Política econômica, desigualdade social, questões étnicas, problemática fundiária, violência e cidadania na metrópole. Estes foram os assuntos discutidos na III Semana de Ciência Sociais, esta semana, na universidade. Com o tema Questões e Desafios do Brasil Contemporâneo, alunos e professores se reuniram para debater os assuntos em voga atualmente. O encontro foi organizado pelo Centro Acadêmico de Ciências Sociais.
No último dia de debates, na quarta-feira, 30, o professor do departamento de Sociologia Paulo Jorge Ribeiro, e a professora da rede pública de ensino e de um sistema prisional, Jane Santos, dividiram a mesa-redonda em que foi discutida a questão da violência em ambientes urbanos. Ambos deram enfoques diferentes ao tema baseados em suas experiências profissionais. Segundo Jane, a sociedade vive um momento em que muito se fala na criminalidade violenta, atos ilegais que demandam o uso da força física como coerção ou ameaça.
- Essa forma de violência se torna, efetivamente, parâmetro para a relação entre os indivíduos. Isso está acontecendo de maneira predominante nos espaços urbanos. Os atos violentos que presencio na escola em que trabalho são o espelho do que os jovens vêem fora dos muros da instituição – afirma.
De acordo com a professora, essa violência urbana é a representação coletiva das práticas que ameaçam a integridade física e a garantia do patrimônio.
- Hoje, o crime comum é o responsável pelo rompimento das relações interpessoais. Os comportamentos violentos tornaram-se o meios de obtenção dos interesses individuais. Na verdade, faltam referências sociais que possam ajudar a mudar esse quadro.
Já o professor Paulo Jorge Ribeiro acredita que os termos cidadania e violência remetem ao tema política de segurança pública cidadã, discutida atualmente no Rio de Janeiro com a implantação das unidades pacificadoras em algumas comunidades carentes da cidade.
- A grande questão é como tornar uma comunidade violenta em um lugar pacífico. Mas, para pensar a ideia de segurança pública, é preciso estudar a cidade como um todo, a partir de suas características e cultura.
Para Ribeiro, o processo de controle da violência é civilizatório, o que acaba por medir as ações do governo.
- É preciso entender que a violência está presente em toda e qualquer sociedade. Não há solução para isso. Nenhuma cidade consegue zerar esses índices. Por isso, é necessário mudar a ideia de que as favelas são o foco da desordem da cidade, enquanto, na verdade, a cidade também pode ser o causador dessa desordem.
Ainda segundo ele, é preciso tirar a responsabilidade das comunidades carentes em gerar bandidos. A desigualdade social seria uma das responsáveis por essa violência.
- A figura do ladrão remete ao homem jovem e negro. Sabemos que isso já é uma questão antiga na história do país. Para dar fim a essa situação, é preciso dar condições sociais para esses jovens. O homem precisa de trabalho ou então ele vai continuar seguindo pelo caminho mais rápido, que é o crime – afirma.
Jane concluiu sua apresentação relembrando o papel pacificador da escola.
- Trabalho em duas realidades: na cadeia e na liberdade. Aqui fora, os alunos veem a escola como uma prisão. Um lugar em que são obrigados a fazer o que não querem. A escola está perdendo o sentido civilizatório. Os estudantes estão cada vez mais violentos. É incontrolável, mesmo com todas as políticas que nós, profissionais, tomamos para evitar isso. Na cadeia, a escola tem o sentido de liberdade. Lá, os alunos dão muito mais valor ao que aprendem.
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