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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Cidade

Estudante baleado próximo à PUC-Rio fala pela primeira vez

Clarissa Pains - Do Portal

11/12/2009

 Arquivo pessoal

O estudante de Relações Internacionais da PUC-Rio Rodrigo Köpke, 22 anos, baleado na noite de sexta-feira, 4, em um assalto próximo à entrada da universidade, falou ontem pela primeira vez. Ele foi operado na madrugada de domingo, ainda está no CTI do Hospital Miguel Couto e tem infecção pulmonar, mas já respira sem a ajuda de um tubo.

De acordo com a reação do jovem à retirada do auxílio respiratório, a equipe do hospital pode decidir que ele seja novamente entubado. Até o momento, porém, sua recuperação surpreende os médicos. Em apenas uma semana, o estudante já mexe as mãos, os pés e até mesmo a cabeça, onde o projétil ainda está alojado. Na tarde desta quinta-feira, 10, as primeiras palavras emocionaram parentes e médicos:

– Perguntei se ele estava bem e se estava me reconhecendo e, com esforço, ele me respondeu que sim. Então, pedi que olhasse para mim e ele arregalou os olhos. Eu disse: “Eu te amo, fala que você me ama também” e Rodrigo respondeu: “Eu te amo” – contou, com os olhos marejados, o tio do rapaz, Ivo Köpke. – Ele é apaixonado pelo Botafogo, então, até brinquei dizendo que o time saiu da zona de rebaixamento e nós temos que comemorar indo ao Maracanã.

Na quarta-feira, 9, em reunião entre o vice-reitor Comunitário da PUC-Rio, Augusto Sampaio, o subsecretário de Segurança e os comandos da Polícia Militar e da Polícia Civil, foram discutidas providências para aumentar o policiamento e a iluminação no entorno da universidade.

De acordo com Antônio Ferreira, assessor de Sampaio, o principal problema a ser combatido é a pouca iluminação:

– Vamos enviar à Prefeitura uma solicitação de poda das árvores das ruas próximas à PUC – afirmou. – As árvores ficam com os galhos muito grandes e espalhados, o que acaba prejudicando a iluminação.

O crime de sexta-feira aconteceu na esquina das ruas Marquês de São Vicente e Vice-Governador Rubens Berardo, em frente ao Planetário da Gávea. A polícia solicitou imagens de segurança de prédios que registraram o momento em que Rodrigo foi baleado. Os resultados ainda não foram divulgados.

Segundo Ivo Köpke, a PUC-Rio se mostra “supersolícita”: ofereceu o pagamento das despesas, transferência para um hospital particular, acompanhamento pós-operatório. Ele conta que reitores, professores e amigos oferecem apoio e vão todos os dias visitá-lo no hospital. O tio, que é médico, sabe a gravidade do problema. Ele conta que todos os especialistas diziam que a lesão de Rodrigo era irreversível.

– A bala atingiu os dois hemisférios da cabeça e os tecidos ao redor do buraco feito pela mesma foram destruídos. Esperávamos tê-lo com vida, ainda que num estado vegetativo, mas sua reação está superando qualquer expectativa. A única explicação para essa melhora surpreendente é a energia dos parentes e amigos, a corrente de fé que estão fazendo. Só pode ser uma força divina.


Torcida pela recuperação

Bruno Mattos, também estudante da PUC-Rio, mora na mesma residência universitária que Rodrigo, e o conhece desde abril deste ano. Ele contou que o aluno de RI era tranquilo e “se dava bem com todo mundo”. Ele tem o hábito, considerado curioso pelos amigos, de fazer a prova do Enem todos os anos. Perdeu o último exame, realizado no fim de semana seguinte ao assalto. Desde sexta à noite, quando souberam do assalto, os amigos do pensionato se revezam nas visitas.

Na tarde desta quinta-feira, 10, cerca de cinco amigos, fora os parentes, acompanhavam o estado de Rodrigo no hospital. Dentre eles, Bruno dos Santos, que o conhece há seis anos e o considera “irmão de coração”, é um dos que mais marcam presença no Miguel Couto.

O vice-reitor comunitário, Augusto Sampaio, visitou o estudante no domingo, 6, assim como o coronel Vieira, chefe da segurança universitária, que também esteve no hospital no dia anterior.


Esperança da mãe

Para Ofélia Köpke, mãe do estudante, tudo parece ter conspirado a favor dele: os moradores da região acionaram rapidamente os policiais militares que o levaram ao Miguel Couto; ao entrar no hospital, uma enfermeira, que era de Valença, reconheceu Rodrigo e adiantou o atendimento; a operação foi um sucesso. Ela comemora os progressos do filho:

– Ele mexe as mãos, os pés, dá tchau. Rodrigo tem mania de dobrar a barra da roupa e ficar apertando com a unha. Eu o lembrei dessa mania e, na mesma hora, ele pegou o lençol da cama e repetiu o gesto.

Na tarde desta quinta-feira, 10, ela teve novos motivos para crer na total recuperação de Rodrigo. Não só ele conversou, como até brincou:

– Quando me despedi, falei “que Nossa Senhora te proteja, meu filho”, ao que ele retrucou “não protegeu, não” – contou a mãe sorrindo.


Momento do assalto

Eram cerca de 19h20 da sexta-feira, 4. Rodrigo tinha terminado suas provas e estava saindo da PUC-Rio falando pelo celular com a mãe, Ofélia. Ela, em Valença, no Sul Fluminense, onde a família mora, pedia para que ele pegasse um taxi e fosse direto para casa. A mãe não queria nem que ele passasse na residência universitária onde mora, no Jardim Botânico. O ideal era que ele fosse na mesma noite para Valença. De repente, percebeu que o filho ficou um pouco nervoso e desligou.

Um ladrão, que estava numa bicicleta, rendeu o universitário. Depois de atirar, o bandido fugiu pela rua Marquês de São Vicente, mas, como havia muita gente ali, voltou e entrou na rua Vice-Governador Rubens Berardo. Testemunhas disseram que ele queria o celular do rapaz, e, embora Rodrigo não tenha reagido, o assaltante tirou um revólver da cintura e disparou.