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Rio de Janeiro, 28 de abril de 2024


País

O anjo da Amazônia

Luigi Ferrarese - Do Portal

26/11/2009

O assassinato da missionária americana Dorothy Stang, em 2005, em Anapu, no Pará, chocou o país. Os seis tiros que a derrubaram, no entanto, não conseguiram silenciar sua causa. A bandeira que ela representava permanece de pé. “A irmã não foi assassinada porque usava armas, mas porque usava ideias”, acredita o padre Ricardo Rezende. As dificuldades hoje enfrentadas são tão grandes quanto no tempo em que era ela a liderar o movimento pela preservação ambiental. Para ajudar a manter viva essa história, a PUC-Rio exibiu, nesta quarta-feira, 25, o filme Mataram irmã Dorothy (Daniel Junge, 2008).

No dia 12 de fevereiro de 2005, Rayfran das Neves Sales atirou contra Dorothy Stang porque ela representava a luta contra a destruição da Amazônia. Um quinto da maior floresta tropical do mundo já foi destruída. A causa ambiental, no entanto, esbarra em interesses econômicos de latifundiários.

– O filme nos mostra três coisas: o enorme problema da Amazônia, a beleza do trabalho que a Igreja realiza naquela região e o absurdo que é a Justiça no país – analisa Maria Clara Bingemer, professora de Teologia da PUC-Rio.

Todos os indícios apontam para que o crime tenha sido encomendado por donos de grandes terras da região. Os próprios acusados – o assassino, um cúmplice e um intermediário – confirmaram essa versão em depoimentos. No entanto, no julgamento de Vitalmiro Bastos de Moura, um dos latifundiários que teriam ordenado a execução da missionária, os três participantes apresentaram um discurso diferente, que o inocentava. Mesmo assim, o dono de terras foi condenado a 28 anos de prisão.

Um ano depois, Vitalmiro foi inocentado. Porém, esse resultado foi anulado, devido à discrepância entre os dois veredictos. Ele aguarda em liberdade um novo julgamento. O outro latifundiário acusado de arquitetar a morte de Dorothy, Regivaldo Pereira Galvão, também espera para ir a júri.

– A morte é o horizonte para os missionários que travam essa luta. As dificuldades em prender os verdadeiros culpados é grande. Vários crimes têm participação de policiais. Alguns promotores têm relações estreitas com os fazendeiros – conta o padre Ricardo Rezende, que conheceu irmã Dorothy em 1977, quando ela ministrava um curso sobre a bíblia para camponeses no Pará.

O pároco trabalhou durante vinte anos na Diocese do Araguaia. Contou duzentos assassinatos. Desses, apenas cinco foram a julgamento.

– O caso da Dorothy faz parte desse ciclo. Impressionante é a permanência do problema, porque falo dos anos 70. A irmã foi assassinada em 2005 – constata.

Dorothy Stang era a principal incentivadora do Plano de Desenvolvimento Sustentável. Com base nele, foram demarcadas terras para utilização da agricultura familiar. Caso fosse bem sucedida, a experiência poderia ser ampliada pelo governo federal.

– A morte dela revela o equívoco na forma como o governo planejou a ocupação da Amazônia. Havia populações ribeirinhas, não era um lugar inabitado. Os presidentes militares ocuparam com estradas, grandes empresas. O slogan era “Integrar para não entregar”, mas eles entregaram grandes porções de terra para empresas estrangeiras – lembra.

As dificuldades enfrentadas são muitas. O ritmo de desmatamento na Amazônia é impressionante: são mais de 30 mil quilômetros quadrados por dia. Ainda assim, o padre Ricardo acredita no trabalho missionário.

– Já perdi muitos amigos, como a irmã Dorothy. Mas não perco a esperança. A esperança fica.