo Econômico se preocupa em ser útil e auxiliar as pessoas a resolver problemas.

– Quero sempre estar ligado a trabalhos sociais. A gente precisa olhar para as pessoas com amor, entender que se precisa de pouco para viver e não ficar passivo diante da vida. Temos que desejar fazer acontecer. Não podemos medir o sucesso da vida por alguém ter um carro de luxo. O simples é bonito e pode ter requinte. Eu, por exemplo, gostaria de ter mais tempo para olhar o verde e admirar a natureza em sua simplicidade – reflete.

Sampaio ingressou na universidade em 1964 para cursar Sociologia. Dois anos depois, trancou a matrícula ao se desencantar com a possibilidade de ser sociólogo em um país sob regime ditatorial. Nesse período, começou a estudar Economia, curso que terminou em 1967. Durante a faculdade, trabalhou em um cargo técnico no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).

O convite para ingressar profissionalmente na PUC-Rio ocorreu em 1968: além de dar aulas, era assessor da Vice-Reitoria Comunitária. A partir de então, não parou mais. No mesmo ano, coordenou o Departamento de Economia e, em 1970, a pós-graduação. Foi decano do Centro de Ciências Sociais (CCS), de 1970 a 1972, quando trabalhou como vice-reitor do Centro Administrativo. Foi ainda presidente da Fundação Nacional do Material Escolar; diretor geral adjunto do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); diretor do Instituto de Administração e Gerência (IAG) e vice-decano do CCS. No início da década de 90, tornou-se vice-reitor comunitário, função que desempenha até hoje.

– De todos os trabalhos que exerci, este foi o que mais me realizou. Pude colocar em prática o que penso. Tenho orgulho de ver alguém a quem concedi uma bolsa chegar ao doutorado hoje. Por isso, agradeço à PUC, que me permite ajudar a quem precisa. Esta é uma instituição que favorece o contato humano e propicia atender a todos os gostos. A PUC é minha vida – expõe.

Durante todo esse tempo, continuou a lecionar na universidade. Para Sampaio, é importante ensinar seus alunos a pensar, pois assim eles poderão superar qualquer desafio na vida. Entretanto, gostaria de ter mais tempo para se dedicar às aulas.

– É um privilégio estar em contato com jovens, eles me ensinam muito e quebram paradigmas. Tento conversar com meus alunos, mostrar um outro lado do mundo: o das pessoas que pouco têm. O grande defeito do sistema educacional é estimular a competição ao invés de estimular a solidariedade – diz.

José Carmelo Braz

Para tornar seus sonhos realidade, José Carmelo Braz de Carvalho, professor do Departamento de Educação, precisou trabalhar muito. Criador do movimento Raízes Comunitárias, Carmelo trabalha pela educação de jovens e adultos de baixa renda por meio de cursos comunitários.

José Carmelo, chegou à PUC em 1959 como aluno do curso de Educação. Até 1963, participou ativamente da vida acadêmica e fez parte de um período conturbado da história política brasileira. Sob o governo de João Goulart, o país viveu o embate entre os partidos de esquerda e de direita, onde o ponto central era a luta pelas reformas de base. A PUC-Rio e a Igreja Católica também estavam divididas.

Membro da Juventude Universitária Católica, Carmelo frequentava as missas celebradas por Dom Hélder Câmara. O homem frágil, mas que tinha um vigor incrível, chamava a atenção para a necessidade da inclusão social.

– Naquela época, era preciso se definir entre esquerda e direita, mas eu sempre quis me manter em equilíbrio, como Dom Helder fazia. Ele era uma figura emblemática capaz de articular a face da igreja profética e a diácona, e isso foi importantíssimo naquele momento – afirma Carmelo.

Há 45 anos na PUC-Rio, o professor desenvolve um trabalho de alfabetização de jovens e adultos. O objetivo de Carmelo é unir as iniciativas sociais e o conhecimento acadêmico produzido na universidade.

– Sempre trabalhei com a ideia de que o analfabetismo completo não existe em índices consideráveis, mas o analfabetismo funcional é vergonhoso. Por isso, em 1991 criamos o projeto Meio-Dia. Fizemos uma pesquisa para prepararmos os professores comunitários e coletamos também os conhecimentos populares desses alunos. Todos, de alguma forma, têm algum conhecimento. O pedreiro, mesmo analfabeto, faz contas difíceis sem os ensinamentos que a escola oferece, por exemplo. Nosso projeto tomou grandes proporções, chegando a 240 turmas comunitárias em 1999 – explica.

