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Rio de Janeiro, 5 de maio de 2024


Campus

Quatro décadas de história

Carolina Barbosa - Do Portal

16/11/2009

Lucas Landau

Todos os dias, antes das sete horas, Antônio José de Albuquerque Filho deixa sua casa no Largo do Machado rumo à universidade para mais um dia de trabalho. De seus 62 anos de idade, 43 ele passou na PUC-Rio, desempenhando diversas funções. No período da manhã, ele é responsável por identificar e nomear fotos no Núcleo de Memória da PUC-Rio. À tarde, o pernambucano monitora as câmeras de segurança do campus em uma sala no edifício Kennedy. Nada passa despercebido por suas lentes. As atuais e diferentes ocupações refletem sua versatilidade no trabalho e variadas aptidões. Nessas quatro décadas como funcionário, ele já fez de tudo um pouco.

Antônio José chegou à PUC-Rio, em 1966, para  trabalhar na biblioteca. Auxiliava nos arquivos, fichas, recepção. Três anos depois, foi transferido para o Departamento de Letras, para trabalhar no setor audiovisual. Começou, então, a se aprimorar no que viria a ser uma de suas paixões: a fotografia. Ele aproveitou a chance de assistir como ouvinte as aulas de Fotojornalismo, ministradas no curso de Comunicação Social da universidade. Tal aptidão o levou a fotografar eventos no campus, como um show de Chico Buarque no Ginásio, e de grande importância histórica, como a vinda do Papa João Paulo II ao Brasil, em 1980. Antônio foi credenciado para cobrir as missas que o pontífice celebrou no Aterro do Flamengo e no Maracanã e sua visita ao Complexo da Maré. Uma “oportunidade única”.

– A vinda do Papa foi um grande acontecimento na história do país. Eu estava lá, em várias ocasiões, tirando fotos. Foi marcante – lembra.

Filho de uma professora, ele sempre se interessou por leitura. Antônio diz que já levou broncas na biblioteca por folhear os livros enquanto trabalhava. Freud e mecânica estavam entre suas preferências. Curioso, ele sempre tirava suas dúvidas com os frequentadores do local. O pai também era um inspirador cultural. Formado pela Escola de Belas Artes, fazia charges para o jornal O Diário de Pernambuco e tinha um laboratório de fotografia em casa.

– A maior contribuição deles para mim foi a educação básica, que serviu para tudo na minha vida. Embora não fossem muito ligados à tecnologia, eles me passaram os princípios, a base para que eu pudesse me aprimorar depois – conta.

O aperfeiçoamento veio na universidade. Por mais de vinte anos, o pernambucano cuidou dos laboratórios de fotojornalismo do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio. Ele consertava e limpava os equipamentos e auxiliava os alunos, atividade que considerava muito gratificante.

A história de Antônio José está intimamente ligada à universidade. Ele se casou na igreja Sagrado Coração, morou na casa X da Vila dos Diretórios (atual Xerox da Engenharia) e os dois filhos, Bianca, 32 anos, e Luciano, 28, graduaram-se na instituição. Segundo ele, essas foram apenas algumas das alegrias proporcionadas pela PUC-Rio.

– Ver meus filhos se formando foi emocionante. A universidade, para mim, não é só o lugar onde trabalho, mas parte da minha vida. É um prazer diário estar aqui, aprender e acompanhar todas as evoluções, sobretudo tecnológicas – diz.

Ele só se mostra triste ao contar sobre os anos da ditadura, época em que viu vários amigos e alunos serem perseguidos.

– Foi um período de muita repressão, principalmente para os intelectuais. Como aqui tinham vários, os alunos e professores eram alvo – lembra.

Apesar de passar mais de oito horas por dia na PUC, Antônio José também curte seus momentos de lazer. Ele adora sair, dançar forró e ir ao cinema para assistir filmes nacionais. Gosta de música erudita, clássica e MPB. É torcedor do Flamengo, porque as cores lembram as do Sport, do Recife. É fã da culinária nordestina, de churrasco e de galinha ao molho pardo. Não gosta muito de doces. O pernambucano baixo e magro mantém a boa saúde com a alimentação equilibrada e as caminhadas pelo campus depois do almoço. Sua inquietude não o deixa ficar parado.

Em seu tempo livre, também há espaço para mais trabalho. Há dez anos, ele desenvolveu uma técnica que permite restaurar fitas de vídeo antigas. Desde então, passa horas limpando-as, recuperando o acervo de várias pessoas. Não considera a tarefa um trabalho, mas um prazer. Só reclama quando percebe o pouco tempo livre que lhe sobra.

- Eu leio bem menos do que gostaria. Mas, sempre que posso, estou folheando textos, críticas, em geral, ou pesquisando na internet.

É com essa ferramenta tecnológica, também, que ele mata as saudades da família. Pelo laptop do sobrinho, Antônio José mantém contato com os parentes que só vê uma vez por ano, quando vai ao Recife.

Com tanta história para contar, ele espera trabalhar ainda por muito tempo na universidade. E os alunos também.