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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cultura

O som da simplicidade

Felipe Machado - Do Portal

06/12/2007

Vencedor de dois Oscar com apenas seis longas-metragens no currículo, o compositor argentino Gustavo Santaolalla chama a atenção de músicos e diretores no cenário internacional. Com seu estilo de compor, foge dos padrões, opta pela simplicidade e valoriza o silêncio. Para ele, esse é seu diferencial e o Oscar que ganhou por “O Segredo de Brokeback Mountain” mostra o reconhecimento para o fato de que não é necessário haver uma orquestra para se fazer uma boa trilha. Ele mesmo não gosta de filmes com muita música, que tanto pode ser ignorada como exagerar a dramaticidade de uma cena e, por conseqüência, esmaecer o efeito dramático.
- A música para cinema pode ter um impacto maior ou apenas ser superficial. Ela tem um papel muito grande por ser um dos elementos que vai mexer com a emoção – disse Santaolalla, para quem os ruídos nos filmes têm grande importância na composição por darem volume à música.
Apesar do sucesso, Santaolalla não se considera parte de Hollywood. Sua entrada no meio cinematográfico aconteceu por acaso. Seu amigo Alejandro González Iñárritu chamou-o para fazer “Amores Brutos”, gostou do resultado, e quis repetir a dose em “21 Gramas”. Iñárritu apresentou-o a um amigo, Walter Salles, na época dirigindo “Diários de Motocicleta”. O compositor argentino conta que ficou especialmente entusiasmado com o longa de Salles.
Como costuma compor antes de assistir ao filme, ele diz que, ao saber que “Diários” tratava de uma viagem de dois jovens em uma moto pela América Latina, o enredo o remeteu à banda em que tocava quando jovem, a Arco-Íris, uma mistura de rock com folclore latino-americano. Foi nessa fase de sua própria carreira que ele se inspirou para elaborar os temas.
Antes de fazer a trilha musical de “Amores Brutos”, o diretor Michael Mann chamou Santaolalla em seu escritório quando finalizava “O Informante” e mostrou uma seqüência do filme montada com uma música de seu CD, Ronroco. O compositor gostou e aprovou. Ele entrou na produção de “Brokeback” depois de ser apresentado ao diretor Ang Lee por uma amiga comum. E compôs a trilha musical do filme apenas a partir de um único encontro com o diretor e da leitura do roteiro.
O Oscar por "Babel" teve, segundo ele, um gostinho especial, por tratar-se de um filme dirigido por um diretor latino-americano.
- A intenção em Babel era achar um som que ligasse todas as culturas, já que o filme mostra culturas diferentes. Para isso, foram usados, por exemplo, instrumentos árabe e japonês – conta.
Segundo Santaolalla, o cinema da América Latina passa por um momento muito importante, com grande crescimento e a conseqüente criação de verdadeiros “popstars”, como Gael Garcia Bernal, Alejandro Gonzáles Iñárritu, Walter Salles e Fernando Meirelles.
Ele afirma que os países latino-americanos sempre absorveram a cultura dos países desenvolvidos, mas hoje sentem que está na hora de acreditar mais em si, olhar mais para sua própria cultura. Na Argentina, segundo ele, as últimas gerações têm se preocupado mais em se ligar e ter contato com vários países no mundo. “América não é um país, mas sim um continente”, disse o músico, que foi calorosamente aplaudido pelo público.
- Estamos vivendo um momento histórico na cultura latino-americana, de renascimento total. Tem a ver, por um lado, com a demografia, a geografia e a cultura, mas também com o desgaste no primeiro mundo. Estamos necessitados de uma nova visão a respeito de muitos aspectos, da cinematografia à direção, exibição e música. Acho que é uma combinação de tudo isso – concluiu Santaolalla.