Para administrar as ações de ensino, a universidade criou o Núcleo de Ensino de Adultos da PUC-Rio. Hoje, o NEAd atua em diversos estados brasileiros. No Rio de Janeiro, além das aulas de ensino básico, fundamental e médio, o Núcleo também oferece o pré-vestibular e o pré-técnico comunitários, importantes para formar mão-de-obra qualificada.

Segundo José Carmelo, o grande desafio, hoje, é fazer as ações sociais serem reconhecidas. Para ele, é importante incentivar a prática social como atividade complementar exigida pela Universidade.

– O meio acadêmico valoriza muito a pesquisa e pouco o trabalho voluntário. Os alunos que fazem parte de grupos de pesquisa são reconhecidos e até levam isso em seus currículos, mas o docente que presta serviços sociais não tem o menor reconhecimento. Esse também deveria ser um diferencial na carreira profissional do estudante – comenta.

Ao longo da carreira, Carmelo organizou os livros Classes comunitárias pré-técnicas e pré-profissionais, com Merise Santos de Carvalho, e Cursos pré-vestibulares comunitários: espaços de mediações pedagógicas, com Hélcio Alvim Filho e Renato Pontes Costa.

– Essa homenagem é muito significativa para mim. Minha vida profissional foi toda voltada para a inclusão social através da educação. Deparei-me com a exclusão diversas vezes. Nosso sistema educacional é um tapa na cara da cidadania. Vejo essa homenagem não como alguém especial que foi escolhido, mas como o reconhecimento de um trabalho feito ao longo de quase 50 anos. Mas não acho que seja mais merecedor do que outras pessoas. Existem tantos outros fazendo um trabalho semelhante e que merecem esta medalha igualmente. Sempre digo: “sonhe os sonhos, mas esteja pronto para pagar o preço para realizá-los" – conclui emocionado.

Luiz Fernando Gomes Soares

Há quatro décadas atrás, o coordenador do Laboratório TeleMídia da PUC-Rio, Luiz Fernando Gomes Soares, não imaginava que iria estar à frente de um dos projetos mais inovadores do Brasil. A criação da linguagem NCL, que permite a interatividade, e do middleware Ginga, renderam ao professor inúmeros prêmios, sendo o maior deles, a escolha do middleware como padrão do Sistema Brasileiro de TV Digital com tecnologia totalmente brasileira.

A vida pelo campus da PUC-Rio começou cedo para Soares. Em 1972, com apenas 16 anos, ele cursou Engenharia Elétrica, com o auxílio de uma bolsa de estudos. De família humilde, foi Dona Rosa, encarregada pelo bandejão da Universidade na época, quem conseguiu o desconto da mensalidade. Em 1979, se tornou mestre no mesmo curso e, em 1983, concluiu doutorado em Informática na universidade. Nesse mesmo ano, fez pós-doutorado na École Nationale Superieure des Télécommunications, França. Atualmente, é professor titular da PUC-Rio e representante da academia no Fórum Brasileiro de TV Digital.

O trabalho social começou em 1976, na Rocinha, como membro do Movimento Universidade a Serviço do Povo, o MUSP. A partir de então, Soares não parou suas ações sociais. Já como professor da PUC-Rio, passou a fazer parte de um projeto em Vargem Grande, que tem como objetivo fortalecer as entidades comunitárias da área cultural, com foco na preservação, história e recriação de manifestações populares brasileiras. É o Centro Integrado de Desenvolvimento Social (Cids), que começou em 1991, com a idéia de criar um local voltado para o reforço escolar de crianças e adolescentes. Hoje, além das aulas, existe a prática de esportes, além de cursos profissionalizantes, como de edição de áudio, de vídeo, de informática, coordenado por Soares.

Segundo o professor, a PUC teve um papel fundamental em sua formação tanto profissional como pessoal.

– Todos os meus princípios vieram da universidade. Passei aqui o momento mais importante de construção de valores e aprendi muito nesse ambiente acadêmico. Acredito até que recebi muito e não retribuí na mesma proporção – afirma.

Sobre a Medalha Dom Hélder Câmara, Soares é modesto ao afirmar que não a merecia.

– Não acredito que tenha feito um trabalho social de excelência. Essa medalha tem um gosto especial, mas acho que outras pessoas a mereciam muito mais.