Nos intervalos das aulas, os alunos da PUC-Rio se revelam fazendeiros. Colher, arar e plantar virou tarefa comum entre os jovens. A prática é feita pela internet em um jogo chamado Farmville, aplicativo do Facebook, desenvolvido pela Zynga. A dimensão do fenômeno é impressionante: o jogo foi lançado no dia 19 de junho e, até o final do mês de agosto, em menos de 70 dias, já havia conquistado 11 milhões de usuários.

A tarefa é aparentemente simples: depois de construir o avatar – uma espécie de representação animada do usuário –, os fazendeiros devem plantar e colher para ganhar moedas e experiência. É possível adicionar amigos e convidá-los para se tornarem vizinhos. Nathália Oliveira, aluna de Comunicação Social da PUC-Rio, recebeu o convite de um amigo há pouco mais de dois meses, até hoje não parou de jogar, já está no nível 35 e tem 62 vizinhos. Ela conta que, antes de conhecer o Farmville, raramente entrava no Facebook, mas, agora, entra diariamente na rede:

– Os aplicativos viram febre e acabam integrando pessoas. Tenho vários amigos que adicionam outros que conhecem pouco ou até mesmo de outros países, só para ganhar vizinhos nos aplicativos. E eles acabam ganhando amigos. Meu primo, por exemplo, tem um amigo no Facebook que mora na Índia. Eles nunca se viram, mas se falam todos os dias, jogam vários aplicativos e se dão muito bem.

A estudante já recorreu à mãe, arquiteta, para dar dicas de construção e decoração da fazenda, quando resolveu comprar a Villa – a mais cara construção que o jogo dispõe – e teve que reorganizar o espaço. Além disso, o aplicativo fez Nathália acordar de madrugada, pois tinha esquecido de colher e corria o risco de perder suas plantações.

– Tinha que colher 11 horas da noite. Acabei ficando no MSN, desliguei o computador e fui dormir. Quando era uma hora da madrugada, acordei e gritei ‘Esqueci de colher as coisas na fazenda!’. Peguei o computador, coloquei na cama, escondido para que minha mãe não reclamasse, e fiquei colhendo, tentando não fazer barulho – conta.

Carla Araújo, também estudante de Comunicação Social da PUC-Rio, conheceu o jogo há dois meses, logo quando fez sua conta no Facebook. Ela estima passar uma hora por dia no aplicativo:

– Confesso que já entrei bem mais. Agora, não uso tanto meu tempo para a colheita. Nunca organizei minha rotina em função do jogo e perdi muitas coisas que plantei na fazenda. Para que isso não aconteça, procuro plantar pensando em quando poderei entrar novamente.

Segundo ela, o jogo é uma forma de distração e de interação com os amigos que também têm Farmville. O que mais gosta é a perfeição nos detalhes das árvores, dos animais, das casas e das plantações, o que torna o jogo mais divertido. Carla reclama, no entanto, da demora que leva o carregamento do aplicativo.

A lentidão é realmente um problema que os usuários enfrentam, uma vez que o jogo ainda está em sua versão beta, para experimentação. Quanto maior a fazenda, mais memória ele consome e, portanto, mais tempo demora ao carregar. Para um computador mediano rodar uma fazenda de tamanho 20x20 – o maior tamanho que Farmville oferece –, por exemplo, o ciclo “colher, arar e plantar” pode gastar até uma hora do usuário. A opção de usar veículos, como o trator, que quadruplicam as ações, não é tão vantajosa. Isso porque o combustível gasta muitas notas FV, recebidas apenas quando se passa de nível.

Entenda o Farmville

O objetivo principal do jogo é passar de nível e ganhar medalhas, espécies de recompensas pelo cuidado com a fazenda. Plantando e arando o solo, o usuário ganha experiência, para avançar pelas fases do jogo, que vai até o nível 70. Cada semente demora um determinado tempo para crescer completamente, que varia de quatro horas e quatro dias. Com a plantação, o fazendeiro acumula moedas, que podem ser trocadas por uma série de coisas no mercado ou por sementes, para continuar a colheita. As sementes demoram o dobro do tempo para estragar. Aquelas que rendem ao fazendeiro mais dinheiro são exclusivas para determinados níveis, geralmente os mais avançados.

Além da plantação, o usuário pode ter árvores e animais. A vantagem, no entanto, não é comprá-los, mas ganhá-los de seus vizinhos, que podem dar presentes gratuitos. Adotar animais perdidos na fazenda dos amigos é outra forma de adquirir outros, que incluem patinhos feios, ovelhas negras, vacas marrons e rosas, tartarugas e, mais recentemente, gatos pretos. Os amigos também têm papel fundamental para ampliar o tamanho da fazenda. Por exemplo, são precisos oito deles para se adquirir mais terras.

Casas, mansões, celeiros e objetos de decoração são elementos que o usuário pode ter na fazenda. O jogo também disponibiliza peças limitadas, que duram apenas um tempo e se esgotam. Este é o caso dos superberries, sementes que estiveram disponíveis por uma semana e rendiam aos fazendeiros muitas moedas. As peças do especial de halloween e de mercadorias ligadas a extraterrestres, como discos voadores e vacas mutantes, também são exemplos disso. A novidade que o aplicativo apresenta, neste momento, são os produtos de outono, como árvores, animais e objetos de decoração.

Outro objetivo que move os usuários a continuar com a plantação são as medalhas oferecidas. Existem várias que vão desde jogadores que tiverem um número alto de vizinhos, até presentes recebidos pelos amigos, na caixa de presentes, passando por muitas colheitas em plantações, animais e árvores.

Comunidades, blogs e fóruns ajudam os usuários que acabaram de aderir à "mania". Eles explicam quais as melhores formas de ganhar moedas e aumentar os níveis, através de complicadas e elaboradas estatísticas. O custo calculado inclui o preço necessário para arar a terra, tarefa que deve ser realizada sempre entre a colheita e a plantação. Segundo a maioria dos sites, as melhores sementes são as peas (ervilhas), que rendem três pontos de experiência e 7,652 moedas por hora.

Os mais experientes também recorrem às dicas para avançar no jogo com facilidade. Para realizar as ações mais rapidamente, por exemplo, recomenda-se prender o avatar. Isso economiza tempo de deslocamento entre as funções.