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Rio de Janeiro, 16 de abril de 2024


Cultura

A relação entre música e tecnologia

Luísa Sandes - Do Portal

02/10/2009

O advento da tecnologia possibilitou novas perspectivas para o universo musical. Como consequência desta evolução, as produções técnicas, artísticas e midiáticas sofreram inúmeras transformações. Dependendo do ponto de vista, tais mudanças podem ser encaradas como positivas ou negativas. Com o objetivo de abrir espaço para esta discussão, profissionais de diferentes áreas estiveram ontem, de outubro, na PUC-Rio, para a mesa-redonda Música e Tecnologia, mediada pela professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Giovanna Dealtry.

Parte da programação do Seminário Música Popular, Literatura e Memória, o debate trouxe questões como a transformação histórica, os procedimentos técnicos, estéticos e a tecnologia à serviço da melhoria musical. Primeiro palestrante, o escritor Ruy Castro defendeu que o disco perpetua e salva a Música Popular Brasileira, pois esta surgiu em função da possibilidade de gravação de cópias de partituras. Para ele, a evolução do material gravado permitiu alteração de arranjos e milhares de formatos técnicos. Castro falou a respeito do surgimento e da história dos discos, long-plays, CDs e mp3.

- Por um lado, considero muito melhor escutar um CD com poucas músicas, pois posso ir absorvendo e me apaixonando por elas aos poucos, enquanto quem escuta um Ipod com 150 mil músicas não pode fazer o mesmo. Por outro lado, a tecnologia tem seu lado bom, o artista não se sente obrigado a fazer várias músicas de uma vez e isso aumenta sua qualidade – diz.

O produtor musical João Carlos Carino se apropriou do conceito histórico para falar sobre a origem e a evolução do rádio. No Brasil, a primeira transmissão deste meio de comunicação ocorreu em 1922. Inicialmente, apenas a elite tinha acesso a ele, porém com o tempo novas rádios apareceram e revolucionaram a sociedade. De acordo com Carino, “o mundo estava dentro da casa das pessoas”. O produtor musical também falou sobre a sofisticação da Rádio Nacional e o advento da portabilidade do rádio a pilha. Ele ainda elogiou o surgimento das rádios digitais.

- Elas são uma revolução, pois apresentam qualidade e permitem que as estações sejam segmentadas em subtemas – afirma. 

Contudo, criticou a atual situação das rádios: 

– Parlamentares, empresas poderosas e instituições religiosas são hoje os donos das rádios. Isso compromete a qualidade, a diversidade, a cultura e a educação – defende.

Nesta nova perspectiva a cerca da influencia da tecnologia sobre a música, o papel do produtor musical é fundamental. De acordo com a professora do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio Tatiana Bacal, este profissional deve conectar e mediar a relação entre músicos e estúdio de uma forma que cause transformações. A capacidade de manipular o conteúdo faz com que o produtor seja um artista que impõe seu ponto de vista sobre o resultado da música.

A mistura do maracatu com o rock, a arte do movimento tropicalista e da banda Nação Zumbi também foram assuntos tratados por Tatiana. Ela defendeu que procedimentos estéticos atuais estão agregados à uma gramática digital, o que permite que a produção musical tenha tanto características técnicas quanto artísticas.

- Estamos vivendo um período de transformação histórica na qual músicas que ainda não foram lançadas por uma banda podem ser cantadas por seus fãs. Isso ocorreu com  Los Hermanos no álbum Ventura - diz.