As causas do apagão que atingiu 18 estados brasileiros na noite de terça-feira ainda são controversas, mas há pelo menos um efeito transparente: a subida do tom no embate pré-eleitoral. Enquanto a oposição exige explicações da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff – pré-candidata do PT à próxima eleição presidencial e arquiteta do novo marco regulatório do setor energético, no qual mantém forte influência –, o Planalto trata de protegê-la dos holofotes e das polêmicas. A fatura política do blecaute provocou arranhões leves no cacife eleitoral da ministra, avaliam os professores de Ciência Política Ricardo Ismael, da PUC-Rio, e Valter Duarte, da UFRJ. Eles acreditam que a candidatura de Dilma só ficará chamuscada se o episódio se repetir.
– O blecaute foi ruim para a imagem da ministra, mas não pode ser considerado uma bomba em sua candidatura. Isso só acontecerá se houver outro apagão, revelando debilidade não na parte técnica, mas na estrutural. O impacto, então, seria muito negativo – afirma Ricardo Ismael.
Valter concorda com a avaliação. Segundo ele, apesar do imenso transtorno causado, o blecaute não é suficiente para desgastar a possibilidade de a ministra se candidatar. O apagão de 2001, lembra o especialista, fez sair de cena a administração tucana, porém suas dimensões eram diferentes das do incidente desta terça-feira ano: naquele ano, o problema era de geração de energia, o que provocou racionamento por um longo período.
– A ministra Dilma, enquanto candidata apontada pelo presidente Lula, está muito blindada – diz Valter Duarte. – Para ela, o importante é apenas conseguir manter as luzes acesas até as eleições de 2010.
De acordo com o especialista, a oposição vê o episódio como uma oportunidade de “mostrar a incompetência do governo”, de quebrar certo viés monolítico da sucessão presidencial, centrada no PT e no PMDB, o que, no entanto, ele não acredita que aconteça.
Para o cientista político Ricardo Ismael, que é formado também em Engenharia Elétrica e trabalhou por oito anos na Eletrobrás, a crítica da oposição não deve furar a blindagem da candidata de Lula, porém "é válida". O fato de, há duas semanas, a ministra ter garantido que o Brasil estava a salvo de apagão elétrico aumenta as faíscas levantadas pelo blecaute:
– O discurso da excelência técnica caiu por terra. O governo não pode mais dizer que não é assombrado pelo fantasma do apagão – observa. – Assim como Edison Lobão (ministro de Minas e Energia), Dilma tem que responder pelo incidente no setor elétrico, pois ela é em grande parte responsável pelo planejamento, que se mostrou falho.
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