Publicada em: 20/10/2009 às 12:00
Cultura


Salgado Maranhão: poeta e letrista apaixonado pela vida
Yasmim Rosa

“Sou um sujeito apaixonado pela vida. Uma pessoa lúdica e profundamente curiosa.” Assim o poeta maranhense Salgado Maranhão se define. Autor de seis livros e letrista de diversas músicas, o ex-aluno da PUC-Rio se prepara para lançar mais uma obra. A Pelagem da Tígra irá compor sua poesia reunida e será apresentada ao público em outubro.

A obra começou a ser escrita em 2001, durante uma viagem à Paris. Sua publicação está sendo financiada pela Biblioteca Nacional e já foi traduzido para o inglês. Como brinde, o livro A cor da palavra será dado ao comprador da obra principal. Para o lançamento, o autor promete um evento inesquecível para chamar a atenção dos leitores brasileiros. Segundo ele, a poesia precisa voltar a ocupar um espaço de excelência no meio literário.

O gosto pela poesia e pela música apareceu ainda cedo na vida de José Salgado Santos. Nascido em 1954, na cidade de Caxias, no Maranhão, o autor conviveu com a literatura popular, com o cordel, e com os repentes durante toda sua infância. Aos 16 anos, mudou-se para Teresina, no Piauí, onde teve seu primeiro contato com os livros de Luís de Camões, Fernando Pessoa e a literatura clássica em geral.

Maranhão atribui à mãe o início de seu sucesso. Segundo ele, a mulher do povo e apaixonada pela literatura o fez o homem que é hoje.

- Eu não sou o que sou se não fosse a minha mãe. Ela imprimiu em mim o gosto pela poesia. Passei a maior parte de minha infância, o momento mais importante da minha vida, com ela. Absorvi os conhecimentos e hábitos que ainda trago comigo hoje.

O poeta vai além ao afirmar que o papel que a mulher ocupa é fundamental para o desenvolvimento social.

-Num lugar em que muitas mulheres se interessam por coisas sérias, por cultura, por excelência, significa que teremos, no futuro, homens também muito interessantes. Porque tudo começa na mulher. Ela é o ministério da educação e da cultura da família, em qualquer sociedade.

Em 1972, ele mudou-se para o Rio de Janeiro, onde, em 1976, deu início ao curso de Comunicação Social na PUC, mas não pôde concluí-lo devido ao sucesso precoce e a enorme repercussão que teve seu primeiro livro, Ebulição da Escrivatura, publicado pela editora Civilização Brasileira.

Segundo Maranhão, a Universidade teve papel fundamental em sua vida pessoal e profissional.

 - A PUC foi de suma importância na minha vida porque eu conheci pessoas que são minhas amigas até hoje. Foi a base de tudo. Meu amigo de universidade Silviano Santiago prefaciou meu primeiro livro, e hoje, 30 anos depois, está prefaciando minha poesia reunida.

Amante da filosofia e da prosa romântica de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, o poeta não tem preferência na hora de escrever.

- Eu gosto de escrever sobre tudo. A poesia é uma atividade muito disciplinar. Você pode falar sobre qualquer coisa que acontece no mundo, tudo é tema. Qualquer assunto pode dar um bom poema, só depende do poeta.

Com letras gravadas por cantores ilustres como Ivan Lins, Zizi Possi e Paulinho da Viola, Maranhão, diz não haver preferido quando o assunto é compor e escrever. O autor explica que são mundos diferentes, com características próprias.

- Entre escrever e compor eu prefiro tudo. A palavra cantada é muito deliciosa. A gente vai juntando as palavras e daqui a pouco ela ganha uma música. Aí você grava e ouve uma pessoa cantando o que você compôs. O poema do livro é minha vida, o que realmente me dá prazer. Às vezes, quando eu lanço alguma coisa nova, nem consigo dormir direito. Eu fico emocionado, tocado por ter escrito um novo livro. É como um filho. Aquilo era nada, estava no imaginário e de repente está corporificado.

Um dos assuntos mais importantes atualmente que permeia o mundo literário é a questão do pouco espaço destinando à poesia no Brasil. Para Maranhão, temas fúteis e banais estão cada vez mais em evidência.

- Produzi um manifesto com o também poeta Geraldo Carneiro questionando o fato de o Brasil estar se transformando em um país com muita futilidade e a coisas banais. Na minha época de universitário, todo mundo queria ser inteligente e a literatura estava sempre presente na vida dos estudantes. O que constrange, hoje, é ver que o Brasil ficou fútil. As pessoas só querem viver de aparência, de banalidades e de baixaria.

O autor também critica a mídia e atribui a ela parte da culpa pela perda do destaque da poesia.

 - A mídia, de um modo geral, é de qualidade muito inferior. Nós queremos realçar e dizer que o Brasil não é só baixaria como os canais de televisão mostram. Aqui também tem gente falando coisas que merecem ser levadas a sério. Em todas as épocas a poesia foi coadjuvante nas transformações, nos debates sérios, nos debates transformadores. A razão do nosso manifesto é chamar o poeta novamente para essa discussão. A poesia está sim um pouco desprestigiada, mas ela precisa reconquistar seu espaço.

José Salgado Santos é autor dos livros Ebulições da Escrivatura (1978), Punhos da Serpente (1989), Palávora (1995), O beijo da fera (1996), Mural de Ventos (1998), Sol sangüíneo (2002) e o Solo de gaveta (2005), um livreto com poemas inéditos acompanhado pelo CD Amorágio, onde foram gravadas várias composições inéditas e algumas de suas músicas mais conhecidas com diversas participações especiais, como Zeca Baleiro, Alcione e Ivan Lins.


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