Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 16 de abril de 2024


Cultura

Para relembrar Augusto Boal

Luísa Sandes - Do Portal

14/10/2009

 Divulgação

Em maio deste ano, cerca de dez dias antes de falecer, aos 78 anos, devido a uma insuficiência respiratória, o diretor de teatro, dramaturgo e ensaísta Augusto Boal entregou seu livro A estética do oprimido à editora Garamond. Em parceria com a Funarte e o Ministério da Cultura, a obra, lançada em setembro no Rio de Janeiro e em São Paulo, reúne a síntese das reflexões teóricas do diretor e de sua experiência teatral. Além do lançamento, outro acontecimento relembrará a atuação de Boal. Nesta sexta-feira, 16, às 21h, haverá a apresentação teatral Coisas do gênero, na Lapa.

O espetáculo, produzido sem o uso de diálogos e com repertório musical inédito, conta a história da luta de uma mulher por espaço próprio, respeito e independência. A narrativa mostra a vida doméstica desgastante e a pressão sobre a dupla jornada de trabalho que tornam a vida da protagonista um tormento. Ao tentar sair desta situação, convida os espectadores a ajudá-la.

– O espetáculo é simples, dura cerca de 30 minutos e é interativo. Como o final depende da resposta da plateia, é sempre diferente, aberto a diversas possibilidades. Isso enriquece muito a apresentação – afirma Helen Sarapeck, coordenadora artística do Centro de Teatro do Oprimido (CTO-Rio).

A apresentação tem o elenco composto pelos curingas – especialistas na prática do Teatro do Oprimido, capazes de dirigir, produzir e atuar – do CTO-Rio, direção musical de Roni Valk e direção de cena de Helen Sarapeck. Segundo ela, o grupo sempre quis realizar esse espetáculo, mas nunca teve oportunidade. A chance de concretizar o projeto veio há cinco anos, durante uma conferência para a mulher realizada pelo governo federal.

– O espetáculo é muito bem bolado, esteticamente interessante e em linguagem não-verbal, o que possibilita ser levado para países que falem outras línguas. Já estivemos na França, na Índia e na Palestina. Foi ótimo termos escolhido este formato, pois a plateia tinha mais de 3 mil pessoas que não entenderiam nada se houvesse fala – diz.

Nas próximas semanas, de 22 de outubro a 1° de novembro, Coisas do gênero estará no Festival Mundial de Teatro-Fórum, na Áustria, com apresentações em Linz, Viena e Graz. O evento terá participação de grupos da Alemanha, Áustria, Espanha, EUA, Austrália, França, Itália, Índia, Senegal e Israel. Durante o encontro, a equipe de curingas do CTO-Rio integrará mesas de discussões temáticas, ministrará oficinas e realizará palestras sobre a instituição.

Considerado um dos maiores teatrólogos brasileiros, Boal criou, em 1986, o Teatro do Oprimido, na Lapa. O CTO-Rio alia a dramaturgia às ações socais, busca transformar a sociedade a partir do diálogo e de vias estéticas. De acordo com o diretor, o objetivo da instituição seria fazer oposição à estética dominante por meio das palavras, imagens e sons. São organizados laboratórios e seminários que realizam projetos sócio-culturais, produtos artísticos e espetáculos que estimulam a participação das camadas oprimidas da sociedade para provocar a democratização cultural e o exercício da cidadania. Além do Brasil, a instituição atua em países como Moçambique, Guiné Bissau, Angola e Senegal.

Boal considerava o teatro auxiliador das transformações coletivas e formador de lideranças nas comunidades rurais e nos subúrbios. Nomeado em março deste ano embaixador mundial do teatro pela Unesco, ramificação da Organização das Nações Unidas para educação, ciência e cultura, ele trouxe uma nova proposta para os palcos, difundida no cenário internacional. Na década de 1970, no período da ditadura militar no Brasil, Chico Buarque dedicou a música Meu Caro Amigo a Augusto Boal, que estava no exílio em Lisboa.

– Boal tinha o objetivo de mostrar para as pessoas que todos nós somos capazes de fazer filme, teatro e poesia, pois a arte é feita pelo ser humano e não pelo artista. As pessoas são oprimidas por não saberem que têm capacidade de produzir arte. Nós, enquanto indivíduos e brasileiros, estamos sendo bombardeados por uma cultura que não é nossa. Por isso, o mundo vive uma terceira guerra mundial. Foi isso que Boal pretendeu mostrar no livro A estética do oprimido – relata Helen.