Diante das crescentes transformações no modo de se fazer e consumir jornalismo, as professoras Carla Rodrigues e Adriana Braga organizaram, nesta terça-feira, das 9h às 13h, um ciclo de debates sobre Jornalismo em ambiente digital. Professores e profissionais do mercado discutiram desafios e perspectivas da informação na era digital. A primeira mesa-redonda decorreu da organização do livro Jornalismo on-line – Modos de fazer, da Editora PUC-Rio em parceria com a Editora Sulina. Organizado por Carla, a publicação reúne artigos dos participantes do debate e será lançada no próximo mês.
Estudos de 2008 apresentados pela professora Suzana Barbosa, da UFF, comprovam que, para as empresas, a convergência de meios será a "norma" nos próximos cinco anos. Ela considera que os sites dos veículos de comunicação já supõem a distribuição do seu conteúdo em diversas plataformas, como celular, twitter, newsletters via e-mail. De acordo com Suzana, todas as grandes organizações abrem cada vez mais canais de contato com o público:
– Apenas o site já não basta. O jornalista não é mais contratado para trabalhar em um meio de comunicação, mas em um grupo empresarial. Por isso, saber lidar com texto, áudio, vídeo é mandatório.
O professor da PUC-Rio Marcelo Kischinhevsky lembra que “multifunções” não trazem necessariamente “multissalários”. Ele destaca que o mercado jornalístico está precário: jornadas extenuantes sem compensação, por exemplo, são recorrentes. Segundo ele, é muito difícil trabalhar em redação atualmente: “não é raro que os profissionais tenham esgotamento físico, stress, gastrites”. O alto índice de demissões também é destacado pelo professor:
– A integração, entre 2004 e 2007, das redações do Jornal do Brasil, da Gazeta Mercantil e da revista Forbes Brasil, por exemplo, culminou na demissão de 70% dos empregados.
Marcelo discutiu o resultado de pesquisa recente feita com repórteres e editores de jornais e emissoras de TV nos EUA: 38% deles admitem que, com uma só pessoa produzindo vários conteúdos para diferentes plataformas, o nível do jornalismo caiu.
– Resta saber se a população é mesmo beneficiada pela convergência tal como ela tem sido feita, e se não existem outros caminhos possíveis e melhores – pondera.
Para Carla Rodrigues, a web transforma a maneira de o jornalista se relacionar com a informação e com as fontes:
– As cartas dos leitores, por exemplo, tratam de assuntos que aparecem no jornal no mesmo dia em que são publicadas, pois o leitor já teve contato com a notícia na véspera, por outros meios.
Segundo a professora, quando o leitor pode ir direto à fonte, o jornalista perde o seu papel de mediador. Carla identifica três problemas decorrentes desse esvaziamento: “o jornalista é um profissional que está onde o público não pode estar; o leitor não é imparcial; e são os jornalistas que filtram tudo o que é produzido pelos leitores”.
– O jornalismo não pode ser reduzido à técnica, como o mercado parece querer – afirma.
Vinícius Pereira, professor da UERJ e da ESPM, cita Henry Jenkins, autor de A cultura da convergência, para explicar as mudanças que a era digital provoca:
– A convergência não se dá na integração de várias mídias num só aparelho, mas na cabeça das pessoas, que já pensam de forma convergente – afirma – As empresas de jornalismo devem experimentar novas linguagens e a internet é um espaço privilegiado para isso.
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