Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 28 de abril de 2024


País

Manual de sobrevivência do décimo-terceiro salário

Clarissa Pains - Do Portal

03/12/2009

 Lucas Landau

João Lopes é aluno do 7º período de Publicidade na PUC-Rio. Neste ano, receberá seu primeiro décimo-terceiro salário. Devido à burocracia, ainda não recebeu a primeira parcela. Mesmo um pouco atrasado, o salário extra já tem destino certo: vai bancar parte de um cruzeiro de 15 dias pelos Estados Unidos. Especialistas alertam, no entanto, sobre a tentação da gastança de fim de ano. Recomendam parcimônia para melhor aproveitar o reforço na conta bancária. Como João, de 22 anos, mora com os pais e não têm dívidas, tampouco rígidos compromissos com o orçamento doméstico, pode gastar o dinheiro com mais liberdade.

– A viagem foi parcelada em cinco vezes, só restam três. O décimo-terceiro não é suficiente para pagar a próxima parcela inteira, mas divido a conta com meus pais. Se sobrar alguma coisa, vou depositar na poupança.

O estudante trabalha para o site Submarino, da empresa B2W, desde janeiro deste ano. Ele conta que tenta gastar apenas 60% do que ganha e poupar os 40% restantes. Assim não termina o mês “no zero”. Com a disciplina recomendada pelos economistas, João resiste às promoções do varejo nesta época:

– Sou econômico, até um pouco pão-duro. Geralmente, prefiro gastar com diversão e lazer a gastar com bens. Consigo resistir ao apelo para o consumo porque já trabalho com publicidade há um ano: sei quando um anúncio ou um comercial não oferece vantagens – conta – Prefiro esperar para fazer compras depois do Natal, quando os preços sempre abaixam.

Dicas dos especialistas

Quem, como o estudante de Publicidade, ainda não precisa se preocupar com a concentração de pagamentos no início do ano (IPTU, IPVA, matrículas escolares) pode se dar ao luxo de aproveitar o décimo-terceiro para criar uma reserva, orienta a professora da PUC-Rio Cecília Mattoso, especialista em comportamento do consumidor.

– É muito mais fácil poupar neste período da vida do que depois, quando se passa a ter responsabilidade com as contas da casa e com a família. Passar o dinheiro para a poupança é uma boa opção – aconselha. 

Para os que, diferentemente de João, têm um orçamento doméstico recheado de contas, especialistas apontam cinco recomendações básicas: usar o décimo-terceiro para quitar dívidas; fazer listas de gastos – que caibam no orçamento – e manterem-se fiéis a elas; comprar à vista, negociando desconto; pesquisar cuidadosamente antes de comprar; planejar as compras a longo prazo. Cecília ressalta que o planejamento deve ser compatível com o tempo em que a renda estiver comprometida. Se uma compra for parcelada em dez vezes, por exemplo, o orçamento deve ser calculado com previsão para dez meses.

– O brasileiro não tem o hábito de poupança. Geralmente, só se faz planejamento mês a mês, porém o mais aconselhável é planejar as despesas fixas que existirão ao longo de um ano – ensina a professora – Parcelas longas, no entanto, são arriscadas. Nesta época do ano, o ideal é restringir os parcelamentos a três meses.

A especialista lembra que as farras de Natal e Ano Novo podem comprometer as contas do início do ano seguinte: março é, tradicionalmente, o mês de maior inadimplência. Afirma que o cartão de crédito só é interessante quando não há desconto na compra à vista. Segundo ela, o consumidor médio exagera na compra a prazo mesmo em itens de baixo valor, sem perceber que a soma das parcelas vai sacrificar os próximos salários.

– De R$ 20 em R$ 20, acaba gastando-se muito. O fundamental é não ceder à tentação: saber para quem vai dar o presente antes de comprá-lo, e não só porque está em liquidação. Não se deve parcelar compra de comida porque este gasto existe todo mês e a dívida pode virar uma bola de neve – orienta.

Cecília observa que, em financeiras, o principal tipo de dívida é aquele contraído com o objetivo de pagar outra dívida. Por isso, nesta época de festividades, empréstimos são arriscados, diz ela. Para o economista da PUC-Rio Marcio Janot, o melhor é evitar crediários:

– É importante lembrar que as taxas de juros cobradas pelos bancos, financeiras e lojas no Brasil são muito altas, podendo de fato levar a pessoa a comprometer boa parte do orçamento para o pagamento das dívidas – afirma – Se não houver condições de pagar à vista, deve-se perguntar ao vendedor qual é a taxa de juros embutida no crediário. Se for muito alta, é preciso avaliar a real necessidade de comprar o bem naquele momento. Pode ser preferível adiar um pouco a compra.

Igualmente recomendado por especialistas, a pesquisa de mercado deve ser feita o mais cedo possível, para melhor decidir as compras.

– Se deixar para a última hora, o consumidor acaba entrando na loja que está mais vazia, e que provavelmente também é a mais cara – diz Cecília.