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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Cidade

“Rio precisa de choque estrutural”

Gabriela Ferreira - Do Portal

07/12/2007

Se quiser seguir o Plano Colômbia, que conseguiu recuperar a violência em áreas conflagradas com forte presença do tráfico de drogas, o governo Sérgio Cabral vai precisar incorporar as mudanças estruturais que foram feitas na Colômbia e ainda estão ausentes da política de segurança do estado. A opinião é do professor do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio, Paulo Jorge Ribeiro, que esteve nesta sexta-feira, 7, em palestra sobre segurança pública.
- Durante os 11 meses do governo de Sérgio Cabral, a maioria dos índices piorou em relação aos do ano passado. O que se importou do Plano Colômbia foi apenas a política de enfrentamento da polícia – criticou ele.
Segundo o professor, o governador do Estado prometeu mudanças radicais nas políticas públicas, entre as quais estava o fim do Caveirão, veículos blindados usados pela PM. Porém, o tipo policiamento continuou o mesmo.
Ribeiro explica que as operações da polícia procuraram restabelecer os espaços sociais que foram comandados pelo tráfico de drogas. No entanto, segundo o professor, o tráfico não é parceiro das comunidades, apenas se aproxima mais delas pelo modo com arbitrário e desleal da polícia ao tratar as comunidades.
- Há uma frase de um policial que diz: ‘Nós não usamos algemas, isso mostra o nosso proceder’. Ora, se o cara da favela sabe que os policiais não têm algemas, então, para a própria sobrevivência, vão querer matar primeiro. Ninguém nunca reclamou da Força Nacional, pois eles tratam as pessoas com o mínimo de dignidade, dizendo “bom dia”, “boa tarde”, e “boa noite”, explicou o professor.
Além disso, Ribeiro considera o Caveirão como uma arma de defesa necessária a qualquer polícia, desde que usado corretamente.
- Quando há algum policial dentro de uma favela, há que se ter um aparelho seguro para tirar aquele policial de lá. Porém, o Caveirão vem sendo usado como arma ofensiva, que atira para todos os lados – lamentou.
A polícia carioca é a que mais mata e a que mais morre. Segundo o professor, a população civil é a maior vítima, tanto do terror dos traficantes como do terror policial. Para ele, não há a garantia dos direitos humanos, há a hierarquização da cidade e o processo da violência se realimenta, causando insegurança na segurança pública.
- Todo mundo deveria ler a seção de Carta dos Leitores ou o blog do jornal O Globo todos os dias, para ver o que passa na cabeça das pessoas. Elas querem fogo para cima do morro, e é isso o que têm, disse.
Ribeiro aponta como uma possível solução um choque estrutural na cidade do Rio. Segundo ele, é necessário que as instituições sejam interligadas e funcionem de forma correta, sem regras diferentes para pobres e ricos.
- Para o Rio de Janeiro, é necessário reinventar um tipo de gramática que desconstrua as imagens hierárquicas. Os direitos não podem mais ser exclusivistas. A política pública não pode ser contraditória aos direitos humanos - concluiu.