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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Cidade

Estudantes renovam tradição do pensionato para moças

Bianca Baptista - Do Portal

04/01/2010

Bianca Baptista

Corredor vazio, portas trancadas, algumas com chaves nas portas. O prédio aparenta silêncio, mas ao bater em cada porta, revela-se o mundo de cada menina. Elas têm em comum a vida universitária, as famílias distantes e a escolha de morar num pensionato feminino em pleno século XXI.

As semelhanças parecem poucas, mas são o suficiente para que se construa uma amizade. Como a de Thaise Souza e Gabriella de Moura. Chegaram na mesma época, em agosto de 2008, são vizinhas de andar, estudam na PUC-Rio, porém em cursos diferentes: uma faz Comunicação Social e a outra, Administração.

Para Gabriella, a falta de supervisão dos pais, tão desejada por boa parte dos jovens, não foi tão boa assim:

– Queria muito estudar na PUC, mas sair e voltar para Petrópolis todo dia seria um tanto cansativo. Não estar com meus pais foi difícil. No primeiro dia, depois de almoçar com meu pai no Centro, ele me mandou vir de metrô sozinha, deu um vazio. E depois do meu primeiro dia na PUC, voltar para o pensionato e ficar em um quarto sozinha de novo, me deixou mal. Chorei demais – conta Gabriella.

A sensação de estar sozinha, a falta dos pais, levou a estudante de Administração ligar para a mãe, e preocupada pediu ajuda a filha de uma conhecida.

- A Isabela me salvou. Me levou a sala de televisão aonde conheci a Thaise e outras meninas. Assim nunca mais fiquei sozinha – lembra a estudante de 19 anos.

Bianca Baptista  Para Thaise Souza, sua entrada na Residência Maria Adelaide e a distância da família, que mora em Realengo, foi assimilada de forma mais fácil: 

– Ia alugar um apartamento com uma amiga, mas, como ela desistiu, acabei vindo para o pensionato. Lembro que cheguei num domingo, e fiquei sozinha no quarto. Mesmo assim não fiquei tão triste. Até porque minha mãe me liga toda hora.

A estudante lembra como conheceu suas amigas:

– Conheci a Gabriella na sala de televisão, logo no começo do meu primeiro período, em julho de 2008. Já com a Ana Luisa, outra amiga daqui, foi mais engraçado. Eu a conheci no início de 2009, quando faltou luz no Humaitá. Todo mundo foi para o corredor e acabamos conversando.

Depois de se conhecerem, “as meninas do pensionato” começaram a fazer atividades juntas.

– Quando descobri que tínhamos os horários parecidos da faculdade, perguntei se a Gabriella queria ir de ônibus comigo. Depois começamos a caminhar na Lagoa três vezes na semana, quando não tinha aulas de francês pela manhã – conta Thaise .

Segundo a estudante de Comunicação Social, a amizade com “as meninas” é para a vida inteira:

– Acredito que devemos manter um contato. A nossa amizade não é algo que vai se perder. Estamos tentando nos juntar para alugar um apartamento – revela.

Para Milena Nunes, uma veterana da Residência Maria Adelaide, o período de adaptação é o mais difícil:

– Fiquei um mês chorando, porque me sentia um pouco isolada. O tempo ocioso me matava, me fazia lembrar da minha família em Campos. Mas sabia o que queria: estudar era Jornalismo. 

Segundo a estudante do 8º período de Jornalismo da PUC-Rio, seus familiares na Ilha do Governador, a ajudaram a enfrentar a falta da cidade natal, dos amigos e principalmente dos pais. A pessoa que mais a ajudou foi a Maria Amélia, diretora da Residência Maria Adelaide. 

– Quando ficava doente, ela trazia sopa, remédio. Toda vez que penso em sair daqui, levo isso em consideração e desisto – confessa.

O principal remédio, contra o desconhecido, contra a impessoalidade da rotida urbana fora da cidade natal, o principal remédio dão as vizinhas de porta. De conversa em conversa, constroem-se novas amizadas, ou simplesmente um tônico para superar a maratona longe de casa. 

– Agora está um pouco difícil falar com as minhas vizinhas de porta por causa do meu horário. De manhã estudo, e à tarde e à noite estou no estágio. Quando meu horário não era tão ocupado, conversava bastante com a Isabela e com a Olívia. A Isabela, inclusive, conhece meus pais e a Olívia, que é médica, já me ajudou quando estava passando mal – recorda Milena.

Noites de Cinderela 

Pensionato também sinônimo de disciplina, regras. Por exemplo, o telefone está disponível por 12 minutos, no máximo, para cada estudante, e só pode ser utilizados até as 23h. Entretanto, é possível a instalação de uma linha própria. Mas do que as pensionistas mais reclamam é o horário de fechamento da portaria: meia-noite.

– É horrível. Às vezes quero sair com as minhas amigas, e acabo tendo que dormir na casa delas ou sair cedo – reclama Thaise. Bianca Baptista

Uma das administradoras, a irmã Ana Cleta, esclarece que já foi feita uma experiência com um horário mais elástico:

– É uma questão de segurança não ser 24h. Com um porteiro, algum assaltante poderia rendê-lo. Já tentamos isso, mas não deu certo. Uma pensionista forçou a entrada com um rapaz e não podemos admitir algo assim. Os pais confiam na gente, e temos a obrigação de zelar pelo respeito e a valorização da mulher – explica a freira.

Pensionato foi criado em 1957

A Residência Maria Adelaide, na Rua Humaitá, foi construída em 1957, para abrigar um pensionato feminino e a sede da Sociedade das Filhas do Coração de Maria, que ficava em outro número da mesma rua.  Fundada em 1790 pelo padre Clorivière, em Paris, a Sociedade das Filhas do Coração de Maria nasceu com a proposta de ser um instituto religioso adaptado às circunstâncias da Revolução Francesa. Porém, só em 1890 o Papa Leão XIII oficializou a existência da congregação como parte da Igreja Católica.

No Brasil, a Sociedade tem sedes no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, em Goiás, Espírito Santo, Bahia, Ceará e no Piauí.

Termo de compromisso assinado pelos pais

Para admissão no pensionato, é necessário ter no mínimo 17 anos, fazer uma entrevista com um membro da equipe, preencher e assinar o formulário de inscrição e levar o termo de compromisso assinado pelos pais ou responsáveis (caso seja admitida). Também é preciso que a ingressante se comprometa a permanecer por seis meses, no mínimo. Na entrevista, devem ser apresentados os seguintes documentos: 

- Xérox da carteira de identidade;

-Xérox do CPF;

-Atestado Médico que comprovem saúde física e mental;

-Retrato 3X4;

-Xérox de documento que comprove a renda familiar;

-Xérox da carteira de identidade do responsável;

-Xérox do CPF do responsável;

-Xérox de qualquer comprovante de residência;

-Carta dos Pais ou responsáveis em que se comprometam a pagar as mensalidades e outras despesas eventuais;

Mais informações, com a coordenadora Maria Amélia, pelo telefone 2286-8787.